A cidade está arrasada, com destroços, incêndios e cadáveres por todos os lados. Os sobreviventes não sabem em quem confiar e, na dúvida, atacam primeiro, realimentando o conflito e aumentando as baixas. A guerra ainda está longe do fim e continua no céu, no mar e na ilha do presídio. E no meio dessa carnificina, o Bahamut chegou.

A Joana D’Arc na primeira temporada virou um demônio e quase ferrou tudo. Nessa segunda temporada ela fez diferente: virou uma deusa. E até agora está ferrando tudo, sendo a maior responsável pelo cenário de destruição descrito na introdução. Santa? Eu sei que ela é um dos personagens mais bondosos e justos de Rage of Bahamut e que foi injustiçada nas duas temporadas, mas o carma dela sugere que talvez seja para o bem de todo o mundo que ela desista da vida de guerreira.

Parabéns, heroína! Você estragou tudo (de novo)

Falando em carma, sentiu-se satisfeito com a morte do Alessand? Depois de esfaquear duas pessoas de forma traiçoeira, o destino quis que ele morresse exatamente dessa forma – nas mãos de alguém que ele pretendia jogar a vida fora para garantir a própria certamente, não menos. Sem dúvida há um sentimento de satisfação com a ruína de Alessand, descrito pela palavra alemã schadenfreude; sim, eu senti schadenfreude com a morte do Alessand. Mas ele não durou nada: ele estava tão patético que morrer ou não parecia fazer pouca diferença. Um mal muito maior do que mil traições que ele pudesse sofrer já havia ceifado a vida de milhares. Eu não sei se posso dizer isso de um demônio, mas o fato é que ele foi morto por uma criança, e não consigo parar de pensar nas consequências de longo prazo disso, caso ele sobreviva. Nunca mais confiará em humanos, é certo. É assim que se alimenta o ciclo vicioso de ódio e morte.

No limite, é claro que a culpa é toda do Rei Charioce e do Capitão dos Cavaleiros de Ônix (o Zé), mas já escrevi muito sobre como seria difícil, no lugar deles (principalmente do Charioce), agir diferente. E que se note a diferença gigante que é dizer que essa guerra é uma consequência das políticas do Charioce e dizer que ela foi provocada diretamente por ele. Claro que ele cultivou o ambiente que tornou tudo isso possível, mas tenho 100% de certeza que ele nunca quis essa guerra, ou a batalha anterior contra os deuses, e acho que provavelmente ele já não ligava mais para o El – não o suficiente para encomendar sua morte, isso sem dúvidas. No fundo o rei fez tudo isso, tudo de certo e de errado (e muito mais de errado do que de certo) com o objetivo nobre de derrotar de uma vez por todas o Bahamut, que ele sabia que iria despertar.

A Última Carga

Problemas de comunicação e falta de confiança de todas as partes envolvidas arrastaram o mundo para essa tragédia. Se na temporada anterior o desastre foi resultado de um plano meticuloso levado à cabo por um pequeno grupo de demônios que sabiam muito bem o que estavam fazendo, nessa é a desconfiança entre as espécies que vem de longa data e que foi especialmente ampliada após o despertar anterior do Bahamut que fez com que todos se afastassem, esperassem sempre o pior, e, como aquela criança que matou o Alessand aprendeu tragicamente cedo, matar primeiro, perguntar depois. Charioce não é um bom rei, mas Lúcifer abandonou seu povo à escravidão enquanto se refugiava em uma terra seguramente distante e Gabriel é uma líder notavelmente inepta. A soma de todos os mal-entendidos, desconfianças, ódios e oportunismos destruiu Anatae e chega perto de levar ao fim do mundo sob o poder arrasador do Bahamut.

Os mortos já se contam aos milhares. A onda de mortos-vivos que Rita cria para transportar Kaisar até a nave do rei dá uma amostra da dimensão da tragédia. Se o Bahamut não for parado, isso será apenas o começo. Não importa onde estejam com o coração agora, só cabe a todos os envolvidos reconhecer que Charioce é o único que pode parar o monstro ancestral. E Kaisar está morto.

Está tudo nas mãos desse homem agora

Ok, isso é anime, vai saber, né? Mas a tragédia do Capitão dos Cavaleiros de Órleans é o que as lágrimas da Rita na segunda abertura do anime estavam prenunciando. Pelo quê ele morreu? Kaisar não sabia ainda sobre o Bahamut e todo o plano de Charioce, mas o protegeu com a própria vida. Ele foi criticado durante essa segunda temporada, por mim inclusive, como um personagem indeciso. Não acredito mais que seja o caso. O problema do Kaisar nunca foi falta, mas o excesso de determinação. Confrontou o rei mais de uma vez quando achou que devia, seguiu sua própria ética e tentou ao máximo evitar conflitos, mas seu primeiro e último dever era para com o rei. Kaisar deu sua vida para proteger a de um rei tolo, que acredita que pode, sozinho, derrotar a criatura mais poderosa que o mundo já conheceu. Tomara que Charioce possa mesmo, para que a morte de Kaisar não tenha sido em vão.

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