KimiUso finalmente voltou depois de duas semanas de férias. O outro grande dia é a apresentação do Kousei e da Kaori, que chega no final desse episódio. O episódio mostra um pouco das manias dos personagens secundários, para lembrar que eles existem, e até dá tempo de tela e falas para uma figurante, mas o foco do episódio mesmo é como o Kousei está reagindo e como e se ele está crescendo.
Nesse episódio KimiUso tratou de várias coisas sem ficar parecendo uma bagunça. Ponto positivo. As principais dessas tramas independentes se encontraram no final do episódio. Outro ponto positivo. De negativo, achei a inserção de um novo personagem (e um personagem importante) bastante forçada. No geral foi um episódio bom, nada espetacular mas bom.
Kousei tocou nesse episódio, finalmente. Não tocou bem, isso não era o esperado mesmo, e seria uma história muito idiota se ele de repente tivesse tocado bem. Ele teve os mesmos problemas que vinha tendo, não conseguia ouvir suas notas e tudo o mais, chegou a parar no meio da apresentação (o que significa que ele foi desclassificado, certo?), seus adversários ficaram frustrados, a plateia ficou confusa, um jurado com cara de velhaco ficou irritado, tudo nos conformes. Eu não diria que até aí vinha sendo um episódio bom, porque mesmo tocando mal eu preferia ter visto e ouvido mais do próprio Kousei o que ele estava sentindo e passando naquele momento, mas tive que ouvir as palavras e pensamentos altos de um monte de outros personagens que ou eram apenas bobagens ou reafirmavam o que eu já sabia. Não que o Kousei tivesse muito a acrescentar, mas aquele era o momento dele, eu ficaria satisfeito em pelo menos ter sentido melhor o que ele estava passando. Aí ele passou a tocar bem e tudo desandou.
Eu achei que esse episódio fosse focar na performance ao piano de Kousei, mas que nada. Ele até começa a tocar, mas o episódio é todo entrecortado por flashbacks de quando ele era uma criança maltratada pela mãe. Se o anime ainda oferecesse uma crítica contundente aos maus-tratos contra crianças, vá lá, mas nós sabemos que ele está fazendo isso só para aumentar os pontos de drama. E o pior é que quase nada é novidade. Na verdade, há apenas uma novidade, que reconheço, adiciona um pouco de profundidade ao personagem do Kousei, mas não era necessário um episódio inteiro para isso.
Ontem eu estava tentado a escrever esse artigo de KimiUso espalhando alguns trocadilhos e piadas referenciando Chaves, e essa foi uma das razões que me levaram a escrever um artigo só sobre a morte de Bolaños. Agora me sinto aliviado dessa compulsão e posso me concentrar honestamente no anime de Kousei. Veja bem, esse episódio é legal (episódios com música sempre são legais, como eu disse no artigo sobre o episódio 7), mas ele é bem direto, pouco surpreendente, e avança muito pouco o enredo, servindo apenas para caracterizar os dois pianistas que apareceram no episódio passado e que vão antagonizar Kousei, pelo menos nessa competição. É sempre mais difícil escrever quando não há muito sobre o que escrever. Prometo me esforçar.
KimiUso realmente só me agrada quando o episódio tem música. Nos demais, no máximo ele não me incomoda, mas um bom punhado de episódios já me incomodaram um bocado. E eu simplesmente gosto de boa música em animes, então o que quero dizer é que não posso garantir, do fundo do meu coração, que mesmo os episódios com música, que eu gostei, são bons de verdade. É uma coisa que eu gosto e ponto, nunca falha e nunca falhou em me agradar. Influencia muito as séries que eu escolho para assistir – se o trailer tem uma música que me encante, é quase garantia que eu vou assistir mesmo se o tema for, sei lá, dominó metafísico no parque com um cachorro e uma penteadeira. Ou pior, Muv-Luv Alternative: Total Eclipse. É, eu assisti aquilo. Mas não me olhe assim, pelo menos eu não terminei! Devem ter sobrado uns três ou quatro episódios quando eu simplesmente não aguentei mais continuar assistindo. Também digno de menção é que a teoria do mundo de KimiUso ser só uma grande metáfora encontra eco no que outros blogs e comentaristas (todos em inglês que eu tenha visto) vêm dizendo. Quero dizer, não exatamente da maneira como eu formulei, mas são comuns teorias que recusam o realismo do anime e ao invés o interpretam de alguma forma simbólica. Um exemplo notável é o Mage in a Barrel, que como eu escreve semanalmente sobre Shigatsu wa Kimi no Uso, que escreveu um artigo enorme apenas sobre isso chamado “Is it Okay to Like Your Lie in April?“, e a interrogação é porque ele, assim como eu e assim como todos que vi fazerem isso, criou uma hipótese anti-realista para diminuir o peso negativo da forma como KimiUso vem tratando o abuso e o maltrato infantil. É razoável, é justo e é bom que procuremos fazer isso, porque mostra que, no mínimo, entendemos que a abordagem do anime para esse tema é errada, mas como eu disse no artigo sobre o episódio anterior, isso é um mecanismo de auto-defesa, e mesmo que o autor original tenha se entregado a ele também, no fim das contas como cada leitor absorve uma história depende de si próprio, e não são poucos que vão enxergar a mensagem ruim, que está ali, gritando. Um erro é um erro, mesmo quando não é intencional e mesmo que se possa racionalmente enxergá-lo de outra forma na qual ele pareça menos errado. E ufa! Esse deve ter sido meu maior primeiro parágrafo da história do anime21 até agora! Permita-me então começar a falar sobre a história desse episódio de uma vez.
