Bom dia!

Bem-vindo ao Café com Anime, um bate-papo que eu e Vinicius (Finisgeekis), Gato de Ulthar (Dissidência Pop) e Diego (É Só Um Desenho) temos todas as semanas sobre alguns animes da temporada. Cada um publica em seu blog as transcrições das conversas sobre um anime diferente.

Mais uma temporada! E desculpe pelo hiato entre a última publicação e essa. Em primeiro lugar, não publicaremos um artigo de expectativas dessa vez porque tivemos que escolher os animes na unha, não foi fácil escolher o que iríamos cobrir, nada parecia especialmente promissor então precisamos esperar as estreias. Some a isso alguns contratempos pessoais, e o resultado é esse hiato e o que seria o artigo de expectativas acabou sendo completamente inútil.

No Dissidência Pop vamos acompanhar Zombieland Saga. O É Só Um Desenho e o Finisgeekis ainda não publicaram seus primeiros artigos então vou fazer segredo. E aqui no Anime21 vamos continuar com Banana Fish.

Nessa edição do Café com Anime, leia a nossa conversa sobre os episódios 17, 18 e 19.

Episódio 17

Fábio "Mexicano":
Começou o novo arco! Não rolou a aliança entre Ash e Dino ☹️ Foi um bom chute, mas ficou só no apoio tácito do Dino à fuga do Ash do hospital mesmo. Mas tudo mudou: Dino e Yut-Lung aliados (por iniciativa do chinês) com o objetivo de consolidarem o poder em suas respectivas máfias, o Senador Kippard está morto, um assassino novo (vindo direto de Street Fighter) está na cola do Ash, e esse fede a problema, e Ash desistiu de mandar o Eiji embora, o que significa que a relação entre os dois não poderia estar melhor, mas … ainda não está tão boa assim, e talvez nunca vá estar antes do fim?
Diego:
Relaxa que é só dar uns episódios que o Ash resolve tentar mandar o Eiji pra longe de novo 😛 Embora, francamente, eu nem acho que mandar ele pro Japão seja uma boa ideia. Com o tanto que o garoto sabe eu muito me surpreenderia se o Dino não pelo menos tentasse ir atrás dele de alguma forma, pouco importa onde no globo o Eiji esteja. E é engraçado que mesmo com seu QI de mais de 200 o Ash não tenha pensado isso antes 😛
Vinícius Marino:
A cena do sniper no final foi de tirar o chapéu. Toda a cena, do estratagema do Ash para tirar o segredo do senador ao disparo em si. E nem vou dizer da revelação de que o assassino foi o mentor do garoto!

É curioso pois, no papel, o Ash é o paradigma da Mary Sue. Ele é bom em tudo. Todo mundo é fascinado por ele. Tudo no plot gira em volta dele. Mesmo assim, isso nunca parece excessivo. Banana Fish coloca as coisas de tal forma que nunca imaginamos que ele esteja acima do perigo – nem, o que é mais importante, acima de uma eventual retribuição moral.

