Conforme dito anteriormente na coluna de estreia, o termo “mecha” pode significar muitas coisas até mesmo contraditórias entre si, mas geralmente todo robô gigante de aparência humanoide total ou parcialmente que seja pilotável pode ser assim chamado. Entretanto, não deixa de ser curioso que, em seus primórdios, nem sempre foi assim. Sejam bem-vindos ao segundo episódio de Confissões De Um Mechanófilo. Como diz o título, exploraremos as origens do gênero, começando nos anos 50 e indo até a década de 70. Apertem os cintos que o piloto só aparecerá depois da decolagem.

Não é segredo para ninguém (ao menos assim espero) que o Japão esteve ao lado da Alemanha e da Itália durante a 2ª Guerra Mundial, e que acabou sendo derrotado de forma dramática e traumática depois dos bombardeios das cidades de Hiroshima e Nagasaki pelos EUA naquele que foi o primeiro e até agora único ataque com armas atômicas da história da humanidade (e torçamos para que assim continue). Assim como outros países, o Japão procurou ele próprio desenvolver armas que pudessem lhe dar vantagem sobre seus adversários, sendo o caso mais notório a construção do couraçado Yamato, à época um dos maiores navios de guerra já desenvolvidos. Este tema (o desenvolvimento de armas pelo exército imperial nipônico) serviu como fonte de inspiração para vários autores, dentre eles Mitsuteru Yokoyama.

Em 1956, Yokoyama publicou o mangá Tetsujin no. 28-go. Na história, o exército japonês solicitou a um grupo de cientistas liderado pelo Dr. Kaneda a construção de uma arma capaz de levar o Japão à vitória na guerra. Após vinte e sete tentativas fracassadas, a equipe responsável finalmente conseguiu terminar um robô gigante batizado como Tetsujin, daí o número 28 adicionado ao seu nome. A guerra, porém, já havia sido perdida e o projeto foi esquecido. Alguns anos após o seu término, o filho do Dr. Kaneda, Shotaro Kaneda, descobre o seu paradeiro e começa a usá-lo para combater diversos malfeitores. O que separa Tetsujin dos seus sucessores é o fato dele ser controlado remotamente e não pilotado.

Em 1963, sua versão animada chegou às telinhas japonesas, cortesia do estúdio TCJ (hoje Eiken). Alguns anos depois a série foi licenciada para os EUA pela Delphi Associates e ganhou o nome de Gigantor. Várias outras versões de Tetsujin no. 28-go foram lançadas ao longo dos anos, tendo a versão produzida em 1980 sido lançada no Brasil em VHS durante aquela década sob o duvidoso título de Homem de Aço, mas isso fica para outro capítulo (até lá, você pode assistir a dois episódios dublados aqui, além de ter mais informações sobre a franquia).

A sabedoria popular indica que, após Tetsujin, a próxima parada na evolução dos mechas seria Mazinger Z, mangá clássico de Go Nagai (criador de Devilman, Cutie Honey, Violence Jack e tantos outras obras influentes), cuja série animada produzida pela Toei Animation e lançada em 1972 estabeleceu alguns dos elementos fundamentais do gênero, como o piloto que controla o robozão, as armas com as quais ele é equipado e até mesmo a organização maligna que pretende dominar o mundo. O que pouca gente sabe, no entanto, é que uma outra série, lançada poucas dias antes, também ajudou a expandir o vocabulário mecha. Estou me referindo ao obscuro Astroganger.

Criado pela Knack Productions, Astroganger conta a história de um garoto chamado Kantaro, fruto do relacionamento de um humano e uma extraterrestre. Quando os responsáveis pela destruição do planeta natal de sua mãe decidem invadir a Terra, Kantaro recebe o robô Astroganger com o qual o menino se funde para combater os aliens do mal. Dependendo da sua interpretação, pode-se dizer que Kantaro “pilota” o robô alienígena. Um importante detalhe que separa Astroganger da maioria dos mechas setentistas é o fato dele ser uma criatura dotada de vontade própria, capaz de rir, se emocionar e sentir dor.

Com apenas 26 episódios (número bem reduzido para os padrões da época) e qualidades técnicas questionáveis até mesmo para algo produzido em 1972, Astroganger foi exibido na Espanha, Itália e países árabes, onde atingiu certa popularidade, como mostram os poucos vídeos da série disponibilizados na internet. Aqui você pode ler mais a respeito da Knack Productions, responsável, dentre outras obras, por Groizer X (exibido no Brasil com o nome Pirata do Espaço) e também pelo que muitos consideram o pior anime já produzido, Chargeman Ken 

Semana que vem será a vez de falarmos mais sobre Mazinger Z e Go Nagai, de como os mechas começaram a influenciar a programação da TV japonesa e sobre os primeiros passos de uma das maiores franquias da história da ficção científica japonesa e mundial. Aqui, neste mesmo mechahorário e neste mesmo mechacanal. Uma boa semana e muito ROCKETO PANCHU para todos e todas, até a próxima.

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