Bom dia!

Antes desse episódio eu estava sob a impressão que o anime ia tentar a rota do final feliz. É história alternativa mesmo, então podemos contar o que quisermos, não é? Quero dizer, claro que simplesmente mudar tudo e dizer que os japoneses venceram em Tsushima seria absurdo, mas poderiam aliviar ao máximo a derrota e conseguir salvar o máximo possível de pessoas. Talvez ainda façam isso, mas não estou mais tão certo.

Na verdade, o anime provavelmente não vai ter nem final feliz nem final trágico. E tampouco qualquer tipo de “final médio”. O mangá ainda está em andamento então o anime não deve ter final, a não ser que o mangá acabe ao mesmo tempo (não parece estar perto disso ainda pelo que pesquisei) ou que inventem um final para o anime. Dado que a história é mais ou menos baseada em fatos reais, inventar um final não seria tão difícil assim. Quem sabe?

Mas se tivermos um final, estou apostando em um pessimista. E vou explicar porque.

Não é nada demais, na verdade, apenas o acúmulo de coisas ruins. Traição aqui, massacres e sequestros ali, uma cidade em chamas acolá. E ao fundo, a história da verdadeira Batalha de Tsushima que terminou com a ilha completamente pilhada. Isso já está acontecendo no anime, e os heróis são uma exceção, não a regra. É um incômodo para os mongóis, mas uma força que mal deve passar de uma centena de guerreiros não tem a menor chance contra trinta mil.

Eu já escrevi isso noutros artigos mas é algo que eu provavelmente ainda vou repetir várias vezes: as forças de Tsushima no evento histórico real eram os 80 samurais do Sukekuni Sou (incluindo o próprio) e suas forças auxiliares. As forças mongóis eram cerca de 1000 homens. Os mongóis venceram de forma esmagadora. A batalha do episódio 2 deveria ter sido o fim. Angolmois não é nem se propõe a ser uma retratação histórica fiel (ao contrário do que muitos têm dito por aí). Por que é importante lembrar disso no caso desse episódio? Porque por algum motivo os mongóis fictícios de Angolmois decidiram cercar Tsushima com sua força total de 30 mil homens. Se mil já foram suficientes para esmagar os japoneses no evento histórico, imagine trinta vezes isso.

Mas não tem problema nenhum, justamente porque Angolmois é uma ficção. Por isso pode colocar um samurai organizando o que restou das defesas da ilha, tentando segurar os mongóis por sete dias. Por isso pode colocar uma força misteriosa com mais de uma centena de guerreiros que não responde ao xogunato. Falo do Toibarai, é claro. Eu pesquisei esses elusivos guerreiros, e seja a transliteração (toibarai ou toi barai), seja o original japonês (刀伊祓), eu só encontro referências a Angolmois, o mangá ou o anime. Claro que o Google não é tudo, e também pode ser o caso do nome ter sido modificado mas ser uma unidade militar real, mas quem vai saber? Para todos os efeitos, me parece que o Toibarai é uma genuína invenção de Angolmois.

Não que não tenha nenhum fundamento histórico. Seu líder, Nagamine Hangan, é descrito como sendo um descendente (ou ele próprio, não entendi direito) dos “guardiões” (sakimori). E se Toibarai aparentemente nunca existiu, os sakimori com certeza existiram, e em Tsushima mesmo. E agora vou começar a aula de história desse episódio, preparado? A coisa toda começa seis séculos atrás, com a história da … Coreia. Até então a península era dividida em três reinos: Silla, Baekje e Goguryeo. Silla, com a ajuda da Dinastia Tang, que então governava a China, iniciou a conquista dos outros dois reinos. Baekje era geograficamente próximo ao Japão e com ele mantinha relações comerciais, então pediram ajuda e o Japão enviou tropas para a península. Foram massacrados.

Silla eventualmente unificaria grande parte da península mas cairia para Goryeo, sucessor de Goguryeo, em 936. A palavra moderna Coreia vem de Goryeo. Enfim. Voltando no tempo, após a derrota na península coreana, os japoneses ficaram com medo de serem atacados e começaram e preparar suas defesas. Construíram uma linha de comunicação entre Tsushima e Dazaifu (em Kyushu) com faróis, construíram diversas fortificações em Kyushu, no sul de Honshu e em Tsushima (o Castelo Kaneda), e estabeleceram os sakimori, guardiões que eram enviados para Tsushima para servir de guardas de fronteira.

E por que os Toibarai não obedecem aos senhores locais, apenas diretamente ao imperador? Porque foram estabelecidos por ordem da Casa Imperial. Não existia ainda o xogunato na época da construção do Castelo Kaneda (século 7). De fato, o Xogunato Kamakura (1185-1333), o primeiro xogunato, estava para completar um século de existência quando da invasão mongol (1274). Assim, os Toibarai de Angolmois parecem ser descendentes ou os próprios sakimori, devendo lealdade apenas ao imperador. E agora a capital de Tsushima está em chamas, e provavelmente o Castelo Kaneda é o único lugar ainda seguro onde Teruhi, Jinzaburou e companhia podem procurar abrigo.

Isso não deve durar muito tempo, porém. Forças coreanas (Goryeo), chinesas (Jurchen) e mongóis, contadas em dezenas de milhares, estão cercando a ilha. O início do primeiro episódio, que mostra Jinzaburou vivo no meio de um campo de batalha forrado de cadáveres, talvez não fosse presságio de uma derrota em particular, mas dessa derrota final que acredito que está encomendada.