Re: Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu é um romance em lançamento desde 2014, mas que antes era publicado na internet. Sim, web novels virarem light novels têm sido comum e Re: Zero é um sucesso inegável, tendo seu anime sido o mais popular de 2016. O anime foi dublado e vem sendo exibido no bloco de animes do Crunchyroll na Rede Brasil.

A série de livros é escrita por Tappei Nagatsuki e suas ilustrações são de Shinichirou Otsuka. A adaptação para mangá do primeiro arco da novel foi lançada no pais pela editora Panini, enquanto a light novel está saindo pela editora New Pop e já se encontra no nono volume. Por que eu indico ler Re: Zero e não apenas assistir ao anime? Do zero vou explicar!

Não, a light novel não apresenta diferenças gritantes em comparação a animação. Contudo, o ritmo dela é muito bom, o autor sabe como criar uma trama interessante e personagens que também são assim, o que é bem expresso ao longo de mais de 400 páginas no primeiro volume.

Trata-se de uma leitura envolvente, dinâmica e fluida que até pode exagerar um pouco na comicidade, mas não erra quando precisa falar sério, assim como distribui bem os acontecimentos – e suas “deixas” para mais.

Caso você ainda não conheça a sinopse de Re: Zero, saiba que na trama somos apresentados a Subaru Natsuki, um colegial normal que ao sair de uma konbini (loja de conveniência) é invocado a um outro mundo, um mundo de fantasia como os vários que conheceu consumindo mangás e animes.

Todavia, diferente dos protagonistas de isekais contemporâneos, Subaru não foi abençoado com o poder que o tornaria um herói e o faria ficar mais overpower a cada desafio em sua jornada, mas com a perigosa capacidade de voltar a vida após a morte – sim, Subaru é resetado a um save point depois que morre.

É uma habilidade de protagonista? Sem dúvida alguma, mas é bem inconveniente, afinal, é incomum se acostumar com a morte e esse primeiro volume desenvolve bem o personagem enquanto ele vive essas repetições, enquanto vai descobrindo o que está rolando de mágico com ele. Eu questionaria a demora dele em entender a situação, mas dada sua pressa para ajudar a heroína e pouca inteligência até relevo isso.

Subaru não chega a ser uma desconstrução de protagonista com seu jeito irreverente, e por vezes espalhafatoso, mas também passa longe de ser apenas um estereótipo. Suas capacidades físicas são no máximo medianas, ele não é superinteligente e sequer convence como um malandro.

É como se ele realmente fosse apenas um colegial normal. E ele é, ao menos na aparência, pois, apesar de não ser anormal que protagonistas de isekai pouco ou nada lamentem e reflitam sobre a vida que tinham antes, a jovialidade, o entusiasmo, dele me faz questionar a maneira que vivia sua vida antes.

Eu custo a acreditar que alguém comunicativo e animado como ele era um hikikomori sem um ótimo motivo para tal e isso aguça a minha curiosidade por saber quais eram as circunstâncias dele no local de onde veio? Certamente. Algo não computa na personalidade dele.

Essa impressão, para quem viu o anime, fica mais ou menos clara com o passar dos episódios. Mas não no livro, o que foi um acerto, afinal, tanto detalhes que dizem respeito ao Subaru, quanto detalhes nebulosos sobre os secundários – também incluo a heroína Emilia – fazem com que o leitor deseje saber mais sobre eles e o “mundo” no qual se passa a trama.

E isso tudo ao mesmo tempo em que o primeiro livro se conclui bem, quase que sem necessidade de uma continuação. Na verdade, se a novel tivesse sido um fracasso concluir o lançamento nesse volume não seria de todo ruim, mas já que vendeu bem e a deixa para seguir havia sido dada é claro que Re: Zero passaria dos dez volumes – no Japão logo mais deve chegar aos vinte – e teria todo seu potencial comercial explorado. Não à toa foi lançada aqui nas mais diferentes mídias.

