Assim como a terceira temporada de To Aru Majutsu no Index, eu também tenho que lidar com alguns problemas. Adaptar uma quantidade enorme de volumes em vinte e seis episódios é apenas um desses percalços que a série está enfrentando. Sobre os meus problemas, primeiro, não cabe a mim me manifestar neste artigo, pois este espaço não é um lugar adequado para isso. Segundo, o que interessa para o leitor(a) do blog é o comentário do anime, não minhas desculpas e lamentações pessoais.

Até aqui, os arcos ligado à magia têm sido mais interessantes do que os arcos ligado à ciência. Nas temporadas anteriores, eu achava o contrário.

O charme de Index está no seu vasto universo que é riquíssimo, mas há outros elementos interessantes para ressaltar, como os poderes criativos dos personagens. A habilidade do “Terra”, por exemplo, é bem curiosa. Nunca na história dos animes eu vi alguém usar farinha de trigo como arma (o que por si só já é inusitado e criativo ao mesmo tempo), porém existe algo ainda mais interessante por trás disso. Embora já tenham explicado a origem do poder dele, ainda acho válido comentar a respeito. Beber de fontes religiosas para se criar uma história não é algo raro. Desde da clássica mitologia grega até do próprio budismo (religião majoritária no Japão). No caso deste anime, há muitos elementos do cristianismo (religião predominante no ocidente), e para compor o poder do vilão Terra, por exemplo, usaram o fato de Jesus Cristo ter deixado toda a sua glória para se tornar homem e se sacrificar para salvar a humanidade de seus pecados. Tão fascinante quanto essa habilidade do vilão, é a sonoplastia do anime, que está bem eficiente (pois o resto…). O som do “imagine breaker” ficou demais.

Tirando cenas de fanservices, que eu considero desnecessárias, a história continua legal, entretanto, adaptar uma enorme quantidade de volumes da light novel em 26 episódios não é uma tarefa fácil. Então a solução é fazer cortes (o que não é nenhuma novidade), o que é ruim para quem não viu o material original.

O segundo arco foi o mais apressado e rushado até agora ao meu ver (lembrando que eu não li o material fonte), ou seja, tinha tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que ficou confuso. O que exatamente queriam aquelas facções? Qual o real objetivo do Kakine? (Quem leu a light novel poderia me explicar esses detalhes nos comentários). Ainda sobre o segundo arco, o comportamento da Mugino me surpreendeu, ela parecia mais amigável com as suas companheiras quando ela e seu grupo foram apresentados na segunda temporada de To Aru Kagaku no Railgun.

A atitude do Hamazura foi bem legal, pois mesmo sem poder, ele enfrentou, de forma insana, alguém mais poderoso do que ele. Dá para notar que o Touma o influenciou a mudar de atitude.

Para encerrar o segundo arco, o Accelerator teve seu momento para se destacar. Embora ele se julgue um vilão, ele não faz “vilania” com quem não merece, tão tal que ele aproveitou uma brecha para salvar pessoas que não estavam envolvidas na sua luta contra o Kakine. A Last Order, que parecia ser só uma figurante nesse arco, teve uma importância simbólica em mostrar que o Accelerator tem um lado humano. Sem ela, ele poderia se tornar algo bestial e fora de controle.

Eu pensava que a única forma de uma farinha de trigo fazer mal ao estômago fosse através de uma má digestão

Outro ponto que eu gosto na série são as conspirações políticas, que estão a todo vapor. Começando pelos protestos contra a Cidade Acadêmica que já estavam ocorrendo desde o episódio de estreia dessa terceira temporada. O fato de tais protestos serem uma manipulação mágica me surpreendeu um pouquinho, pois esperava algo mais espontâneo.

Dois fatos históricos presentes nos primeiros episódios foram a Doação de Constantino (representado por um artefato mágico chamado Documento C) e o Papado de Avinhão.

Doação de Constantino 

No processo de formação da Igreja Católica, observamos que o fortalecimento dessa instituição enfrentou situações que ameaçavam a sua unidade. Uma delas ocorreu no ano de 476, quando a queda do último Imperador romano do Ocidente estabeleceu o triunfo das invasões bárbaras na Europa. Mais que um simples evento de ordem política e militar, esse acontecimento poderia significar o enfraquecimento do cristianismo frente às religiões pagãs que tomavam corpo.

Foi então que os clérigos da alta cúpula cristã apresentaram a chamada Doação de Constantino, um documento de 337 em que o Imperador romano de mesmo nome teria reservado todo o Império Romano do Ocidente para a Igreja. Apesar de não ter assumido os reinos europeus diretamente, esse mesmo documento teve grande força política para expressar a influência dos chefes cristãos frente os reinos que se organizavam naquele tempo.

Papado de Avinhão

Durante boa parte do século 14 o papado ficou dividido entre sua sede original em Roma e a cidade fortificada francesa de Avignon.
A divisão surgiu com as pressões e ofensas mútuas entre coroa francesa (que condenava o Papa Bonifácio 8º por heresia e sodomia) e papado (que condenava a política de cobrança de impostos promovida pela França).

Com a morte de Bonifácio VIII, em 1303, Felipe IV pressionou pela eleição de um Papa francês, fazendo substituto de Bonifácio VIII o Papa Clemente V. Para manter um controle mais rígido sobre o papado, Felipe IV transferiu Clemente V de Roma para Avignon, no sul da França. Tinha início o período conhecido como o Cativeiro de Avignon, que durou de 1307 a 1377, em que vários Papas se submeteram ao poder dos reis Capetíngios.

De volta ao anime, o terceiro arco teve alguns pontos a serem destacados, como o Touma não ter sido o protagonista, no sentido de salvar o dia ao eliminar o vilão da vez; a Misaka ficando cada vez mais apaixonada pelo Touma, não que ela vai mudar de personalidade, mas tende a compreender melhor seus sentimentos e ser sincera consigo mesma; o fato da Kanzaki ter vencido a luta contra o Acqua através da união dela com os membros da igreja Amakusa (e claro, com a ajuda do Touma).

É interessante que a aliança formada para lutar contra o Acqua mostra que a união faz a força, e isso sem se tornar algo apelativo, semelhante ao famoso “poder da amizade”. A igreja Amakusa não venceu pelos seus membros serem amigos, mas sim porque eles tiveram a humildade de reconhecerem suas fraquezas e perceberem que só poderiam ter alguma chance unidos. A Kanzaki, mesmo sendo uma santa, também teve a humildade de reconhecer que sozinha não venceria. Nesse arco mais uma vez foi usado simbologias cristãs como a veneração à Virgem Maria e a famosa lança que perfurou Cristo, a Lança de Longino.

No final do nono episódio apresentaram o provável vilão do arco atual

No décimo episódio, temos o início de um novo arco, concentrado ainda no lado mágico do universo de Index. Parece que desta vez a Index terá alguma importância ao invés de pensar só em comer e morder o protagonista. Enfim, o atentado terrorista serviu para colocar uma certa tensão nesse início de arco, o que deu certo. Agora resta saber o que virá, e mesmo não tendo lido a light novel, sei que virão batalhas legais, mesmo que não sejam um primor em termos de animação.

Obrigado a todos que leram até o final, até o próximo artigo!

 

Fonte sobre o Papado de Avinhão (1): https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq07119823.htm

Fonte sobre o Papado de Avinhão (2): https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/cisma-ocidente-na-igreja-catolica.htm

Fonte sobre a Doação de Constantino: https://www.historiadomundo.com.br/idade-antiga/a-doacao-de-constantino.htm

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