Bom dia!

Bem-vindo ao Café com Anime, um bate-papo que eu e Vinicius (Finisgeekis), Gato de Ulthar (Dissidência Pop) e Diego (É Só Um Desenho) temos todas as semanas sobre alguns animes da temporada. Cada um publica em seu blog as transcrições das conversas sobre um anime diferente.

No Dissidência Pop vamos acompanhar Hanebado!. No É Só Um Desenho vamos acompanhar Shoujo Kageki Revue Starlight. No Finisgeekis vamos acompanhar Happy Sugar Life. E aqui no Anime21 vamos conversar sobre Banana Fish.

Nessa edição do Café com Anime, leia a nossa conversa sobre os episódio 11.

 

Fábio "Mexicano":
Depois de desgraças constantes e ação sem fim, estava na hora de um episódio mais calmo. Ash em particular estava precisando muito disso. E com isso, dá para dizer que o anime virou o arco. O que acharam desse episódio, que fez basicamente duas coisas: 1) Desenvolver e aprofundar a relação entre Ash e Eiji, bem como revelar mais sobre cada um deles como indivíduo, e 2) Preparar o terreno para o próximo arco?
Vinícius Marino:
Eu quero começar a responder mencionando algo que pode até parecer off topic: o Ash tem medo de abóboras.

Sério, deixe essa informação assentar. Eis um anime de ação, sobre crime organizado, conspirações governamentais e Boys’ Love, com um protagonista que parece ter sido criado sob medida para cair nesse molde. E nós sabemos um detalhe irrelevante da vida pessoal dele, que mesmo assim é uma pequenina parte do mosaico de quem ele é de verdade.

Compare isso com os outros animes que estamos assistindo. Em Happy Sugar Life, sabemos que Satou “foi devassa na adolescente”, e desse julgamento sumário somos forçados a desprender uma personalidade inteira. A personagem mais complexa de Starlight pode ser sintetizada numa frase: “eu gosto de bananas”. Em Hanebado!, sabemos o que as meninas pensam do badminton e das mommy issues, mas só isso.

Já do Ash, do Eiji, do Ibe e do Max sabemos quase tudo. Que tem famílias mais ou menos complicadas. Que praticavam esportes competitivos e largaram a carreira. Que viveram em Cape Cod na infância e que tem medo de abóbora.

Banana Fish é um primor de caracterização. Que, a cada episódio, me faz sentir algo que raramente sinto assistindo a animes: a impressão de que essas pessoas são gente real, não personagens desenhados.

Fábio "Mexicano":
Vale dar um desconto para os demais animes, senão por suas características exclusivas, por algo que os três têm em comum: serão animes de um cour só. Ao contrário de Banana Fish, que terá dois. Mas sim, adoro o desenvolvimento de personagem de Banana Fish. Animes assim me fazem querer que todos os animes sejam mais longos (apesar de existir animes que são muito bons em fazer isso com um cour só também).
Diego:
Pequenos detalhes sem importância são mesmo um dos mais efetivos recursos para se criar personagens mais reais. São coisas que demonstram que eles existem para além da trama imediata na história, e infelizmente é algo que a vasta maioria dos animes negligencia.

Mas falando do episódio como um todo, eu realmente gostei dele. Passou bem a sensação de transição de um ponto a outro na história, deram um merecido descanso a esses personagens (e a nós espectadores, de certa forma), e aproveitaram muito bem o momento para desenvolver a relação do Ash com o Eiji. Além de darem uma ótima desculpa para o Eiji continuar ao lado do Ash depois de toda a encrenca na qual ele se já se meteu e apesar de não poder ajudar no combate: o Ash precisa dele.

E bom, podemos todos concordar que o anime provavelmente vai terminar com o Ash se sacrificando pelo Eiji de alguma forma? 😛

Gato de Ulthar:
Um belo episódio, mais do que saber que o Ash tem medo de abóboras, foi saber que ele é um exímio hacker capaz de roubar milhões de dólares do Papa Dino e manipular o mercado de ações, além de ser um assassino de primeira, isso tudo com 17 anos de idade. E foi impagável ver a primeira vez o Papa Dino claramente assustado com algo com o Ash Fez.

O bigodinho do Max também ficou super estiloso.

Esse episódio foi o que eu já imaginava e mais um pouco, com o Ash elaborando sua vingança com muito estilo. Eu realmente não esperava que ele ficaria “rico” da noite para o dia, o que dá margem para todo tipo de ação. Ele pode facilmente armar sua gangue com as melhores armas e utilizar todos os recursos que milhões podem proporcionar.