Gato de Ulthar:
Um episódio muito bacana mesmo. O tropo do mentor assassino que tem que enfrentar o pupilo é algo muito característico das obras de ação dos anos 1980. Gostei que o cara realmente pareceu ser melhor que o Ash, e isso cobre uma lacuna da falta de vilões desafiadores no âmbito da porradaria. Foi sofrido ver o Ash não sabendo quem o estava perseguindo.
Fábio "Mexicano":
E torna o Ash menos Gary Stu, não? Já nesse episódio ele foi sobrepujado duas vezes: não conseguiu detectar onde estava seu perseguidor e perdeu uma presa importante.
Diego:
Mas ele também não está muito longe de seu mestre. Não conseguiu descobrir quem o seguia, mas percebeu que alguém o seguia. Mesmo identificou a direção correta onde a pessoa estava, numa cena.
Fábio "Mexicano":
Mas é uma questão de perspectiva. Como o Vinicius disse, ele sempre pareceu, mas havia circunstâncias que minimizavam isso. Agora ele sequer é o mais mais do rolê.
Gato de Ulthar:
Queria ver o Ash caindo no pau com o Yut-lung. Tomara que o anime propicie esse encontro!
Fábio "Mexicano":
Eu não queria falar disso agora, mas vou falar. Acho que é isso que o Yut-Lung quer, não é? Quando ele diz que quer exterminar a família Lee, me parece que ele está falando de todo mundo – inclusive ele próprio. E a forma que ele está planejando fazer isso talvez seja, justamente, duelando contra o Ash.
Vinícius Marino:
Isso seria bem…. extremo. Mas não implausível, dado o envolvimento pessoal das personagens de Banana Fish. Fico me perguntando se esse duelo será literal, igual ao do Arthur. Ao contrário dele, o Yut-Lung é um mestre da manipulação. Vive nas sombras, pula de disfarce em disfarce, tem lealdades fluidas com todo mundo. Desde o primeiro momento em que o encontramos ele estava fingindo ser outra pessoa. Um confronto “indireto”, com Ash e Yut-Lung orquestrando planos rivais de destruição seria muito prazeroso. Com o episódio do hack, Ash já mostrou que está a altura do desafio.
Fábio "Mexicano":
Sabemos que ele tem habilidades de combate físicas nada ordinárias também, mas sim, um duelo mais mental seria interessante para variar. Talvez até quase ao mesmo tempo que o duelo do Ash contra seu mestre.
Gato de Ulthar:
Mesmo assim eu não abriria mão de uma bela porradaria entre os dois, seria algo lindo de se ver.
Fábio "Mexicano":
Para fechar esse episódio (vamos dobrar de novo e incluir o próximo junto), um tema que eu acho que foi dos centrais no episódio: a confiança entre Ash e Eiji.

O Eiji se sente inútil porque o Ash nunca conta nada para ele, então ele nunca faz nada. Mas obviamente ele não precisa ser inútil. Eiji não é um gângster, mas ele tem seu próprio conjunto de habilidades que podem ser sim muito úteis: o anime começa com ele saltando por cima de um muro para chamar ajuda para o Ash, por exemplo.

Mas para proteger o Eiji, o Ash não conta quase nada para ele. E isso provoca reação: o Eiji faz as coisas sem avisar, sem pensar, e também não conta coisas para o Ash para que o amigo não fique ainda mais preocupado com ele e o exclua ainda mais. Nesse episódio, ele quase não conta que o Yut-Lung declarou que se tornaria inimigo do Ash. Isso o Ash conseguiu arrancar dele, mas o Eiji ainda escondeu um detalhe vital: Yut-Lung disse que faria isso mirando exatamente no Eiji. Não é difícil entender porque o Eiji escondeu isso.

Como enxergam essa relação? Será que há saída para esse ciclo vicioso de falta de confiança? O que isso pode causar de grave ainda?

Vinícius Marino:
Pode colocar tudo a perder, obviamente. A vida dos dois, a segurança do Max e do Ibe, os planos do Yut-Lung e Papa Dino. O Ash tem um problema sério de confiança que tem tudo a ver com sua personalidade de gato arisco. O Eiji é a ponta do iceberg, mas nós vemos isso nas suas relações com outras pessoas também. O showzinho que ele fez para o Sing, escondendo a verdade sobre a morte do Shorter, foi um exemplo escancarado. Eu entendo que o anime tentou dar um motivo para tudo aquilo, mas foi de uma irracionalidade de cair o queixo. As chances do Sing resolver atirar primeiro e perguntar depois foram imensas.
Diego:
Enquanto a personalidade arisca do Ash explica boa parte de suas decisões mais questionáveis, ele manter muita coisa escondida do Eiji é um pouco menos justificável, dado que o anime insiste que o Ash vê o Eiji diferente de como vê os demais a sua volta. E convenhamos, muitas vezes é bem mais seguro deixar o garoto a par do que está rolando, qual é o plano, e porque ele não precisa fazer nada, do que seguir o ciclo que o Fábio descreveu.
Vinícius Marino:
Acho que tem também um certo orgulho pessoal. Pessoas como o Ash, que crescem e triunfam em um mundo de violência, aprendem cedo a não depender de ninguém. Ser o dono do próprio nariz e cultivar uma fachada estoica vira um símbolo de identidade. Ao abrir-se ao Eiji ele invariavelmente mina essa máscara.

