Shimoneta – ep 2 – Todos em suas posições
[sc:review nota=4]
O primeiro episódio foi bastante movimentado e esse segundo não se deixou ficar para trás! Será que o ritmo quase frenético de Shimoneta vai se manter durante o anime inteiro?
Não que isso seja tão importante assim, pelo menos não vejo isso como algo fundamental a essa altura. O interessante é que tem sido assim até agora mesmo sendo episódios de construção do cenário e apresentação dos personagens! No primeiro episódio haviam já apresentado os personagens do conselho estudantil, mas apenas a vice-presidente Ayame havia revelado sua motivação: seu pai havia sido um político contrário às leis tirânicas de regras morais. Mas ela não está se vingando nem nada disso: ela apenas gosta demais de piadas sujas! Agora os outros três personagens, protagonista incluso, foram devidamente apresentados.
Pensando bem, eu tenho a impressão que já havia sido citado que o Tanukichi é filho de um humorista no primeiro episódio, não foi? Ah, não importa. Digo, você não se importa que eu tenha esquecido um detalhe pequeno desses, não é? De todo modo o assunto é retomado nesse episódio então mesmo que já tenha sido dito antes basta que façamos de conta que foi a primeira vez! Então ficamos assim: nesse episódio pela primeira vez em toda a história da humanidade, quiçá do universo,. algo que nunca antes havia acontecido, especialmente algo que com certeza não aconteceu no primeiro episódio, finalmente aconteceu: revelou-se que o pai do Tanukichi era um humorista boca suja! Como tal, ele não estava feliz com as leis de bons costumes e tentou invadir uma sessão parlamentar quando leis ainda mais restritivas estavam sendo votadas. Ele derrubou alguns guardas (e eu o admiro por isso) e antes de ser completamente imobilizado jogou dezenas de camisinhas para todos os lados (e eu o admiro ainda mais por isso). Seu filho e protagonista desse anime passou uma infância de ostracismo por causa da má fama resultante disso.
Provavelmente o Tanukichi, sendo filho de alguém ligado a um ramo da grande indústria do entretenimento, não é protagonista à toa. Ele se envergonha de seu pai e de suas posições, e está feliz em se entregar para essa sociedade louca. O quanto ele foi cegado por essa ideologia, o quanto ele está apenas fugindo do fardo que é ser filho de seu pai, e o quanto ele está apenas seguindo uma figura que ele admira (a Anna)? O fato é que se justamente ele que representa o entretenimento (e de forma mais ampla, toda a comunicação e a própria liberdade de expressão) se entregar estará tudo acabado. Se as vozes privilegiadas da sociedade aceitam se calar de bom grado não haverá mais quem denuncie o absurdo e a injustiça. Adesismo deve ser a maior imoralidade que um comunicador pode cometer, renunciando ao seu papel e traindo aqueles que confiam nele em troca de aceitação ou favores do status quo.
O Goriki é o personagem mais simples: uma pessoa comum que não apenas foi convencida pelo discurso oficial como se tornou um executor ativo da nova ordem que ela apregoa, ainda que não ganhe nada por isso. Ele é militante, é truculento, não sabe o que está defendendo mas defenderá até o fim. Mesmo diante de contradições ele escolhe o caminho que favorece sua causa porque internizou em si a noção de que tal causa é absoluta e é o caminho para o bem maior ou o próprio bem maior. A defesa da moral, ainda que ele não saiba nada sobre aquilo que combate, é seu imperativo categórico kantiano.
Desde o primeiro episódio que eu havia olhado para a Anna e pensado: ela é tão branca e tão clara para representar a pureza, que seria o objetivo final das leis em defesa da moral. Se quer saber como serão as pessoas quando não houver mais nenhuma resistência a essa tirania, olhe para a Anna. O que parece pureza na verdade é apenas pura ignorância, como a cena da mulher com cogumelo demonstrou. Tampouco ela é inofensiva: viu a facilidade com a qual puxava Tanukichi pela corda? Ou como ela correu implacável pela escola, saltando escadarias e arrombando portas? E claro que até mesmo ela é no fundo apenas um fantoche. Ela é a forma final do que aqueles responsáveis por essas leis planejam, mas é lógico que eles não querem apenas criar um povo de ignorantes super-fortes … ou será que querem? Como prova final de quão vis eles podem ser, Anna é filha de uma importante política defensora dessas leis e que pressiona pela aprovação de leis ainda mais severas – eles não sentem remorso nem em usar seus próprios filhos.
Ayame, como já disse, é filha de um ex-político que tentou resistir. Ela é a voz dissidente da política contra o abuso. Vem se esforçando sozinha mas precisa de ajuda, precisa de espaço nos meios de comunicação, e é aí que o Tanukichi entra. Hyouka é a cientista tentando por seus próprios meios descobrir a verdade, e para aumentar a diversão parece que uma artista (com um sorriso particularmente perverso) acaba de descobrir o pequeno segredo de Tanukichi.
Até agora todos os personagens se encaixaram tão facilmente em suas posições nesse mini-mosaico de elementos relevantes da sociedade que arrisco dizer que é proposital. Não sei, mas até agora estou me divertindo. Quero dizer, eu falei um monte e acho isso tudo que eu disse importante, mas além de tudo é engraçado pra caramba, não é? Você não precisa pensar em tudo isso para se divertir, mas está tudo lá mesmo assim! Eu próprio nem tinha pensado tudo isso enquanto assistia o episódio, metade disso tudo eu só pensei enquanto escrevia! Mas acho que preciso ser um pouco mais cuidadoso, não é? Quem pensa pouco corre risco de ficar como o Goriki.