Fábio "Mexicano":
Esse hacking enseja bastante suspensão de descrença, não só por causa da parte técnica em si, que nem é tão estranha porque o Ash teve acesso ao computador do Papa Dino afinal, mas muito mais pelo fato do Ash nunca ter cogitado usar isso antes. Vai dizer que não poderia ter ajudado ele em momento algum? Mas bom, anos 1980, né, será que no original foi hacking mesmo? Estou até curioso agora. Banana Fish seria uma obra pioneira nisso se for o caso.
Gato de Ulthar:
Eu liguei minha suspensão de descrença no máximo 😛 Mas vale a pena para curtir a série no máximo.
Fábio "Mexicano":
Sim, com Banana Fish dá para fazer isso ☺

Quero dizer, para mim dá. Acho que você também concorda, não é, Gato? Será que alguém discorda, não só com essa cena em particular, mas com outros momentos de Banana Fish?

Gato de Ulthar:
É o tipo de detalhe que não prejudica em nada o entretenimento, principalmente pelo tipo de história que Banana Fish é.
Vinícius Marino:
Eu concordo com vocês. Não me prejudicou em nada. Essa sacada do hacking em particular é funcionalmente idêntica a uma parte bem famosa de O Conde de Monte Cristo. Para se vingar de um rival que virou banqueiro, o protagonista manipula o mercado financeiro e faz com que perca tudo da noite para o dia. Em suma, é uma trope bem conhecida de vingança.

Que faria bastante sentido nos anos 1980, com a disseminação dos computadores pessoais e a crise de especulação em Wall Street. Foi em 1987, afinal, que aconteceu a Segunda Feira Negra, uma queda brutal no índice Dow Jones. Também foi nesse mesmo ano que saiu o filme Wall Street, romantizando as especulações da bolsa.

Não sei até que o ponto o mangá foi influenciado por isso. Mas é fato que eram temas que estavam “quentes” no momento.

Diego:
Hey, ao menos o hacking do Ash foi mais realista. Ele tinha a senha do Dino para sei lá eu o quê. Já ta melhor que hacker de Hollywood que fica apertando teclas aleatoriamente e isso o leva a alguma backdoor no sistema principal que redireciona pra <insira aqui mais uma série de jargões sem sentido>
Fábio "Mexicano":
Sim, o hacking em si não foi problema nenhum. Eu só não tenho uma boa resposta para por que ele não fez isso antes. Ok, não mata o Dino, mas enfraquecê-lo nunca seria uma má ideia. Ter um montão de dinheiro tampouco.

Ok, próximo ponto, o Eiji. Acho que esse foi o episódio mais importante para o Eiji até agora, estou errado? O que acham?

Diego:
Não sei se o mais importante, mas certamente abordou o rapaz com bem mais foco. E eu gosto como fica claro que a aparente falta de personalidade do garoto (ou melhor dizendo, falta de presença) é meio que o exato ponto do personagem. Considerando que já tínhamos discutido sobre o tema antes, foi algo que me chamou a atenção de leve.
Gato de Ulthar:
Acho que esse episódio aproximou muito o Ash do Eiji, e para que isso se mostrasse crível e tocante, era fundamental que um conhecesse mais o outro, e isso se mostra também nos pequenos detalhes, como saber que o Eiji tem uma irmã mais nova e que o Ash tem medo de abóboras. E uma coisa ficou clara, ambos ficarão juntos até o final, o Ash nem mais cogita em afastar o Eiji por questões de segurança, quer ele ao seu lado.
Vinícius Marino:
A cena do Eiji acordando o Ash, para a histeria dos seus capangas é a prova de que ele já ocupou um espaço inédito em sua vida. Ash viveu toda a vida como um gato acuado (o “Lynx” em seu nome de guerra não está aí a toa). Algumas das pessoas mais próximas a ele foram aquelas que mais pesadamente o traíram. Os ataques de raiva que seus subordinados mencionam provavelmente foram consequência disso. Se você vive no tipo de inferno em que ele vive, também dormirá com um revólver debaixo do travesseiro. Mas eis que ele está disposto a deixar um outro homem se aproximar no momento em que está mais vulnerável. É, repito aqui o juízo do Gato. Se eles não ficarem juntos até o final eu ficarei bastante surpreso.
Fábio "Mexicano":
Eu já disse em outras ocasiões que as escolhas do Eiji fazem pouco sentido. E fazem mesmo, alguém discorda? Por que ele escolheu seguir um gângster que mal conhece sabendo o quanto está arriscando a vida ao fazer isso? Se da última vez que discutimos para agora mais informações tiverem sido reveladas de forma a explicar isso, digam, por favor, porque não peguei.

