Gon: do Empirismo ao Trem da Vida
John Locke (1632-1704) dizia em sua Teoria Empirista que o ser humano ao nascer é uma tábula rasa, ou seja, a criança é como uma folha em branco, e folha em branco aceita tudo. Ela aprende com as suas experiências e molda seu caráter de acordo com suas vivências.
Partindo do princípio Empirista, podemos considerar o Gon uma tábula rasa no início de Hunter x Hunter e, por isso, assim como nós, ele é moldado de acordo com suas vivências. O mais interessante é ver que ele é precisamente trabalhado emocionalmente dentro do tempo que a obra tem. As coisas vão acontecendo com ele e com seus amigos, ele vai tirando ensinamentos e experiências, e se você comparar o primeiro episódio da obra com o último (do arco do Gon), verá que não é difícil fazer um paralelo com a sua própria vida. Quantas vezes você já passou por algo que mudou alguma coisa em você? Por mais superficial que seja, diariamente passamos por experiências e aprendemos com erros e acertos, sejam nossos ou de alguém do nosso círculo.
O grande Robin Williams (1951-2014) dizia que “Um estômago faminto, uma carteira vazia e um coração partido podem ensinar-lhe as melhores lições da vida.” No momento em que um dos seus amigos foi morto de uma maneira brutal e o Gon se depara com uma cena perturbadora, seu coração é partido e depois sucede que ele perde a cabeça e se deixa tomar pela raiva e depois vai se vingar. O ponto aqui é: o tal do coração partido não necessariamente é por amor ou afins, então dá para colocarmos o Gon aqui.
O problema é o vazio que a vingança deixa. Uma das coisas mais complicadas é conseguir lidar com o vazio que alguém deixa na sua vida, seja por um familiar que faleceu, um relacionamento que acabou ou mesmo uma pessoa que você tem bastante confiança e quebra ela. No último caso, a desconfiança pode aumentar e talvez a resposta mais imediata seja não confiar tão fácil em ninguém, mas nos outros casos, o tempo provavelmente vai curar isso, pois é algo que não necessariamente teve alguma influência. Afinal, todos morrem e tudo que começa também acaba.
Em sua jornada, Gon vai fazendo amizades e claro, inimizades também. É como se a vida fosse um trem; as pessoas que estão no seu círculo são os passageiros que estão no seu vagão; em alguma estação o Kurapika, Leorio e Killua embarcaram no trem da vida do Gon e, naturalmente, chegou a estação em que o Kaito precisou descer. Assim é a nossa vida também, por vezes as pessoas precisam descer por ter chegado sua estação final (morte), e outras apenas precisam fazer baldeação e acabam pegando outro trem, e claro, se dirigem para fora da sua vida e entram em outros trens, outros vagões e conhecem outras pessoas. Kurapika, Leorio e Killua precisaram fazer baldeação.
O arco do Gon não é sobre heroísmo, mas sim sobre uma busca por si mesmo e por algumas respostas. Você vai lembrar que lá no início ele diz que quer saber como é ser um Hunter, afinal, deve ser algo muito bom para que seu pai o tenha abandonado. Ele não quer ser Hokage, Rei dos Piratas ou mesmo defender o mundo de uma grande ameaça, o Gon quer apenas entender algumas coisas. A vida é uma constante busca por nós, por alguém que te faça feliz, por algum motivo especial e particular, ou mesmo o mais comum, que talvez seja “encontrar o sentido da vida”.
Esse artigo nada mais é que uma breve comparação filosófica entre a vida do Gon (Hunter x Hunter) e as nossas vidas, que somos pessoas reais. Cada qual seguindo no trem da vida.
Até mais!