Episódio 18

Fábio "Mexicano":
Sempre que a gente acha que um episódio em particular de Banana Fish foi corrido, não há motivo para preocupação: haverá outro ainda mais corrido. O que acharam do episódio 18? Qual será o “plano” do Ash? Talvez ele não tenha exatamente um plano, mas pelo menos um objetivo ele deve ter…?
Gato de Ulthar:
Olha, acho que ele vai precisar recuperar sua vontade de viver. Seu objetivo era ajudar o Eiji incondicionalmente, e isso ele fez. Tanto é que ele atirou na própria cabeça sem pestanejar, duvido que ele sabia que não havia munição na arma, ele queria salvar o Eiji e pronto, se iria viver ou morrer tanto faz. Outro detalhe é o seu olhar vago enquanto é conduzido pelo Papa Dino.

Mas o que mais me chamou atenção no episódio foi o Yut-Lung, ele claramente queria que o Ash o desafiasse, ou enfrentasse e colocasse o plano deles em jogo, por isso ficou tão decepcionado quando o Ash tentou se matar tão rapidamente. No fim das contas, o chinesinho efeminado queria um desafio com o Ash, mas não ganhou o que queria e ficou decepcionado.

Outra detalhe extraído da conversa com o Blanca, não esse Blanka:

Foi que o Ash mesmo aceitando o seu destino ainda possui uma rebeldia inata quanto às maquinações do Golzine para o seu futuro, e esse sentimento pode ser a chave para fazê-lo escapar dali.

Vinícius Marino:
Eu fiquei passado com a subserviência do Ash. Para citar a música do ending, eu esperava que ele morresse queimando, não se apagando aos poucos. O episódio demonstrou com violência quão grande é seu fraco pelo Eiji. Eu realmente espero que ele tome uma injeção de bom senso nos próximos capítulos. Do contrário, creio que estamos olhando para episódios bem dolorosos…
Diego:
Acho que mais interessante que a afeição do Ash pelo Eiji é a reação dele ao Blanca. Fosse literalmente qualquer outro assassino profissional, eu tenho certeza que o Ash tentaria lutar de alguma forma, mas só de saber que era seu antigo professor ele simplesmente desistiu ali mesmo – e toda a sua subserviência posterior deriva disso. Aparentemente é a primeira vez em toda a série que o Ash se sente genuinamente incapacitado, e a barreira que ele primeiro precisará superar é o seu medo do Blanca.

E sobre o Ling: nesse ponto da história eu tenho quase certeza que ele ta apaixonado pelo Ash 😛 Tanto é que a raiva maior dele é como o Ash está disposto a fazer (e a perder) tudo pelo Eiji.

Fábio "Mexicano":
Temos duas coisas que ficaram fortes nesse episódio: o Ash faz qualquer coisa pelo Eiji e o Ash teme Blanca, seu ex-mestre. Quanto será, da reação dele, que tem a ver com o Blanca (ou seja, qualquer outro assassino e ele teria enfrentado Golzine e Yut-Lung), e quanto tem a ver com o Eiji (se fosse ele próprio o alvo, ele enfrentaria o Blanca, o Ryu, o Bison, o Street Fighter inteiro)?
Diego:
Eu acho que se fosse ele próprio o alvo, o Ash possivelmente tentaria fugir, mas não lutar.
Fábio "Mexicano":
Ok, para você as duas coisas são simultaneamente absolutas, tem sentido 😃
Vinícius Marino:
Acho que tem completamente a ver com o Eiji. O Ash, por si só, se vê como um caso perdido. Ele sobrevive de ruim, de teimosia de morrer. Mas não tem o menor pudor de se colocar na linha de fogo. Ele mesmo disse isso, naquela bela analogia sobre o leopardo subindo a montanha (que até integrou o opening!). Acho que é justamente essa mudança que torna seu desenvolvimento tão marcante. Com o Eiji por perto, ele perdeu esse “fio” que fazia dele o Ash.

Quero contar uma história pessoal agora. Eu tinha um amigo militar. Na verdade, ele era médico. Em situações normais, as tarefas dele seriam as mais normais possíveis. Mas ele estava em um lugar ruim, emocionalmente. E começou a se voluntariar para as missões mais difíceis. Um dia, fez um teste para uma posição bem perigosa. Não sei o que era, mas o treinamento era tão pesado que ele foi hospitalizado.

