Eu gostei desse episódio. Gostei de verdade. Acho que a essa altura é fácil gostar de quase qualquer coisa em Bahamut. O anime fez um trabalho muito bom de construção de mundo e principalmente no desenvolvimento de um grande número de personagens que de uma forma ou de outra eu gosto ou respeito.

Então eu gostei desse episódio. Finalmente reuniu todo mundo, toda a “facção Anti-Charioce”, ainda que obviamente por pouco tempo. Teve ação, teve reviravolta. Mas quando o calor da emoção abaixou, algumas horas depois de assistir o episódio, percebi que ele tinha me frustrado.

Nina ficou furiosa, e sua fúria a transformou

A primeira frustração foi com a luta entre a Nina e o matador de dragões, que se revelou ele próprio um dragão. Essa parte eu achei super legal! E dá-lhe construção de mundo: a vila da Nina não é a única do povo-dragão, e não necessariamente outras tribos vivem em paz com seres humanos. Esse que aceitou o trabalho sujo de matar a Nina certamente não vive. O sentimento dele é paradoxal, porque ele odeia humanos e acha que a vila da Nina é uma vila de traidores que se venderam para os humanos. E ele se vendeu para os humanos para ter a chance de matar a protagonista. Não peçam lógica, isso é apenas ódio, e é assim mesmo que funciona. Até aqui tudo ia bem.

A luta poderia ter sido melhor, mas foi divertida

A luta foi legal também, embora não tão legal quanto eu esperaria de uma luta entre dragões. Ok, a Nina é muito menor e estava psicologicamente abalada, mas vá lá. Ou não? Quero dizer, na verdade me incomodou que ela tenha se transformado em dragão em primeiro lugar, mas deixo isso para depois – isso é algo que pode ser “explicado” pelo emocional da personagem afinal, então acho um problema secundário. Mas então, depois de uma luta mais ou menos, a Nina está a ponto de ser morta quando chega El para o resgate! E junto com ele Azazel, Joana D’Arc e Sofiel. E eles matam o vilão. Simples assim.

Até foi divertido assistir Azazel e Sofiel lutando juntos-porém-separados, deus e demônio em modo passivo-agressivo derrotando o dragão malvado. Ela por fora. Ele por dentro. Além de ter sido legal ver o poder da Sofiel, que ainda era desconhecido. Mas jura que o dragão vilão foi derrotado assim, sem mais nem menos? Ele apareceu há dois episódios, e já sabíamos que sua sinistra função seria tentar assassinar a Nina. Então ele reapareceu no final do episódio passado, agora cara a cara com sua presa. Então todo o resto aconteceu nesse episódio e ele está morto e sem mais consequências e é isso aí. Teria sido tão mais interessante se ele tivesse fugido e ficássemos com o receio perpétuo de que ele poderia aparecer a qualquer momento para oferecer combate contra a mais poderosa arma dos mocinhos. Até imagino como seria ele aparecendo do nada para interrompê-la em um momento crucial enquanto ela voa para sei lá, salvar a vida de alguém ou impedir que algo muito ruim seja feito. Só por despeito, por ódio, por covardia. Mas não era isso que Bahamut: Virgin Soul planejava. Frustrante.

Sobre a Nina virar dragão, vou ser sucinto: no episódio anterior o Favaro falou que ele achava que a Nina talvez não fosse conseguir se transformar. Ele é mais velho, mais experiente, calejado com essa história de reis e de poder, e pressentiu que a Nina seria rejeitada e o efeito que isso teria nela – já que segundo a própria, era o amor verdadeiro que a havia dado controle sobre a transformação em primeiro lugar, certo? E com efeito, rejeitada, Nina não se transformou. Não pareceu ter tentado, é verdade, mas depois do que o Favaro disse em antecipação isso pareceu apenas a conclusão lógica: ela não era mais capaz de se transformar. Se ela tivesse se transformado absolutamente nada que vimos nesse episódio teria acontecido, então perceba a importância desse “detalhe”. E no entanto agora ela se transformou. E nem tinha a ver com homens bonitos ou amor, ela apenas ficou com raiva. Depois de 20 episódios não deixa de ser uma frustração menor não entender ainda como funciona o elemento de roteiro mais importante da história, mas diante das minhas outras frustrações essa poderia ter passado em branco.

O momento de brilhar do Baco

A segunda frustração é ainda maior. O Alessand finalmente traiu os heróis! Isso estava cantado em verso e prosa desde a conversa que ele teve com o Capitão Zé (o nome que eu dei para o capitão dos Cavaleiros de Ônix, até agora sem nome definido) vários episódios atrás, não é? E no entanto, no episódio anterior, chegou a parecer que ele havia desistido disso. Porque chances para trair não faltaram, não é? Vários dos fugitivos mais procurados do reino estavam em um mesmo lugar, e ele sabia qual. E estavam planejando atentar contra o rei, não menos. Teria sido muito fácil entregá-los todos. Por que não o fez? Ele vacilou? Quero dizer, ok, uma coisa é estar disposto a muita coisa por um objetivo, e outra bem diferente é estar disposto a qualquer coisa. Talvez trair não estivesse no leque de opções dele. Imoral sim, fanfarrão e interesseiro sim, mas ainda leal e honesto!

Ir com sua mãe ou ficar?

Só que não, como viu-se nesse episódio. Ou talvez, vá lá, a oportunidade de saber a identidade da criatura mais procurada pelo reino e pelo Céu pode ter sido maior que seu limiar de honestidade. Dizem que todo Homem tem seu preço. Eu não concordo com isso – não tanto por acreditar nos Homens, mas mais por duvidar de generalizações. Alessand, contudo, parece ter sim seu preço. Mas ele precisava ser tão burro assim? O que ele ganha assassinando o El secretamente em um lugar que ninguém viu e que ninguém vai poder testemunhar que foi ele? Ele vai chegar no Capitão Zé e dizer “tá vendo esse punhal?”, “tá vendo o sangue nele?”, “é da criança sagrada, hehe”. “Agora posso ser um cavaleiro de ônix? Diz que sim, diz??”. Mais ridículo é difícil de ficar.

A emocionante despedida entre Azazel e El/Mugaro

Mas ficou. A cena, a mais importante do episódio – e uma das mais importantes do anime inteiro, ocorreu numa mera sequência pós-crédito. Curta. Rápida. Não sabe-se o que houve antes nem o que haverá depois. Foi quase um “ah, e antes que nos esqueçamos, nesse episódio aconteceu isso também:”. Uma cena super curta, simples, e isso depois de metade do episódio ter sido sobre o destino do El, com argumentações de lado a lado, Sofiel, Joana, Azazel, e um grande momento do Baco (totalmente inesperado e totalmente incrível). Para o fato dele ter simplesmente assassinado e sequer levado prova há uma explicação possível: talvez ele já tenha tratado com o Zé e eles combinaram isso, e vamos ver isso em flashback nos próximos episódios. Mas para a crueza da cena, que não nos deixa sequer saber se o El realmente morreu (espero que tenha morrido, tudo isso para ele ainda sobreviver e desfazer qualquer potencial de mal entendido consequente de seu atentado seria ainda mais frustrante), para isso não há perspectiva de que haja conserto. Eu gostei do episódio, de verdade. Mas ele foi frustrante.

Anticlimático.

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