O anime apresentou uma melhora muito bem-vinda em seus últimos episódios, tanto por ter deixado um pouco de lado as “brincadeiras questionáveis”, quanto por ter sido mais objetivo no que se refere a forma de trabalhar seus personagens, assim como os mistérios que os cercam. O Setsuna e a Rinne são a chave para que Urashima prospere, mas antes disso ocorrer essa história precisa fazer sentido!

O sexto episódio todo gira em torno do desenvolvimento da relação entre o Setsuna e a Rinne, o que é o sinal mais óbvio possível de que essa é a rota da garota – com certeza a mais longa e importante antes do true end (fim verdadeiro) da novel, que deve ser o mesmo no anime. Não acho que a forma como esse avanço se deu foi natural, mas também não foi forçada a ponto de ser questionável. Havia uma tensão romântica entre eles desde o princípio, só calhou dela precisar ser desenvolvida agora, o que é compreensível, pois agora que as rotas das outras garotas já acabaram é a vez da protagonista!

Qual é o verso da canção? Resposta: “Precisamos quebrar esse gelo que é deitar assim com você.”

O episódio foi descontraído, mas não “avacalhado”. O que pôde ser visto nele foi o encontro entre os protagonistas, a aproximação deles – que pode mesmo culminar em um relacionamento amoroso no futuro – e como essa intimidade foi necessária para deixar a garota a vontade para revelar o mistério sobre a cabana do qual ela se lembrou. Uma explicação aceitável vinda no melhor momento possível.

A cabana era o “esconderijo” da Rinne e do Setsuna 1 – chamarei ele de Setsuna 1 e o protagonista vou chamar de Setsuna 2 para evitar confusão –, onde foram flagrados pelo pai dela antes dele vir a falecer devido a doença da ilha, e caíram no mar sendo levados pela correnteza para a “ilha menor”.

Antes de comentar isso – o que já entra de cabeça no episódio 7 – preciso apontar uma cosa que me desagradou nesse episódio e fazer uma ressalva. O meu incômodo veio da Sara criar outra hipótese do nada, pois ela fez isso ao dizer que o romance do Setsuna com a Rinne podia causar um paradoxo.

Que indícios ela tem disso? Até a ideia mirabolante dela ser sua própria mãe me pareceu ter mais base que essa, o que me faz ver que Island não é sci-fi de forma alguma. A história está mais para fantasia do que para ficção científica, pois até o que é explicado de forma a fazer algum sentido – a hipótese dela no sétimo episódio – não tem base crível para ocorrer, parecendo mais uma tentativa de explicar um fenômeno sobrenatural tomando a teoria científica de “empréstimo”. E isso nem é exatamente um problema, o problema é às vezes a personagem levar seus devaneios a sério demais.

Tradução: “Não fique com ela, fique comigo e comece a ser investigado pelo FBI.”

A ressalva que faço é sobre adultos flertarem com adolescentes no anime. O Setsuna 2 faz isso com a Rinne e o policial com a Karen, o que pode parecer errado para nós ocidentais, mas a gente tem que lembrar que a forma como os japoneses lidam com isso lá é bem diferente, é mais permissiva. Além disso, a Karen foi noiva do rapaz e eu imagino que a diferença de idade dos dois não seja tão grande.

No caso da Rinne isso fica ainda mais “tranquilo” depois do que é revelado sobre a idade dela. Sim, a personagem pode parecer uma criança, mas se for dito na obra que ela é maior de idade, então não tem problema. É essa a sensação que os mangás e animes passam quando revelam uma idade que é incondizente com a aparência. No caso de Island isso também não é tanto um problema porque essa diferença de cinco anos atenua o mistério do sumiço da jovem, mas não é por isso que esse tipo de situação deixa de ser passível de qualquer julgamento. Pelo menos a diferença de idade não parece ser tão grande de acordo com a aparência – tirando a Sara, mas ninguém deve paquerar ela mesmo.

