No Game No Life é um xodó do público brasileiro, e não é por acaso, afinal, que otaku brasileiro não se interessaria por uma light novel escrita por alguém que nasceu aqui? Esse é o caso de Yuu Kamiya – cujo “nome de brasileiro” é Lucas Thiago Furukawa –, mangaká e escritor de light novels que possui várias obras publicadas no Japão e faz bastante sucesso por lá.

Não à toa No Game No life – sua obra mais conhecida – teve tanto a sua light novel – que é a fonte original –, quanto o mangá lançados por aqui pela editora New Pop. Os dois ainda estão em andamento, por aqui quase encostados no Japão, e neste artigo darei minhas primeiras impressões sobre a lenda dos irmãos gamers de outro mundo!

A premissa do livro é simples, ela nos apresenta a Sora e Shiro, irmãos gamers que juntos integram o Kuuhaku – cujo significado é “vazio” –, a lenda urbana do melhor jogador que se alastrou como fogo pela internet e que, como toda lenda urbana, tem uma parcela de verdade e outra de mentira, afinal, Kuuhaku não é só um jogador, mas uma dupla de NEETS reclusos que não conhecem a derrota.

É por isso que um Deus de Dashboard – outro mundo no qual tudo é decidido por jogos – decide “desafiar” essa dupla e ver do que ela realmente é capaz. O evento pode parecer conveniente para levar os dois para outro mundo, mas você não ficaria entediado se não soubesse o que é a derrota e tivesse magia e tempo de sobra, nunca sendo contrariado? É o caso desse deus, e se ele quer se curar de seu tédio, nada melhor que contar com o potencial da raça humana de tornar possível até o que é inimaginável.

Aliás, um dos pontos positivos da escrita de Kamiya é que ao mesmo tempo em que exalta a força da humanidade, ele critica essa mesma humanidade, afinal, não foi à toa que os dois se fecharam para o mundo real que consideram apenas uma droga de jogo ruim.

Não é porque a humanidade é capaz de conceber verdadeiros “milagres” que ela não tenha seus problemas, que foram notados pelos irmãos e fizeram com que eles levassem suas vidas de uma maneira incomum, direcionando os talentos que possuem para os jogos – além de também terem aprofundado a relação um com outro.

Eles não têm relação sanguínea, mas estão tão profundamente ligados que são mais que irmãos, complementando um ao outro em todos os aspectos que podem levá-los a vitória em qualquer jogo por eles disputado.

Sim, eles são overpower, mas isso não é um problema devido a ótima execução da premissa da obra. No mundo de Dashboard tudo é resolvido por jogos e regulado por 10 mandamentos absolutos, não é como se dinheiro, status social ou força física não importassem, mas superar as diferenças passa a ser realmente possível com o poder do intelecto, da perseverança e um pouquinho de sorte, talvez?

Não, e se for é só um pouquinho, pois uma das ótimas sacadas da obra é a explicação para as vitórias da dupla. Às vezes é raciocínio lógico puro, às vezes é sagacidade, por outras é uma mistura das duas, e com certeza sempre é muito por causa da forte predileção, da verdadeira paixão, que eles têm por jogar.

O Lucas– Digo, o Yuu Kamiya deve ser um gamer bem experiente e apaixonado, pois todo esse fascínio pelos jogos, assim como a criatividade para saber explorar jogos comuns de jeitos diferentes, torna a leitura bem prazerosa, apesar da escrita ser muito simples e o mundo ser construído ao redor dos protagonistas.

Na verdade, é até bom que seja assim, porque eles são “especiais” e estão em um mundo desconhecido para o leitor, então aguça a curiosidade dele se as outras raças, há dezesseis no total, e seus territórios forem sendo explorados aos poucos. Aliás, os Imanity – os humanos do local – estarem em uma situação tão desfavorável quando os irmãos chegam é uma ótima forma de motivar o Kuuhaku a ir além.

Não é como se o território de uma raça que compreende apenas a capital fosse um grande desafio de ser conquistado para uma dupla imbatível, não é mesmo? Verdade que a coisa escala bem rápido, com eles logo dominando a Princesa e tendo o direito de desafiar aquela que lhe tomou o trono, mas não é como se fizesse sentido perder tempo.

A leitura desse primeiro volume de No Game No Life é bem dinâmica, vai direto ao ponto na maioria das vezes e até quando enrola com suas cenas de fanservice ou comédia humilhante questionável, tem um motivo, afinal, por mais que a Stephanie Dola seja derrotada pelos irmãos em qualquer jogo que dispute com eles e passe por umas situações bem constrangedoras, fica claro que esses momentos também servem para desenvolver os personagens, assim como a “amizade” que passa a surgir entre eles.

Isso é importante para firmar os laços de confiança necessários para que eles consigam obter as vitórias contra as outras raças. Sim, é importante o Kuuhaku conhecer bem os colaboradores com os quais irão contar, os usando da forma mais benéfica possível.

Afinal, apesar do primeiro livro tratar apenas da ascensão deles ao trono dos Imanity, a série continua e para que alcancem seu objetivo de desafiar e derrotar o Deus “maioral” a jornada será longa, e passará por vários jogos contra diversas raças – todas com uma maior afinidade por magia que os humanos na história. As adversidades só se acumulam, e é bom que seja assim, né?

O primeiro volume é muito divertido e introduz bem o mundo no qual os irmãos foram parar, o que os torna tão fortes – a profundidade da relação deles, assim como seus talentos naturais e o esforço que fazem para continuar sendo os melhores – e traça os objetivos dos dois de maneira consistente.

As personagens secundárias, todas mulheres, têm seu carisma e não existem só para o fanservice – o que está ali, e até pode incomodar dependendo do seu gosto, mas não atrapalha o desenvolvimento da trama – ou para exaltar personagens principais que não são tudo o que parecem.

Sora e Shiro são carismáticos muito pelo que fazem durante os jogos, mas também são personagens interessantes no pós-jogo e no pré-jogo. Apesar de serem concebidos em cima de estereótipos, o da loli kuudere e do virjão metido a astuto, suas personalidades vão além disso, pois fica claro que eles têm seus dramas e são frágeis igual qualquer outro humano – eles são badasses, mas não personagens sem conteúdo.

O que posso comentar a mais sobre esse livro? Que mais do que indico que você dê uma chance a ele e o leia. Ainda que você já tenha assistido o ótimo anime de 2014, produzido pelo estúdio Madhouse, vale a pena folhear a obra original do japonês mais brasileiro desse ramo. Até um próximo jogo bom!

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