The Promised Neverland – A perda da inocência – Primeiras impressões
The Promised Neverland, Yakusoku no Neverland no original, é a adaptação de um mangá de sucesso que sai nas páginas da Weekly Shonen Jump e, inclusive, é lançado aqui no país pela editora Panini. O que esperar do maior hype dessa temporada de inverno? Leia essas primeiras impressões para saber!
A primeira cena desse anime contextualiza algo importante sobre o mundo no qual seus personagens habitam. Grace Field House é o nome do orfanato em que Emma, Norman e Ray vivem desde sempre juntos a outras crianças que também compartilham do mesmo destino.
A figura da Mamãe, cuidadora do orfanato, é incontestável, tanto é que as crianças não tentam transgredir os limites que ela impõe e acreditam piamente em seu amor e carinho por elas – o mundinho em que elas vivem é uma bolha.
Depois da agitada e competente abertura – afinal, se esquivaram ao máximo de dar qualquer spoiler – o que vemos é um dia normal nesse orfanato cheio de crianças de no máximo 11 anos e suas vidas alegres e pacíficas.
Elas têm aulas, fazem provas e suas pontuações são catalogadas; algo saudável e bom para estimular o gosto pelos estudos e a competitividade desde pequeno, tanto é que o Don se sente diminuído por não alcançar uma posição tão boa e isso funciona como gancho para outra cena.
As crianças têm direito a uma vasta área na qual podem se divertir, praticar esportes e brincar umas com as outras; o que torna esse lugar o mais próximo possível de um paraíso para órfãos, não acha? Mas é claro que uma vida tão “perfeita” assim não pode ser normal – e esse orfanato também não é.
Repare como foi dado um baita, apesar de breve, foco nos números nos pescoços das crianças e veja como é bem estranho que elas sejam marcadas de modo similar a animais de um rebanho. Tudo bem que a história se passa em 2045, mas não havia formas melhores de identificar essas crianças?
Não é somente isso que é estranho, as colocações que um dos indicados protagonistas faz em conversas nas quais normalmente se faria outra observação corroboram com uma sensação de deslocamento, de que nem tudo é exatamente o que parece nesse orfanato; e isso é bom, pois antes de revelações foreshadowing são muito bem-vindos – ainda mais se são como peças soltas de um quebra-cabeças.
O episódio segue, mas antes de comentar seu momento derradeiro elogiarei o estúdio CloverWorks que fez um bom trabalho nessa adaptação, pois tanto entregou uma ótima animação, trilha sonora, roteiro e direção; quanto adaptou o mangá sem alterar sua “essência”, mas sem esquecer de dar ao anime um toque próprio.
Souberam aproveitar o “privilegio da animação” de maneira inteligente – a movimentação da câmera em algumas cenas e o relógio atrás do Norman são exemplos – e também realçaram partes – como o enfoque nos números – e mudaram outras – faz mais sentido uma criança chorar ao se despedir da única família que conhece, né – com o intuito de melhorar a experiência do telespectador – isso foi ótimo, pois indicou que a produção está atenta a qualidade do produto final.
Mas o maior exemplo disso com certeza é o trecho final e como foi feita a revelação sobre a verdade que rege esse estranho mundo. A pequena Connie estava indo embora para ser adotada, como ficou claro que acontecia com as crianças de tempos em tempos, e sua partida permitiu o cenário perfeito para a exposição de uma cena angustiante para a Emma e o Norman; e para nós do público.
Não era de se esperar algo muito diferente – a obra não faria esse sucesso se não possuísse um elemento desses na trama –, mas o modo abrupto como a Connie aparece morta enfeitada por uma flor vermelha foi um baque seco, trazendo uma sensação de desconforto que incomodou até mesmo a quem leu o mangá – meu caso.
Mas o melhor de tudo foi que essa cena impactante não foi jogada na tela gratuitamente e nem explorada em demasia. Desde o jogo de câmeras, passando pela trilha até o foco nos rostos da Emma e do Norman – tudo foi feito para expor um cenário de horror disforme à realidade conhecida.