Nesse intérim, ele arrumou uma namorada. E logo depois largou tudo. Perguntei para ele “por que você mudou tão radicalmente de caminho?” Ao que ele respondeu “Então, pois hoje eu me dei conta que tem alguém me esperando em casa”.

De certa forma, ele, também, encontrou encontrou um Eiji na sua vida

Fábio "Mexicano":
A vantagem dele é que pôde escolher sair, né? Esse é todo o drama do Ash. No começo ele não podia escolher sair porque ele não aceitava apenas deixar para trás, sem troco, alguém que destruiu sua vida. Depois ele começou a mudar de ideia quanto a isso ao perceber que estava ferindo outros ao seu redor (o momento chave aqui foi quando ele teve que matar o Shorter). Mas daí ele já estava mergulhado de cabeça, mais do que nunca, naquele mundo. Fugir não era mais uma opção.
Gato de Ulthar:
Acho que já disse isso, mas o Ash desistiu de lutar pelo Eiji. Isso é um tanto contraditório, mas há um paralelo no mundo animal, pois feras caçadoras e criaturas herbívoras mas fortes, como alces, grandes cervos e búfalos, quando se veem encurralados sem chance nenhuma de escapatória, ou ainda feridos mortalmente, param de reagir e aceitam o seu destino. No caso do Ash, o Eiji estaria em segurança, o que não é o caso, aposto que o Eiji vai se meter em alguma confusão tentando procurar o Ash e este vai ter que intervir para salvar a sua pele
Fábio "Mexicano":
Eu sei (aprendi lendo mangá: Crimsons. Os protagonistas são salmões, recomendo) que em algumas espécies de peixes, quando atacados por predadores, um grupo pequeno se destaca do cardume para agir como despiste e sacrifício para que o resto fuja. Mas acho que não é exatamente a mesma coisa. Só queria fazer propaganda de Crimsons mesmo.

Mas bem, vamos tentar responder a pergunta que deixa Yut-Lung perplexo: por quê o Ash age assim por causa do Eiji?

Diego:
Porque o roteiro pede? 😛 Ok, vai, uma resposta mais justa seria amor à primeira vista mesmo. Ou o que já discutimos em outros momentos sobre o Ash ver no Eiji a inocência que ele próprio nunca pode ter
Gato de Ulthar:
Amor? Isso responde muita coisa.
Vinícius Marino:
De fato, há um buraco gigantesco nessa relação chamado “amor”. Eu sei que a autora decidiu deixar o afeto entre os dois implícito (se por decisão artística ou editorial devemos apenas imaginar). Mas é evidente que é isso que acontece entre os dois.

Agora, só para não ficar na mesmice, vou propor uma hipótese rival: ele faz isso por orgulho. Mais do que orgulho, na verdade: por uma necessidade (egoísta) de sentir que sua vida faz sentido. Tal como o eu lírico da música “Hurt” do Nine Inch Nails, ele precisa sofrer para saber se está vivo. E esse afeto é uma injeção de sentimento num corpo que, como o leopardo de sua metáfora, está em uma rota de auto-destruição.

Fábio "Mexicano":
Nesse caso, ele mais quer sentir que ama e sentir-se amado, do que ele ama de verdade? Bom, na falta de evidências de qualquer que seja o caso, pode ser tudo. É Occam então que nos diz para ir com a hipótese mais simples e que exige que assumamos menos coisas.
Vinícius Marino:
É o melhor a se fazer, pois esse tipo de coisa é difícil de se provar mesmo em relações humanas. Como saber se amamos de verdade, e não amamos apenas a ideia de amar outra pessoa? Muitos namoros e casamentos acabam por conta disso. E tenho a impressão de que muita gente que vive paixões fulminantes e com fins abruptos têm uma imagem desproporcionalmente positiva da coisa apenas porque não enfrentou o momento de se perguntar isso. Conheço exemplos reais, mas para nos atermos ao mundo dos animes: Chiyoko de Millenium Actress.
Fábio "Mexicano":
Um excelente exemplo. A vida artística, é claro, tinha seu glamour e seus pontos positivos para a Chiyoko, mas ao mesmo tempo era uma vida opressiva. O mesmo pode ser dito do Ash nas ruas do crime de Nova Iorque. Quem é que, nessa situação, não iria querer pelo menos a ilusão de que há algo melhor do que aquilo esperando por eles em algum lugar?
Gato de Ulthar:
O Ash sempre quis ser amado e levar uma vida normal, não foi ele que resolveu virar um escravo sexual e um marginal. Tirando o afeto e cuidado do irmão, que foi logo silenciado, ele só levou patada na vida, tirando o pessoal da gangue claro. Ele redescobriu sentimentos que considerava impossível de surgirem novamente na sua vida.

