Uma fatia de vida em que uma garota e uma vampira se encontram e iniciam uma relação, na qual um crescente laço afetivo transforma o cotidiano delas. Pode ser um ponto de partida simples, e com a intensidade de fofura atingindo um nível extremo, mas a história dessa amizade inusitada é divertida, relaxante, sagaz e um tanto maliciosa (mas singelamente ingênua) – com a manifestação do evidente interesse romântico de Akari por Sophie, a vampira.

Akari Amano é uma estudante do colegial que se interessa pelas lendas urbanas contadas pelas suas amigas de escola, em especial sobre uma boneca viva. Curiosa e destemida, e um pouco sem noção, Akari entra na floresta à procura da casa da tal boneca. Certa altura, ela se percebe perdida, porém, antes do desespero dominá-la, surge uma jovem de cabelos prateados, que se apresenta como uma vampira, e oferece ajuda para conduzi-la para fora da floresta. A abertura nos transporta para o mundo de solidão de Sophie Twilight, uma vampira que mora sozinha na casa que é o alvo da curiosidade de Akari.

É convincente a forma natural com que Akari recebe a informação de que Sophie é uma vampira. Afinal, ela andava pela floresta para conferir por si mesma a veracidade sobre a existência de uma boneca viva. E também há que se destacar a serenidade com que Sophie aborda Akari. A tensão é aliviada pela credulidade da jovem e pelo desejo de Sophie por contato.

A partir daí a comédia sustenta-se na atração da estudante pela vampira e no modo como ela se introduz na vida de Sophie, que, de início, sente-se desconfortável com a mudança de sua rotina, e começa a imaginar maneiras de se livrar da presença constante de Akari. Com a certeza de que o seu plano tenha sido efetivo (algo que envolve a demonstração de sua colossal força física), Sophie começa a sentir falta da garota. O cotidiano de isolamento não a satisfaz mais. Mas, para sua surpresa, Akari retorna e, mais tarde, “estimulada” pelas amigas, propõe a Sophie que morem juntas. A resposta positiva não é imediata como pretende a estudante, por isso ela tenta ser útil a vampira. No entanto, como o afeto já se estabeleceu, residirem juntas é o passo definitivo para as confusões que as aguardam.

É engraçado como que, para Akari, Sophie é a boneca da lenda que tanto a entusiasma – na verdade, a adolescente tem uma coleção enorme de bonecas –, e ela não esconde seu fascínio pela vampira, o que assusta inicialmente a jovem de cabelos prateados. E assim o jogo de atração-resistência amplia o sentimento nascente. E espera-se mais comédia nesses avanços e fugas – mas com a possibilidade de que algo flua e se consolide.

Um dos momentos hilários do primeiro episódio é quando Sophie convida a loli para jantar, e a jovem prontamente desabotoa os primeiros botões de sua camisa e oferece seu pescoço a vampira para que seja mordido e seu sangue sugado. No episódio tem mais algumas ocasiões de atrevimento e insinuação por parte de Akari para uma geralmente constrangida e intimidada Sophia. Outras cenas de humor que valem ser mencionadas são a do caixão em que a vampira dorme, aberto por uma indiscreta Akari e o telefonema da estudante aos pais, contando que morará com um ser mitológico conhecido por beber sangue humano e eles autorizarem sem nenhum drama ou temor.

Akari é uma protagonista engraçada, voluntariosa e apaixonada. Já Sophie é reservada, cuidadosa e sistemática, já que não se alimenta de sangue humano, ela tem estoque do líquido viscoso e vermelho na geladeira, etiquetado e separado por tipo sanguíneo, que compra pela internet.

Com direção de Noriaki Akitaya (Bakuman. [2011]) e roteiro de Tatsuya Takahashi (Toji no Miko [2018] e Koukaku no Pandora [2016]), Tonari no Kyuuketsuki-san é um slice of life alegre, com protagonistas cativantes e (francamente!?) yuri – além da dupla central, tem Hinata, amiga de Akari –, com clima de história kawaii, valorização da amizade e algumas confusões românticas, no estilo Yuru Yuri (2011/2012/2015) e Kiniro Mosaic (2013), mas com a nobre presença de vampiras.