Tokyo Ghoul:re 2 – ep 3 – Coadjuvantes
Um episódio dedicado aos personagens coadjuvantes em diversos níveis, ao menos se considerarmos que os protagonistas são só o Kaneki e a Touka – apesar dela nem parecer uma verdadeira heroína. O grande problema é que Tokyo Ghoul:re tem ainda mais personagens que sua prequela, o que faz com que seja muito difícil dar o mínimo de tempo para um secundário ser aprofundado e sua morte, ou o risco dela acontecer, seja sentida. O que ainda poderiam ter feito é ter focado mais nos personagens que são mais conhecidos do público, mas o que fazem? O que essa produção faz de melhor: besteira.
O episódio inicia com a morte do Hachikawa e o flashback da sua subordinada, secundários que não tiveram qualquer chance de ser desenvolvimentos previamente, tendo esse trecho todo sido apenas um checkpoint para os leitores do mangá que gostavam dos dois – meu caso.
A única coisa relevante disso é a volta do clichê da pessoa que é sim ruim como parece, mas tem seu lado bom. Isso me faz lembrar do Shimoguchi lá do primeiro cour do anime e como boa parte dos investigadores de ghoul tem um passado sofrido marcado pela violência dos monstros, o que os fez mudarem até para evitar mais sofrimento.
Contudo, ainda assim não perderam completamente sua humanidade, conseguindo se importar com alguém próximo a eles. Se esses investigadores nutrem sentimentos negativos pelos ghouls, porque eles tomaram algo ou alguém deles, não é estranho que ainda se apoiem a um último “resquício de sanidade”. Claro que alguns deles são só cruéis, mas esse não era o caso do Hachikawa.
Depois disso os Quinx aparecerem preocupados com a Mutsuki, parece que os novos integrantes não têm seiyuus – é, nem deve dar tempo de eles terem alguma participação decente mesmo – e a cena da tomboy encurralada pelo Torso não foi ruim.
O ruim foi não terem acabado o episódio voltando a ela, pois a Mutsuki é uma personagem com a qual o público deve se importar, já que se você chegou até aqui é por ter visto a primeira temporada e como buscaram dar um pouco de profundidade para a garota.
No próximo episódio ela terá seu momento, mas a direção errou ao não o aproveitar agora.
O momento seguinte envolve outros personagens que gosto muito – na verdade eu curto quase todo mundo nessa joça –, a Kuro e o Suzuya com seus Suzuya boys. Se você não lembra, ela é a meio-ghoul que o Suzuya humilhou no anime de 2014, deixando sua irmã gêmea, Shiro, à beira da morte.
E não é que a branquinha morreu mesmo? Um agravante para a situação de uma garota que virou ghoul e foi manipulada por um mad scientist que até serra elétrica usa. Seu estado mental lastimável e sua força temível condizem com o que ocorreu em off com a personagem, só foi uma pena a sua luta ter sido…
A queda na qualidade das cenas de ação é um problema que deve permanecer até o final do anime já que na primeira temporada o trabalho também não era tão satisfatório.
Em alguns trechos houve um esforço para dar impacto aos golpes e mostrar a movimentação com algum detalhamento, em outros apenas colocaram riscos na tela – como fizeram na luta do Arima com o Kaneki – para simbolizar tais golpes, os quais teriam tornado as lutas verdadeiramente empolgantes.
Não há grana para animar no mesmo nível da primeira ou da segunda temporada do primeiro mangá, então procuram compensar como podiam, mas não ficou bom, e fazer os personagens darem uma de “Flash” também não ajuda.
Na verdade, isso reforçou a minha impressão de que essa animação se preocupe demais com o final e faz qualquer coisa pelo meio, quando boa animação é justamente caracterizada pelos movimentos e a consistência do design do personagem entre uma cena e outra.
Não adianta de nada ter imagem estática de confronto se a ideia de que os personagens estão em atrito não é passada para o público.