Episódio 19

Fábio "Mexicano":
Ok, episódio 19 agora. Duas coisas que eu não entendi: o que foi aquilo da “ópera”, que o Dino precisou cegar o Ash. Eles até podem ter ido a uma ópera, mas claramente não foi só isso. E o que Yut-Lung pretende? O comportamento dele está muito errático. Ele ainda está tentando fazer o Ash matá-lo, talvez? Bom, não que o Ash esteja em condições de matar ninguém agora. E vejam só! Um anime no qual existem psicólogos! Ash desenvolveu anorexia nervosa por causa da depressão causada por toda sua circunstância, e o anime continua com as metáforas sobre feras selvagens como se o Ash não fosse humano. Ele claramente é mais humano que todo mundo ao redor dele. Enfim, digam aí o que acharam.
Diego:
Foi um episódio… esquisito. Acho que foi a primeira vez que a mescla de comédia e seriedade de Banana Fish não deu tão certo pra mim. E sim, o Yut-Lung é uma peça meio esquisita nessa história toda. Mas gostei do final, com cada lado terminando os preparativos para a tal da festa. Me pergunto se estamos entrando no último arco ou se isso irá se resolver logo e teremos depois mais um.
Gato de Ulthar:
Eu gostei desse episódio até. Foi muito legal ver o Ash dando uma lição de geopolítica predatória para os militares de alto escalão. Não assisti essa cena sem um sorrisinho no rosto. Lembram que comentamos há vários episódios passados que a trama do Banana Fish trazida ao século XXI emulava a política imperialista dos EUA em regiões como o Afeganistão? Promovendo revoluções de fachada e lucrando com o tráfico de drogas? Então é isso, tivemos a constatação que a produção do anime realmente tinha pensado nisso. Só devíamos avisar ao Ash de que o dos EUA já conhecem essa técnica há bastante tempo. E outra coisa, eu ri com a possibilidade de no mundo real termos um Ash ditando táticas para os políticos e militares de alto escalão dos EUA 😛
Vinícius Marino:
Sobre a ópera, eu entendi que o Dino queria expor o Ash como “troféu”, mas não queria correr o risco dele armar uma fuga. Então usou uma droga que nublou seus sentidos para que ele não conseguisse reagir.
Gato de Ulthar:
Foi o que eu entendi também.
Vinícius Marino:
De resto, preciso concordar com o Diego. Foi um episódio estranho. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, não necessariamente em harmonia. A comédia quebrou o clima. As transições entre drama e piada foram bruscas demais, incoerentes com a gravidade da situação.

E a “crítica” geopolítica foi trivial, além de ter um horrível ranço de 2003. Os militares são tão cartunescos que parecem vilões de Call of Duty. Mesmo para enfatizar a crueldade do Dino (fazer o Ash “perder sua alma” realizando malvadezas) soou barato. Banana Fish não é nenhum Golgo 13, mas bem que poderia ter abordado esse jogo político com um pouco mais de propriedade.

Gato de Ulthar:
E pensar que o alto escalão dos EUA precisasse de uma dica do Papa Dino ou do Ash para realizar suas maquinações internacionais como se eles fossem puritanos é bem ridículo mesmo. Gostei mesmo pelo anime mencionar um tema polêmico como esse, mas a execução deixou a desejar.
Vinícius Marino:
Não sei até ponto chamaria de “polêmico”, já que nunca vi ninguém fora dos EUA que considera a ocupação do Afeganistão defensável. É uma crítica que parou de ser feita porque saiu de moda. Banana Fish poderia abordar a intervenção americana na Síria se quisesse um tema realmente controverso.

