O anime de Blade se apresentou, no decorrer desses cinco primeiros atos, junto a uma estrutura episódica, e até o momento desenvolveu, no decorrer de seus cinco episódios, cinco histórias distintas de cinco antagonistas principais. Sabato, poeta doentio e um dos mestres de Anotsu, Magatsu, “amigo” de infância de Anotsu, por assim dizer, Maki, o amor de sua vida, mas que desemboca em um relacionamento distorcido e doloroso, para no episódio seguinte desenvolver o próprio Anotsu, ao nos apresentar o seu passado e motivações, e agora Eiku Shizuna, um imortal que está morto por dentro.

 

 

Essa fórmula aplicada para contar a história da saga vingativa de Rin, vem se mostrando bem interessante, o mangá oferece margem para a reorganização de certos arcos, e o diretor, ao montar o roteiro da adaptação, captou a possibilidade de remanejamento e reorganização dos momentos da obra. Foi uma boa escolha, e nesse quinto episódio sedimenta-se que essa nova ordem é uma ótima prancha que arremessará o cenário nas suas principais sagas.

 

 

Foi estabelecido o drama central da vingança, depois aprofundou-se as circunstâncias do antagonista principal, para em seguida desvelar as cartas à mesa, em um embate direto entre dois lados dessa tragédia e, posteriormente, ou no caso, no episódio cinco de agora, nos apresentar a pessoa mais próxima de Manji em diversos sentidos, sendo ele um completo estranho, mas que reflete em si para que lugar a existência de Manji se encaminha. Esse episódio é importante para entendermos a escolha final de Manji, que se revelará quando a obra terminar, entretanto, é cedo demais para falar sobre isso.

 

 

Shizuna é um “monge” imortal com mais de 200 anos de idade, ele se aproxima de Manji com uma proposta estranha, que mais parece um blefe, à qual Manji desvenda imediatamente, pois sente que são semelhantes em vários sentidos. Shizuna não tem real intenção em substituir Anotsu como chefe da Itto-Ryu, muito menos disseminar a filosofia dessa escola de esgrima. O que ele pretende, o seu pretexto, é apenas se entreter por um momento, sair da apatia que o envolve e o dissolve. Por mais que seja um imortal, ele já está morto, sua única felicidade é derramar sangue, e vê nessa jogada uma possibilidade para efetivar esse desejo. É claro que isso não passa de um simples capricho, ele poderia matar as pessoas aleatoriamente, como costumeiramente já o faz, mas ele enxerga em Manji uma possível esperança para que possa sentir novamente, para que um lampejo de vida preencha a sua alma que está irreversivelmente podre. O bizarro é que ele quer reviver a sua vida ao combater e eliminar inúmeras outras. Sua solidão é tão profunda que a sua motivação para seguir em frente seria estar ao lado de um igual, um imortal, que no caso, é o Manji.

 

 

Não poder morrer o torturou ao ponto de ele viajar até o Tibete para buscar algo que fosse eficaz na eliminação de imortais, e ele encontra. Mesmo embora não tenha conseguido dar cabo de sua existência por si mesmo, o que conota um apego ao passado, a dor e ao sofrimento, demostrando que Shizuna é, ao mesmo tempo, um viciado em sofrer, e um viciado em propagar o sofrimento aos outros, ou pior, sem forças para se libertar de sua vida, almeja libertar os outros das deles como um subterfúgio de redenção, de modo a espiar o sofrimento alheio por estar em sofrimento, se compadecendo de maneira distorcida. Devemos também nos perguntar o porquê de ele ter escolhido se tornar um “monge”, para além de decair em um vazio, ou tentar acender a uma iluminação, há um sentido e significado em sua vida. Ele já matou inúmeras pessoas, que tipo de tormentos rondam a sua mente? Nunca saberemos.

 

 

Um detalhe importante também, é que mesmo que ele tenha matado à sangue frio a senhora que manipulou para o ajudar, ele ainda assim deixa o bebê, neto da senhora, vivo, ou seja, ainda existia humanidade em seu coração, mesmo que fosse um fio mínimo da mesma, e é exatamente essa humanidade que ele ainda possui, que o faz ceder a vitória a Manji, deixando que este o mate. Shizuna sabia que estava morto em vida, e ao se deparar com a negativa de Manji em o acompanhar numa jornada de caos, ele escolhe então se libertar, ser abatido para não propagar o derramamento de sangue que não conseguia mais deixar de implementar.

 

 

A senhora e o bebê são recursos de roteiros que amarram a escolha do antagonista em desistir de sua própria vida, e o diálogo que este tem com a Rin, representa a grande mágoa que ele tem para com o mundo, um mundo que o obrigou a matar mais de 1000 pessoas, que levou todos os seus entes queridos, que varreu como vermes todos aqueles que amou. Sua conexão para com a garota é um misto de sarcasmo e empatia, ela almeja se vingar do mundo, sua conexão para com Manji é um misto de esperança e melancolia, ele sabe pelo que ele passará por ser um imortal. Um personagem, um episódio e uma mensagem indescritivelmente dolorosa, à qual facilmente passa em branco. Animes, mesmo àqueles que nos apresentam o entretenimento da violência gratuita, carregam dentro de si uma carga reflexiva que nunca deve ser subestimada.

 

 

Mais um ótimo episódio de um anime que está conseguindo dar conta de todo o esqueleto principal do mangá. Fico na expectativa para o próximo, e nos vemos em breve pessoas.

Lembrando que cada artigo vem acompanhado de um vídeo para complementação do debate!

 

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