Nesse momento os números nos pescoços das crianças começaram a fazer todo o sentido, os limites impostos pela Mamãe também, assim como todas as outras despedidas de crianças que aqueles dois consideravam parte da família.
Grace Field House é, na verdade, um criadouro de carne de qualidade para Demônios, um universo isolado sob condições ideais no qual pratos requintados são preparados para serem saboreados por criaturas medonhas que eles não faziam a menor ideia que existiam.
Não é fácil perder a inocência com a qual se vê o mundo, mas é ainda pior perdê-la de forma tão violenta, sendo jogado frente a uma realidade que faz lamentar o passado imutável e se desesperar pela falta de perspectiva de futuro.
A única saída para adiar o que parece inevitável é escapar do orfanato, mas para onde? Quando? Como? Além disso, com que apoio já que a Mamãe que eles amam é um deles? Não um monstro em pele de monstro, mas um monstro em pele de humano. E ela pode ter tido suas circunstâncias para ter chegado a tal ponto, mas isso não mudará a natureza hedionda dos seus atos.
É ciente dessa situação desesperadora que a afetuosa Emma se agarra ao desejo de salvar toda sua família. O Norman também entra em choque, mas faz o que pode para não desabar na frente dela e a oferta o único caminho possível: fugir, desafiar essa realidade cruel.
Os detalhes da fuga, de como ela ocorrerá e também mais detalhes que expliquem porque Demônios tratam humanos feito gado ficam para depois. O que resta agora é tentar entender o que aconteceu, e isso tem a ver com o Ray, afinal, ele quem havia agido de forma estranha anteriormente, ele quem disse para a Emma e o Norman irem atrás da Connie para devolver a pelúcia e foi ele quem ouviu atrás da porta sem expressar qualquer surpresa.
É óbvio que ele já sabia de tudo, mas por que nunca contou? Por que deixou várias crianças morrerem? Aliás, como ele descobriu tudo isso? Qual era a intenção dele ao induzir seus amigos até essa descoberta. Será que ele deseja salvá-los agora que os momentos finais dos três se aproximam?
The Promised Neverland tem muito mais por baixo da superfície do que aparentou em um primeiro momento e é a partir daqui que a história de luta pela sobrevivência dessas crianças se inicia.
Quem elas conseguirão salvar? Quem perecerá no meio do caminho? Qual a saída para toda essa situação? O que levou o mundo a ficar assim? Aliás, quais são as circunstâncias desse mundo? O que são esses monstros, que no mangá são chamados de Demônios? Por que eles possuem linguagem, castas – fica claro que nem todo Demônio pode comer carne de primeira – e ordenam humanos a criarem outros humanos para o abate? Surgiram muitas perguntas a serem respondidas nesse anime, não é mesmo?
Acho que esse episódio aguçou a curiosidade da massiva maioria dos telespectadores e, ainda que eu seja leitor do mangá, vou entrar na “brincadeira” e farei meu melhor para compartilhar das surpresas que o anime reserva enquanto comentá-lo aqui no blog.
O último ponto que gostaria de comentar se refere aos protagonistas: Emma, Norman e Ray. Você percebeu as diferenças entre as personalidades dos três? Enquanto a Emma é mais emotiva e transparente, o Ray é mais observador e ponderado, já o Norman é uma mistura dos dois, conseguindo equilibrar seu lado emocional e racional – a maneira que ele lidou com o desafio do Don e tentou acalmar a Emma foram bons exemplos disso.
E do outro lado temos Isabella, aquela que criou os três e nunca perdeu para nenhum deles no xadrez, um jogo de estratégia pura. É certo que eles terão que lidar com a mulher que os criou para fugir do orfanato, mas como farão isso sem força física ou recursos?
Terão que usar de seus intelectos prodigiosos, e é isso o que eu espero ver nessa série. Uma luta pela sobrevivência em que essas crianças usarão seus cérebros como suas armas. Se elas conseguirão escapar ou não, tenho certeza que você está a fim de saber e, sendo o caso, vá além dessa estreia e acompanhe meus artigos desse anime tão promissor!