Mas meu problema não foi nem esse. Poderia ser qualquer guerra (até a do Vietnã da obra original). É o velho cliché de um “alto escalão” que tem poder irrestrito para fazer o que quiser. Governos são coisas extremamente complexas. Você tem fechos e contrapesos, auditorias orçamentárias, facções opostas no congresso, rotação de mandatos, lobbies, rivalidades entre serviços, etc. O governo americano, então, não conseguia ficar de bico calado nem na Guerra Fria (vide o “Garganta Profunda”). Dizer que há grupos de interesse com know-how para “surfar” no sistema é uma coisa. Supor que o sistema inteiro está arquitetado para a conspiração é infantil.

Mas, pensando agora, esse é exatamente o tipo de governo que aparece nos filmes de ação dos anos 1980, de que Banana Fish é um tributo. Então acho que minha crítica é infundada.

Gato de Ulthar:
A menção de que os EUA é um dos apoiadores e maiores lucradores com a droga produzida no Afeganistão é uma afirmação bastante controversa. Criticar a invasão do Afeganistão qualquer um faz e realmente é algo super manjado. Que fique claro. Eu também não gostei da execução dessa cena, só o tema me foi interessante. O fato é que Banana Fish passaria melhor sem esse conteúdo.
Fábio "Mexicano":
Não tinha entendido a ópera dessa forma, não me pareceu que o Dino estivesse com medo do Ash fugir àquela altura. Mas não é impossível, é uma explicação que faz sentido e não exige que o anime retome isso depois. Porque ele não vai retomar, né?

Sobre o cenário, é o que a gente já conhecia mesmo. O que me irritou não foi a cúpula do Pentágono na casa de um mafioso (ainda que um bastante graduado depois de limpar a concorrência), mas sim o Ash ter literalmente repetido o que eles descobriram faz tempo, e todo mundo fazer cara de que ouviu aquilo pela primeira vez. Quero dizer, eles ouviram pela primeira vez então, né? Nesse caso, qual é, estavam esperando que um mafioso fosse fazer caridade? Não, tudo bem. Talvez só aquele general que morreu soubesse. Mas depois o Dino disse para o Ash que o moleque “aperfeiçoou” o plano. Eu juro que ele disse exatamente o que foi dito antes, mas se ele “aperfeiçoou”, então aperfeiçoado está.

Enfim, é como os filmes dos anos 1980. A gente assiste James Bond e acha que o agente secreto com permissão pra matar tinha inimigos esquisitos, com planos infantis, mas é bem isso que vocês disseram, quase todo filme nos anos 1980 era assim. Era isso ou mais um filme de Guerra Fria, no qual os soviéticos não eram inimigos muito melhores.

Diego:
A parte da “política” foi mesmo sofrível. QI de 200 ou não, ver esse adolescente sugerindo aquele plano e a alta cúpula reagindo com descrédito, como se algo assim fosse desumano demais para eles, é idiota e mesmo ingênuo.
Fábio "Mexicano":
E o pior foi: aquilo foi literalmente o que o anime já tinha dito antes. O Ash não vai parecer inteligente, para mim, repetindo o que ele descobriu episódios atrás, não importa quantos generais fiquem impressionados e o quanto o Dino o elogie.
Vinícius Marino:
É o velho problema dos “personagens gênios” de que já falamos na discussão sobre LOGH. Escrever um gênio é muito difícil. Na maioria das vezes, ao inserir uma personagem muito inteligente autores fazem todas as outras parecerem estúpidas. Tivemos uma amostra clara aqui hoje.
Fábio "Mexicano":
É por isso que Banana Fish brilha nos tiroteios e nos conflitos, disputas e conspirações nos quais o Ash mete a mão na massa, não fica só falando sobre. Aí sim, dá para ver a genialidade dele em ação, mesmo que seja absurdamente inverossímil (como decorar o mapa de um edifício complexo em segundos). Quando o anime só quer que acreditemos que ele é genial a coisa meio que não está dando certo.

Essa é a hora que coadjuvantes deveriam assumir o controle, e para crédito do anime, Banana Fish tentou fazer isso com o Yut-Lung, mas ele ficou parecendo só um maluco indignado o tempo todo porque o mundo não gira ao redor dele. O final do episódio 19 sugere que o Eiji vai assumir o controle, vamos ver como ele se sai. O Ash por enquanto está fora de combate.

E é isso aí, já são três episódios, vamos fechar a discussão por aqui. Até a próxima!

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