Intercalado a vingança malsucedida da garota gótica, o esperado(?) confronto entre Tatara e Houji é razoavelmente decepcionante não importa como eu veja a situação. No mangá é pior, pois cortam as partes em que o Takizawa mata eles(?), não apenas a morte do Houji como no anime.
Pelo flashback do Takizawa ficou fácil para o público entender porque ele se meteu, não foi só para salvar o “sensei” que um dia cuidou dele, mas para se vingar daquele que o forçou a essa vida de ghoul.
Censuraram o trecho das memórias dele, mas, ainda que Tokyo Ghoul seja gore, era de se esperar que certas partes não tivessem o mesmo apelo visual que há no mangá. Acho melhor o corte que usar uma tarja preta.
Entretanto, para um ghoul nem tudo são flores, nem espinhos, são quase sempre tripas, então Houji manda os coadjuvantes no último nível de irrelevância se prepararem para exterminar seu ex-pupilo, o levando a fúria, a entrega a seu instinto assassino. Parado somente pela chegada do “herói” na ilha.
Amon Koutarou não está disposto a salvar apenas belas investigadoras como a Saiko ou a Mado, sua mão amiga também se estende a Takizawa, o kouhai que passou pelo mesmo inferno que ele, com o qual compartilha o dilema moral de aceitar seu monstro interior ou se agarrar ao que ainda pode ter sobrado de humano em si.
O Amon chegar nesse heroicamente melhora muito todo esse trecho, pois algo de muito interessante pode ser trabalhado usando os três personagens: Akira, Amon e Abacaxi.
Se vai ser ou não só saberemos no próximo episódio, mas é certo que o Amon vai fazer de tudo para “salvar” o Takizawa da melhor maneira possível, e que a Akira não ficará parada sem fazer nada, pois isso não é do feitio dela.
A Kuro parecia mais perdida que cego em tiroteio, mas miraculosamente ela se encontra com o Dr. Kanou – seriam ghouls usuários de Stand que atraem uns aos outros? – e aí a garota finalmente se rebela contra esse pai(?) postiço capaz de fazer qualquer loucura para criar um protagonista melhor para essa obra.
Um reencontro emocionante? Uma ova! Necessário? Mais para justificar o Nishiki não ter ido até a Cochlea do que para resolver de uma vez por todas o que afligia a personagem; apesar de que não se pode negar que a partir de agora ela deve parar de se apoiar nas suas fantasias e passar a encarar a vida real feia e fétida como só ela é, mas bem que ela podia ter feito isso sem ficar lutando com meio-ghouls peladões e “robóticos”, né.
Enfim, a luta final também serviu mais para justificar a não ida do Tsukiyama para a Cochlea do que para aprofundar os coadjuvantes e entregar um combate relevante. Gosto muito do Naki e da Miza, mas quem só vê o anime não tem, e nem devia ter, motivo para gostar deles – até mesmo do Naki – já que são mais rasos que uma xicara de café quase vazia.
Eu acho isso uma pena, e sim, a Miza chorar pelo Naki é um sinal de que ela ama ele. Dá para concluir isso fácil, mas outras sutilezas se perderam no meio dessa adaptação horrorosa.
Não vou crucificar só a adaptação e afirmar que todos os problemas do anime dizem respeito a falta de qualidade dela, pois se tivesse sido menos fiel ao mangá acho que esse terceiro episódio podia ter sido melhor.
Se tivessem cortado a cena do Hachikawa e tivesse dado algum tempo a Mutsuki, se só tivessem focado nas cenas de ação de um momento para melhorá-las e não tivessem distribuído essa ação meia boca por todo o episódio, se o final fosse mais impactante; a chegada do Gourmet foi bem esquecível.
Focar em uma cena de risco de vida com a Mutsuki depois do que ocorreu com o Shizaru já teria tornado esse episódio um pouco melhor. E ele nem foi tão ruim quanto a estreia, mas muito mediano em comparação ao que poderia ter sido.
Que no próximo encerrem esse arco dignamente e que façam isso explicando o que tem que explicar sobre o passado do Arima. Até o próximo episódio!