Mas se é como me parece, o Eiji é um personagem bastante complicado, não é? Ele não tem nada a ganhar e tudo a perder. A não ser, a não ser, e defendo essa hipótese em meu artigo justamente sobre esse episódio em meu blog: a não ser que ele, tendo consciência disso ou não, já tenha se apaixonado ou de alguma forma desenvolvido uma atração romântica ou sexual (ou ambas) pelo Ash. Acho que eu não pensei nisso logo de cara (mesmo sabendo da fama BL de Banana Fish) e fiquei procurando respostas mais “objetivas” porque não estou acostumado a enxergar relacionamentos gays e porque o anime não está de fato desenvolvendo isso, se for o caso é apenas subtexto.

Isso explicaria, não? Estamos acostumados a ver exemplos tanto na vida real quanto na ficção de pessoas que agem aparentemente sem nenhuma boa razão apenas porque gostam de alguém. Será que estou muito longe do alvo?

Gato de Ulthar:
O Eiji possui um passado difícil pelo que sabemos, ele era um atleta promissor de salto com vara, mas que se machucou e se viu afastado do esporte, sem nenhum novo objetivo de vida. O Seu tio o levou para os EUA para que ele pudesse ver cenários novos e se distrair, para que não caísse numa depressão. Eis que o Eiji encontra o Ash, um jovem e promissor líder de gangue que vive perigosamente, o Eiji pode ter se fascinado com este estilo de vida que apenas se importa com o momento, já que a vida de um marginal está sempre por um triz. Essa pode ser a aventura que Eiji precisava para superar os seu problemas do passado.
Fábio "Mexicano":
Uma bem extrema! Sei lá, ele poderia fazer coisas mais seguras, como saltar de bungee jump sem corda …
Diego:
Acho que existe mais um fascínio um pelo outro do que necessariamente uma atração romântica – ainda que eu não descartaria essa segunda opção nem de longe. Por serem opostos, acabam se atraindo: o Eiji tem a inocência e a vida mundana que o Ash nunca teve, enquanto que o Ash tem as capacidades de liderança e a determinação que o Eiji talvez ache que perdeu. Claro, isso parece ser o que os atraiu um ao outro, mas diria que agora eles simplesmente sentem que precisam um do outro mais do que qualquer coisa.
Vinícius Marino:
Eu também não vejo ele fazendo tudo isso “por amor”. Não há amor entre os dois: eles não se conhecem, e o anime fez um esforço para enquadrar todas as cenas de fanservice como algo que cai aquém da linha. E atração sexual… bom, provavelmente tem. Todo mundo comenta que o Ash é lindo. Mas ninguém flerta com a própria vida desse jeito por tesão apenas. Seria melhor para a história se eles de fato tivessem um caso romântico. Faria da motivação do Eiji bem mais clara.
Fábio "Mexicano":
E o original é “quase Boys’ Love” (não é, de verdade, mas tem a fama e não é exatamente à toa), afinal, então isso é algo que provavelmente está o tempo todo ali virando a esquina no enredo. Também corremos o risco de não estar “pescando” referências e tropos do gênero só porque estamos pouco familiarizados com ele – principalmente uma versão dele de três décadas atrás!
Gato de Ulthar:
Esse “quase Boys’ Love” que o Fábio se referiu está bem claro, só não vê quem não quer. Mas eu penso se o anime dará uma passo até a concretização de um romance, eu acho que não, penso que ficará mesmo neste “quase lá”.
Diego:
Acho que mesmo no universo BL, Banana Fish ainda é colocado como “não exatamente lá”, não? Talvez por limitações da época: sinceramente não sei o quão longe um mangá do tipo dia iria nesse assunto nos anos 1980. Ou talvez porque realmente não é pra ser um BL, ficando só nas insinuações e mais nada.
Vinícius Marino:
Considerando que se passa nos EUA, eu confesso que isso viola um pouco minha suspensão de descrença. Ok, estamos falando dos anos 1980 e do mundo criminoso, que provavelmente nunca foi tolerante com esse tipo de coisa. Mas acho difícil acreditar, ignorando o contexto meta, que alguém como o Ash manteria toda essa compostura nipônica diante do cara que gosta.

Pelo contrário, acho que a vida de perigo que eles começaram a levar só os incentivaria a partir mais cedo às vias de fato. Isso é uma coisa que se observa com frequência em pessoas (sobretudo jovens) que vivem no fio da navalha. Se você sabe que pode morrer amanhã, aproveitará todos os prazeres da carne no instante em que eles aparecem.

Fábio "Mexicano":
Apesar de se passar nos EUA, foi escrito por uma autora japonesa, para adolescentes japonesas no Japão. Ok, isso não justifica o que é, realmente, forçar a barra, mas pelo menos explica porque é assim.

Mas fiquemos por aqui nessa sessão ☺

Até semana que vem!️

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