Toradora! é um trocadilho que advém da junção de Tora, que significa Tigre em japonês, e Doragon, a japonizarão da palavra Dragão em inglês. Juntas elas formam Toradora! – história de uma “tigresa de bolso” com seu “dragão de estimação”. Digo, é a comédia romântica da furiosa Taiga Aisaka e do mal-encarado Ryuuji Takasu; cujos nomes também são um trocadilho com o Tigre e o Dragão.

Sim, a autora Yuyuko Takemiya é bem-humorada, mas não é só isso, já que em pouco mais de 300 páginas ela entrega um romance envolvente com bons personagens e uma trama que trabalha bem o drama em meio aos problemas da adolescência. Não é só romance! É hora de Toradora! aqui no Anime21!

Toradora! começa nos apresentando a Ryuuji Takasu, um garoto do segundo ano do colegial que tem uma característica bem peculiar: seus olhos são aterrorizantes, é como se ele fosse o delinquente por natureza que sempre aparece nas histórias de gângsters japonesas.

Todavia, sua verdadeira natureza não poderia contrastar mais com seu olhar e expressão; já que ele é gentil, atencioso, tem mania por limpeza e é incapaz de fazer mal a uma formiga sequer. Ryuuji é um rapaz pacato e desencanado que tem uma situação familiar um tanto peculiar – mas não é infeliz – e não liga para boatos que circulam em torno dele.

Ele é um adolescente normal, tanto é que é apaixonado por Minori Kushieda – garota simpática que é a melhor amiga da furacão em miniatura que mudará para sempre sua vida –, mas é Taiga Aisaka, aquela que põe medo em todos com seu pavio curto e personalidade arrojada, que logo rouba a cena e, devido a um mal-entendido, acaba por se envolver com Ryuuji em uma situação para lá de estranha e que os aproxima para o que será o “núcleo” dessa obra: a história de amor dos dois.

Ryuuji é apaixonado por Minori, melhor amiga de Taiga, e a tigresa de bolso – apelido que não podia dar mais certo, afinal, Taiga é uma tigresa em tamanho pocket – é apaixonada por Yuusaku Kitamura, melhor amigo de Ryuuji. Partindo dessa premissa descaradamente clichê, a trama não se prende só a isso, mas também toma um rumo bastante clichê, a união entre Taiga e Ryuuji a fim de que um ajude o outro para que ambos consigam alcançar seus objetivos amorosos.

Porém, o absurdo das situações que a autora usa para demonstrar o quanto a Taiga é desastrada e o começo meio disfuncional dessa relação fazem com que a trama caminhe de maneiras não tão clichês e, se clichês, pouco incômodas.

Esqueça os planos bobos que a dupla dinâmica arma para se aproximar de suas paixões. Na verdade, não se esqueça, pois eles são necessários para desenvolver o que é mais importante no primeiro dos dez livros que essa série tem: a relação peculiar que Ryuuji e Taiga desenvolvem. Ela é mandona e se aproveita da bondade do garoto, ele é certinho demais para deixar de lado alguém que ele sente que precisa de ajuda.

O que começa com um mal-entendido sem noção, uma relação de “servo e mestre” e uma amizade de interesse, acaba por se tornar uma doce história de amizade sincera e palpável, já que com o tempo Ryuuji percebe – a história é praticamente toda contada sobre o seu ponto de vista – que tem mais a ver com Taiga do que somente a má reputação na escola.

Eles são sempre julgados por pessoas que não os conhecem, que só enxergam neles o externo, quando no interior são pessoas como quaisquer outras; que riem, que choram, que têm seus próprios problemas e dificuldades igual a qualquer outro jovem da idade deles. E é meio que sem querer que eles vão se ajudando, brigando, se conectando; e desenvolvem uma bela amizade que pode ser chamada de tudo, menos de artificial.

Apesar da Taiga ser mandona e turrona, além de depender demais do Ryuuji por ser toda estabanada e tê-lo como um ombro amigo no qual desafoga todas as suas mágoas, não é como se ele não tivesse uma experiência recompensante ao estar ao lado dela, afinal, ele sai de sua vidinha medíocre e passa a fazer com ainda mais intensidade algo que já fazia bem demais: cuidar de outro alguém.

Ele faz isso com a própria mãe, apesar de ela ainda ser aquela que traz o sustento para dentro de casa, e é com a Taiga que essa sua natureza protetora fica ainda mais intensa. Mas não é só isso, pois aos poucos ele vai passando a admirá-la, vendo nela trejeitos que ninguém mais vê. Ele passa a gostar do tempo que passa com ela e apesar de sua atitude ríspida e autoritária a garota vira e mexe mostra que também se importa muito com ele e valoriza os esforços que ele faz por ela.

A relação dos dois aos poucos vai se tornando amizade, e também aos poucos vai a transcendendo. Contudo, foi uma jogada de mestre da autora não fazer com que os dois admitissem que se amam nesse primeiro volume, pois isso seria um desperdício de potencial, já que limitaria uma relação tão boa e divertida que acabou de começar a ser aprofundada.