Se a Rinne tivesse a aparência de uma garota de 13 anos e tivesse passado uma década sumida seria normal ela flertar com um homem que parece ter ao menos 20? Não caiam na armadilha da idade, é claro que não seria normal, seria como o Setsuna 2 levar a sério algum dos patéticos avanços da Sara em cima dele. Felizmente isso não ocorre, caindo no campo da “comédia apelativa” e ficando por ali.

Voltando ao que mais interessa, o sétimo episódio inicia bem ao manter todo o clima de pombinhos apaixonados instaurado no anterior, mas é com o indício capilar de tempestade e a ida a raspadinha que ele vai ganhando um tom mais sério e até melancólico, o qual é fincado com as memorias que a velha fez a Rinne recobrar e a descoberta do Setsuna 2 quanto as circunstâncias do sumiço da garota.

Que bom que não é, porque se fosse até quem só tá assistindo podia acabar parando no xilindró!

Fiquei com a sensação de que o sumiço da Rinne foi tão bizarro que não tinha como o Setsuna 2 não saber como ele se deu em maiores detalhes após um bom tempo de convivência. Pareceu que essas informações foram omitidas dele e do público propositalmente para que fossem usadas agora afim de gerar o drama necessário na hora mais propícia. Não considero isso uma afronta a inteligência do público, mas que foi muito conveniente foi sim. Ao menos o que saiu disso foi bastante interessante.

A Rinne sabe que o Setsuna 2 não é o 1 – ou ao menos acha isso já que eu até achei eles parecidos e não duvido nada que inventem que são a mesma pessoa –, ela se lembrou da cabana e do tempo em que ficou desaparecida na outra ilha com o seu amado, mas foi convencida por ele a tentar voltar, só que a viagem demorou cinco anos – parece entrega dos correios que passa por Curitiba –, o que fez com que a Sara bolasse a hipótese de que as tempestades dão abertura para uma viagem no tempo.

Isso explicaria porque a Rinne só reapareceu cinco anos depois mantendo a mesma aparência, mas e quanto ao Setsuna 2, como ele caiu de paraquedas em toda essa situação? A outra versão da lenda – é uma lenda, né, o estranho seria não ter pelo menos umas três versões diferentes – aponta que é ele o falso e que por isso a Rinne se jogará desiludida no mar, o que nas circunstâncias atuais não é atrelado a redenção da culpa através do auto sacrifício, mas da tentativa dela de voltar a ilha menor para “resgatar” seu amado original, e isso até normal – não daria para reproduzir essa lenda à risca.

A atitude dele foi bem compreensível, mas acho que tem algo de errado aí, hein…

O problema reside no que acontecerá a seguir. O Setsuna 2 vai atrás dela? Se ela chegar lá e o 1 não estiver lá, o que vai acontecer com a sanidade mental da garota? O laço formado entre ela e o falso é tão forte ao ponto de ser capaz de ajudá-la a superar toda essa situação? É o que veremos!

Considero normal e compreensível ela ter arrependimentos quanto ao passado com o Setsuna 1, até pelo fato dela não ter lembrado de nada antes, mas ela também não pode descartar o que viveu com a versão falsa dele. Há um propósito para eles terem se encontrado, para eles terem se aproximado e para o que aconteceu a partir disso. É no que eu quero acreditar, mas se a trama conseguirá sair ilesa – ou não tão machucada – da corda bamba que é tratar de um drama nessas circunstâncias, envolvendo o sobrenatural e o amor pelo que aparentemente são duas pessoas distintas, só saberemos assistindo.

Isso é meio complicado e ainda deve render bastante…

Tirando a conveniência, e um ou outro detalhe, esses dois episódios foram melhores em comparação a leva de episódios que comentei no artigo anterior, pois eles apresentaram um tom bem mais sério e comprometido a fazer a história andar para algum lugar de forma clara. Não senti o mesmo com as rotas da Karen e da Sara, mas acredito que elas devem ter sido úteis para construir a base para o true end do anime. Agora Island parece mais promissor e – por incrível que pareça – menos tempestuoso.

E agora, Setsuna 2? A Rinne partiu, a paquera esfriou, o caldo entornou, e agora, Setsuna 2?

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