Esse episódio é dividido em duas partes: a primeira é constrangedora, com Kousei sendo maltratado impiedosamente como se isso fosse algo normal ou aceitável. A segunda é o estabelecimento de um triângulo amoroso adolescente incrivelmente dramático. Também existem duas formas de interpretar Shigatsu wa Kimi no Uso: a primeira é que se trata de uma história sobre um grupo de personagens adolescentes e seus relacionamentos. A segunda é que se trata de uma história unicamente sobre Kousei, sendo todo o resto, inclusive os demais personagens, metáforas para a vida, como ela nos trata e o que podemos fazer para lidar com ela – meu artigo sobre o episódio anterior é notável por adotar essa abordagem. Mas no final o significado e a interpretação está na cabeça de cada espectador. Através desse artigo, pretendo apenas tentar expôr a minha interpretação, que pode não ser a mesma que a sua. Isso para não entrar no mérito das perdas e ruídos durante a comunicação que podem fazer com que eu tente dizer uma coisa e cada pessoa que ler entender outra. Como esse é um anime cheio de simbolismos, eu também escolhi um símbolo para ilustrar esse episódio: a encruzilhada. Acho que tem muito a ver tanto com esse episódio quanto com essa questão das possíveis interpretações que eu levantei.
Não aconteceu nada de especial nesse episódio nem nada relevante foi revelado. Um típico episódio de ligação. A série no MyAnimeList está listada com 22 episódios, se for mesmo ter tudo isso compreendo a falta de pressa dos produtores desse anime. Ainda assim, episódio lento e sem nada é um episódio lento e sem nada. Não deram nem um tratamento decente ao desmaio da Kaori. Ela foi para o hospital, para os amigos nega ter um problema de saúde mais grave (diz apenas que “sempre foi meio anêmica”) e nega que já tenha desmaiado antes: Kousei fez a pergunta que precisava ser feita. Há também uma cena dela no hospital onde fica claro que o problema é mais grave do que ela deixa transparecer, mas é só isso. Ela sai do hospital em seguida e já está tentando Kousei novamente como se nada tivesse acontecido. Assim realmente fica parecendo que ela e sua doença são apenas ferramentas de enredo para tirar o protagonista da inércia em que se encontra, e que ela será descartada quando não for mais necessária, de resto gerando efeito dramático.
Ela morreu? Ela morreu, não morreu? Ou está sofrendo de uma doença grave que, se não for suficiente para matá-la em breve, vai impedi-la de tocar, algo parecido à mãe de Kousei, não é? Estou ansioso para descobrir mas não me conte! Não vou procurar spoiler ou o mangá também, vou diligentemente aguardar o próximo episódio. E se tenho algo para dizer a respeito, é que uma história tão conveniente assim não é nada além de brega e apelativa. Mas as sessões de música desse e do segundo episódios me conquistaram, não tem jeito. Nem gosto muito dos personagens, mas me divirto com as emoções em estado puro que Shigatsu consegue transmitir. Esse episódio lança um pouco mais de luz na relação entre Kousei e sua mãe, e abre espaço para muitas especulações, só não mais do que as especulações sobre a Kaori. Mas quero começar esse artigo tratando do elefante na loja de cristais.
Nesse terceiro episódio o drama de Kaori começa a aparecer. Ainda não contam nada, mas ela diz com todas as letras estar em um momento em que está quase “perdendo o coração” enquanto chora copiosamente quase ao final do episódio, que começou no ponto onde pararam o episódio anterior e terminou com os quatro garotos se dirigindo para mais uma apresentação. A novidade é que dessa vez Kousei irá se apresentar junto com Kaori, como seu acompanhante. Bom, vou resumir rapidamente os fatos desse episódio e depois dizer o que estou imaginando que essa série irá entregar.