Diferente de romances nos quais concretizar o amor platônico tem vez, Toradora! se preocupa mais em fazer o leitor acreditar no sentimento que vai se desenvolvendo com o convívio e as adversidades do dia a dia. A novel não tem exatamente a história mais verossímil ou as situações e os desfechos mais realistas possíveis. Entretanto, a trama é honesta no que mais importa, ela deixa transparecer muita “verdade” na maneira como os protagonistas interagem e se resolvem entre eles.

Antes de comentar os dois pontos altos desse livro preciso reafirmar o quanto é divertida a interação entre o Ryuuji e a Taiga e como ela “carrega” bem esse primeiro volume, tanto é que apesar de haver bem pouco dos personagens coadjuvantes isso não faz tanta falta, porque os protagonistas são bem carismáticos e tem um bom desenvolvimento, além de amadurecerem um pouco ao longo da leitura.

Uma coisa bem legal é como o Ryuuji se dispõe a acordá-la e a preparar comida para ela, chegando a inseri-la em seu ambiente familiar – desencanada como a mãe dele é nem estranhei ter corrido tudo bem. Isso é até um pouco incomum, pois na relação deles o Ryuuji é a calmaria, a segurança, e ela é a tormenta, o imprevisível. O homem aqui é o porto seguro e a mulher é tudo menos isso, na verdade, é exatamente o contrário.

Entretanto, o contraste de suas personalidades é bem trabalhado; a Taiga tem momentos de fragilidade e dependência emocional, e o Ryuuji por vezes tem que sair do comum a ele, tendo atitudes ousadas e que o fazem ir conhecendo melhor a si mesmo.

E após tanto conviver com a Taiga ele passa a ficar mais consciente do que sente, de que há algo especial rolando entre ele e ela, ainda que isso ele ainda não consiga encaixar em uma palavra como amor. Uma cena marcante é quando ele diz que sente pela Taiga o oposto do que sente pela Minori, amor platônico com o qual ele jamais foi capaz de compartilhar tantas experiências – sejam elas boas ou ruins – como o fez com a Taiga.

Antes disso ela pergunta a ele se ele a ama, mas ele responde que não é bem isso, que sente é vontade de protegê-la, mas se ele, que nunca teve um relacionamento amoroso “para valer” antes, quer é estar junto da Taiga, que provas mais ele precisa de que o que ele vive com ela é verdadeiro, é real e palpável; não uma ideia, um sonho que se alimenta do imaginário e do apego afetivo passado?

Com o tempo ele passa a ficar mais consciente de que ela é uma mulher, de que ela é linda, divertida e tem suas qualidades, então é só questão de tempo até ele ter certeza de que a ama. Isso eu espero que aconteça depois de um acúmulo ainda maior de experiências que ele terá com ela, e até sem ela, dali em diante, afinal, ainda faltam nove volumes até o final da história, então muitos problemas irão surgir.

Não duvido que a consciência sobre esse amor demore a se definir, nem que só tome a forma de uma certeza após o distanciamento dos dois, até para sentirem a diferença de suas vidas um sem o outro nela. A carga dramática que se intensificou nos capítulos finais até indica mais drama a vista!

Acho que os únicos defeitos do livro é que poderia ser mais longo e apresentar mais situações nas quais a relação dos protagonistas se aprofundasse, além de que poderia ter entregue um pouco mais dos personagens secundários – só que essa expectativa guardo para volumes futuros.

Mas isso não é demérito à leitura, que é boa do começo ao fim, mas melhora significativamente em partes pontuais; como o bota-fora dos protagonistas e a declaração da Taiga com sua repercussão, pois nelas é que o texto consistente fica evidente, já que são momentos nos quais jovens fazem o que fazem de melhor: se rendem aos seus impulsos, extravasando sentimentos, agindo com coragem ainda que a coragem comporte muitos traços de tolice.

É bom ver jovens fazendo besteiras, complicando algo que poderia ser mais simples e se rebelando contra seus próprios infortúnios; porque é isso o que nós podemos e devemos esperar deles. E é ainda mais agradável e tocante ver isso entre dois jovens que dividem os problemas um com o outro, que se apoiam de verdade e dividem algo especial; é sim amizade, quase romance, mas também não é apenas amizade; é algo que “transcende” e faz um não querer largar do pé do outro.

Apesar do livro ser narrado do ponto de vista dele, não é errôneo achar que a Taiga está quase tão, ou até mais, encantada por ele do que ele por ela, o que torna o futuro desse romance – o romance inusitado de um Tigre e um Dragão – mais promissor do que eu estava achando até metade da leitura.

Se duvidar mais que antes de ler, afinal, a light novel de Toradora! não está sendo lançada no Brasil por nada, foi uma obra muito pedida pelos fãs e que tem uma popular e elogiada adaptação para anime que completou 10 anos recentemente.

Aliás, seria leviano concluir meu artigo sobre esse primeiro volume sem elogiar o belo trabalho gráfico da editora, assim como a tradução e revisão com mais esmero que vi entre todas as novels que já comprei da New Pop. A tigresa de bolso literalmente cabe no seu, e é uma compra mais que indicada se você curte um belo romance que é mais que isso!

Nos vemos no próximo artigo sobre light novels, e em algum momento no de Toradora! volume dois!

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