Esse é o tipo de episódio escrito certo por linhas tortas, mas pouco tortas já que a qualidade típica do anime se manteve em quase todos os aspectos e o que tivemos foi uma simples e bela forma de resolver um problema esperado, a perda de motivação da heroína. Depois de um episódio desses eu que não perco a motivação de cobrir esse anime hahaha. Vamos ao texto!

As lesões da Teiou e da McQueen ocorreram na mesma corrida, mas carregavam gravidades diferentes. O importante é que, ainda que as lesões tenham vindo para dar vazão ao que se queria trabalhar no roteiro, não importa, é um recurso narrativo completamente válido, ainda mais quando reitera ou expande ideias. A Teiou precisava de um tempo para pensar, para se situar em um novo cenário na sua vida como corredora.

O questionamento da razão para correr da Teiou ocorreria mais cedo ou mais tarde e fazia mais sentido que isso ocorresse já logo após a corrida, pois é o período em que essa situação ainda é algo novo para ela, além de ser o mais propício para mostrar como poderia atrapalhar o desempenho da garota, algo que precisava ser visto pelo público e era normal que acontecesse.

Nesse meio tempo a Palmer teve seu momentinho de brilho e apesar de ter achado boba a rivalidade entre ela e a Helios, não tem como achar ruim os holofotes dados a ela. O mesmo vale para a Rice Shower, a stalker da Bourbon que, diferente do que eu imaginava, direciona a garota rispidez ao invés de admiração. Pensando bem, isso justifica a reação sóbria da Bourbon as investidas anteriores da moça, ela sabia quem era.

A Bourbon conhece a Shower, mas não entendi se ela é alguém que o mestre da Bourbon enviou como “teste” ou só tem uma relação prévia com aquela que quase alcançou os objetivos da Teiou e acho que se não tivesse ficado no quase seria pior, a sensação de fracasso da Teiou a machucaria mais. Por outro lado, tratando objetivamente da derrota da Bourbon, ela pareceu conveniente sim, mas talvez nem tenha sido.

É que a Shower ficou seguindo os passos da Bourbon por um tempão, tentando até mesmo confrontá-la na corrida, então é razoável imaginar que tenha se preparado especificamente para vencer e impor a Bourbon dificuldades em sua jornada, dificuldades essas que ensinaram algo precioso a Teiou, que dá para ganhar algo com a derrota, mesmo com uma derrota acachapante, mas isso ela precisava sentir na pele.

Isso e o que fala a treinadora do time que era o grande rival do Spica na primeira temporada, e do qual esqueci o nome, acaba se conectando no ponto em que fracassar nos faz rever nossos objetivos, readequá-los, redefini-los. Assim, mesmo na lama podemos tirar alguma lição. Nada exatamente complexo, mas simples, como foi o descontentamento pela derrota, o qual mostrou que ainda havia uma chama acessa na Teiou.

E a Teiou sentiu isso, e com isso a inquietude veio, a sensação de que ela poderia e deveria fazer algo para mudar, ainda que não soubesse bem o que. E isso é normal, é algo que leva tempo, experiências, diálogos, o entendimento do que motiva aos outros e a tentativa de encontrar nesses relatos, mas também nas próprias vivências, algo que motive, que faça a Teiou voltar a ser competitiva, tudo que não foi em sua última derrota.

Enfim, a nova posição dada a heroína caiu como uma luva nesse sentido, pois com ela a garota foi capaz de ver todo o entorno com mais clareza, todo o trabalho de bastidor que dá suporte a uma garota-cavalo em seu sonho de correr e vencer nas pistas, quer sua motivação seja grandiosa ou mais modesta. Há mais no ato de correr para a Teiou que apenas os objetivos que ela definiu para si e, infelizmente, não conseguiu cumprir.

Era isso que ela precisava descobrir e acho que, mesmo que indiretamente, os extremos e o equilíbrio nas relações de rivalidade expostas nesse episódio foram ótimos para contrastar e destacar justamente isso, que enquanto a relação da Palmer com a Helios não pareceu exatamente uma rivalidade (a Helios sacou o tapete para a Palmer passar), a da Vodka com a Scarlet já soou exagerada, enquanto a da Teiou com a McQueen não.

As protagonistas dessa temporada têm uma relação de amizade/rivalidade mais equilibrada, tanto é que ao mesmo tempo em que uma não bate palmas para a outra passar, a outra não corre apenas para derrotar a rival, mas também por isso e não é nada estranho que assim o seja. O ponto levantado pela McQueen foi sensacional e nos fez entender porque ela tomou seu tempo para treinar, acreditando que a Teiou se “recuperaria”.

A McQueen deu uma demonstração clara de como dar formas diferentes aos seus sonhos, se não por falta de opções como no caso da Teiou, pela paixão pela corrida e por novos desafios, para conseguir se olhar no espelho tendo a consciência de que fez seu melhor contra quem mais queria derrotar. É ainda mais legal porque isso não vai exatamente contra o que sua avó havia a dito, foi apenas a forma dela de interpretar.

Por fim, não tem mesmo com a Teiou não acordar para o mundão de possibilidades que a cercam ainda que ela não possa mais fazer igual a quem tanto idolatra. Porque a Teiou é a Teiou e essa é a história dela, não da Symboli Rudolf, então por mais que seja duro, que parta o coração, ela precisa definir novos objetivos em sua trajetória para dar vazão ao incômodo que ainda sente ao perder, ao não ser a número um.

Foi um ótimo episódio, ainda que tenha achado boba a forma como a rivalidade da Palmer e da Helios foi exposta durante a corrida. Tirando isso, curti demais toda a construção e resolução do problema da Teiou baseado na sua própria vivência, era a melhor forma de fazer com que ela se reerguesse, dando tempo ao tempo e contando, é claro, com a ajuda daqueles ao seu redor, mas também com a parte que lhe cabia.

E a Teiou correspondeu, ela demonstrou que ainda quer seguir correndo mesmo que não seja capaz de repetir os feitos de seu maior exemplo. Nada fora do esperado, mas é importante frisar a forma como tudo foi feito, com consistência e qualidade como é de praxe nesse anime. Uma Musume 2 continua muito bom e mal posso esperar pelas novas corridas e metas que a Teiou, a McQueen e as outras garotas vão nos mostrar.

Até a próxima!

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