[sc:review nota=4]

Dungeon é um harém e não esconde isso. Mas até agora pelo menos não deixou isso afetar o andamento de sua história. Os clichês de haréns aparecem com frequência, as vezes em momentos constrangedores, mas até agora o enredo de Dungeon independe disso. E a grande quantidade de garotas que o protagonista conhece ainda é usada em benefício do desenvolvimento rápido da história, como nesse episódio onde o furto da faca do Bell foi resolvido rapidamente graças à sua rede de haremetes dispersa pela cidade.

Liliruca, a suporte. Quado a vi no episódio anterior poderia jurar ser um garoto. Mas que nada, era mais uma garota. Uma com orelhas de bichinho (é uma metamorfa) e da família Soma, que aparentemente passa por dificuldades e precisa de dinheiro pra ontem. Seus aventureiros estão desesperados, e Liliruca em particular está lançando mão de furtos, aproveitando sua posição de suporte. Aliás, vou fazer um comentário sobre profissões nesse mundo daqui à pouco. Enfim, provavelmente porque roubou seu antigo contratante, que foi retratado no episódio anterior como uma pessoa desagradável, Liliruca está fugindo dele pelas ruas da cidade. Ele está tentando matá-la mesmo, até onde me pareceu, e para sorte da menina bichinho ela trombou com o infinitamente bondoso Bell pelo caminho. As coisas poderiam ter ficado ruins a partir daí porque o sujeito não pretendia deixá-la escapar por mais que Bell pedisse, mas as garotas da taverna Ryuu e Syr estão por perto. E Ryuu ameaçou o rapaz tão bem ameaçado que até eu aqui fiquei com medo. Tudo resolvido, foco na boca da Liliruca e ela dá um sorriso maligno. Opa, Bell, você tá ferrado.

A garota com quem Bell agenda coisas ou troca dinheiro ou coisas do tipo relacionadas a vida de aventureiro se chama Eina e é oficialmente uma conselheira de aventureiros, e é ela quem está encarregada do Bell (conselheiros de aventureiros! ai, as profissões desse anime…). Desde o primeiro episódio ela dava sinais de nutrir um carinho um pouco maior que a distância profissional recomendaria com relação ao protagonista, mas nesse episódio foi só ela descobrir o quanto ele havia evoluído para convidá-lo para sair no dia seguinte. Haréns! Mas há, supostamente, uma boa explicação, ou quase boa: ele está subindo de nível muito rápido e seu equipamento não acompanha. Também por estar subindo de nível rápido e por uma série de outras razões (como ser o único membro de uma família, por exemplo) conhecer pouco da profissão de aventureiro, ele tem pouca noção sobre o que fazer a respeito. Deixado à própria sorte ele provavelmente ficaria com o equipamento atual até ele espatifar em combate, o que se não necessariamente o colocaria em risco de vida (Eina estava preocupada com isso) no mínimo iria atrasar seu desenvolvimento já que ele estaria sempre um pouco pior do que seu real potencial. Por tudo isso, Eina leva Bell para fazer compras!

Eina é experiente com essas coisas, afinal ela pode não ser uma aventureira mas é uma conselheira de aventureiros. Tipo, ela é o cara que escreve detonados pros outros jogarem, saca? Equipamentos da família Hefesto são caros? São mesmo, mas tem aqueles feitos pelos novatos que são melhores que um equipamento normal de mesmo nível e preço que são muito em conta. Afinal, podem ser feitos por novatos, mas ainda assim são novatos aprendendo a fazer equipamentos com uma guilda de ferreiros que aprendeu tudo o que sabe com ninguém menos que a ferreira dos deuses gregos! Claro que antes de encontrar sua nova armadura Bell e Eina trombaram por acaso com Héstia, que está trabalhando ali para pagar sua dívida, e que isso gerou mais uma cena de ciúmes típica de haréns, hehe.

Aventureiros, suportes, conselheiros. Isso parece muito com um jogo, não é? Com certeza é proposital. Ainda assim não é igual a nenhum RPG eletrônico (online ou não) que eu conheça. E faz sentido. Em jogos de verdade tudo mundo quer ser herói, então quem iria querer ser um suporte na forma como ele é retratado em Dungeon? Em jogos de verdade, os suportes são healers, buffers e personagens do tipo que participam ativamente das batalhas também, e podem lutar sozinhos se quiserem, enquanto em Dungeon eles se parecem mais com burros de carga e com guias. Quem iria querer jogar de burro de carga? Se estiver fazendo um jogo, esqueça essa classe. Mas se estiver escrevendo uma história essa pode ser uma profissão muito interessante para um personagem que não lute mas acompanhe o protagonista no campo de batalha. O mesmo se pode dizer dos conselheiros: em um jogo eles seriam NPCs que passam as missões e coisas do tipo, mas qual a profundidade de personagem de um NPC típico? Se estiver escrevendo uma história, você precisa fazer algo um pouco melhor.

Esse episódio, no fundo, serviu apenas para apresentar a personagem Liliruca. Ela roubou do Bell sua preciosa faca mas quando tentou vender, não valia nada. A faca dele é realmente especial e apenas quando ele a usa é que ela se ativa, no resto do tempo é só uma faca de pão sem fio. E mais uma vez ter um harém numeroso foi útil: frustrada por não conseguir vender a faca que nas mãos do Bell foi tão impressionante, Liliruca vaga por aí e Ryuu e Syr cruzam em seu caminho – e Ryuu percebeu a faca na mão da baixinha. Bell chegaria logo em seguida desesperado procurando pela faca que ele acreditava ter perdido, e algo no olhar (e nas orelhinhas) de Liliruca fez com que as garotas da taverna devolvessem a faca mas não a denunciassem. Bell nem por um segundo pensou em duvidar dela e a convidou para ir com ele para a Dungeon de novo no dia seguinte, onde conseguiram uma pequena fortuna e ele dividiu igualmente com ela, embora só ele tenha lutado. A menina bichinho está encantada com o Bell e aparentemente já se redimiu de seus erros sem que o Bell jamais precisasse ter descoberto o lado negro dela – a pureza do protagonista segue preservada. E teve tempo para a Héstia vê-los na rua e ficar com ciúmes de novo! Eles estavam de mãos dadas, acho que agora o ciúme é mais sério, hein? Pobre Héstia, o coração dela explode qualquer dia desses.

Dungeon é uma história profundamente dependente de seus personagens. Sua história é simples e não há ainda uma trama maior ligando tudo. Mas seus personagens são simplesmente adoráveis, começando pelo par de protagonistas, Bell e Héstia. Quase todos os demais personagens são haremetes do Bell, mas nenhuma delas segue um estereótipo de personagem especialmente irritante, não interferem quando não é a vez delas na história e ainda ajudam apenas por estarem ali. Para não dizer que não há enredo, nesse episódio descobrimos que a tal família Soma está passando por algum tipo de necessidade financeira urgente. Soma é uma divindade védica lunar altamente ligada a uma bebida supostamente energética de mesmo nome. Assim já temos dois deuses gregos (Héstia e Hefesto), dois nórdicos (Lóki e Freia), dois védicos (Ganesha e Soma), um celta (Miach, aquele que deu as poções pro Bell) e um xinto (Takemikazuchi). Só entre os já identificados, claro. Para o próximo episódio Freia já está planejando bagunçar o coreto de novo. E com um livro chamado “The modern magic even the goblin know”, ou, traduzindo do engrish pro português, algo como “Magia moderna que até os goblins sabem”. “Que até os goblins sabem” deve ser o equivalente em Orario da coleção de livros amarelos “for dummies” (“para leigos”) que temos em nossas livrarias.

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