Enfim, focando um pouco na história agora, premissas que envolvem viagem no tempo – nesse caso a repetição por meio de um reset – costumam aguçar o interesse do público, mas depende de como esse elemento é usado na história e fazer com que o protagonista só descobrisse o poder morrendo pela primeira vez foi outro belíssimo acerto.

Mesmo que tudo, ou quase tudo, possa ser revertido, a tensão – ao menos no primeiro volume – não se perde. Ler ou ver Re: Zero sem saber do que se trata deve ser uma experiência ainda mais prazerosa, mais instigante, afinal, não é em toda trama – ainda mais em uma light novel do gênero isekai que hoje em dia costuma ter pouca ou nenhuma seriedade – que situações de risco de vida devem ser constantes e o personagem principal tem que aprender a usar isso a seu favor se quiser cumprir seus objetivos.

Objetivos tais que dizem respeito diretamente a heroína da obra, Emilia, uma meia-elfa que cativa Subaru com sua gentileza notável. O Subaru não só é fraco e desajeitado, além de tagarela, como também se envolve em encrenca logo de cara, não buscando se livrar dela quando tem a chance.

Re: Zero é uma história épica meio torta que abusa do contraste entre o comum e o fantasioso por meio do protagonista, um zé ninguém nesse mundo de magia a ser conhecido por ele e pelo leitor, e isso é o que torna a leitura tão interessante, ainda que, repito, o texto quase chegue a se perder um pouco devido a tagarelice daquele que acompanhamos.

O desenvolvimento desse primeiro livro é bem consistente, pois os personagens relevantes que dão as caras nele são desenvolvidos ao menos de maneira razoável e a forma que o Subaru encara esses loops não foge do que é exposto sobre esse personagem – ele é gente boa, brinca demais e é idiota às vezes, muitas vezes, é verdade –, fazendo com que o texto como um todo tenha equilíbrio, seja a leitura consistente que toda obra deveria ser o tempo todo.

Se não todo tempo, ao menos no início, afinal, uma boa primeira impressão é indispensável a sobrevivência de uma série. Com light novels é assim também, e em se tratando do formato, a escrita de Tappei Nagatsuki não é descritiva como as light novels não costumam ser mesmo, mas ela apresenta qualidade enquanto narrativa, é profunda quando carece e rasa se pode ser. O autor escreve com personalidade e desenvolve bem o que quer até por se tratar de uma série. Tudo o que era necessário foi entregue nesse primeiro livro, mas não tudo o que era importante.

O que é mostrado ao público é só o suficiente para que ele deseje mais, tanto da situação de reset – Por que ela acontece? Tem a ver com quem invocou o garoto para esse mundo? Quais as particularidades que possibilitam esse “evento”? Etc… –, quanto dos personagens; do Subaru com seu passado ao menos um pouco interessante, da Emilia com a situação que envolvia sua insígnia, da Felt que foi misteriosamente levada embora pelo Reinhard, e dele próprio que possui um poder excepcional e é um lolicon sem pudor?

Se você assistiu o anime sabe a resposta para quase todas essas perguntas. Mas, ainda assim, é interessante ler o livro, iniciar de novo essa aventura com esses mesmos personagens que você já viu na tela. Aliás, se não me engano o anime foi apenas até o volume nove, então se você correr com a leitura poderá ler histórias que ainda não foram adaptadas e podem demorar a ser.

Não indico que inicie apenas de onde o anime parou, pois, ainda que sejam poucas, há diferenças que podem levar você a aproveitar a história de uma forma diferente, e talvez até a refletir de forma mais crítica sobre ela. Re: Zero tem um universo e personagens interessantes, não à toa o anime fez tanto sucesso, e para entender o motivo desse sucesso faz bem ler a fonte. Eu me despeço com a certeza de uma boa indicação, e a promessa de que você, caro(a) leitor(a), verá a obra pintando aqui de novo em um momento futuro, e que não necessitemos de um reset para isso!

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