Beastars – ep 4 – O Lobo do Proerd
Bom dia!
A partir de hoje os artigos de Beastars sairão às segundas-feiras e os de Hoshiai no Sora desde sexta-feira, dia primeiro, saem às quintas-feiras. A mudança se justifica pela demora na disponibilidade de Beastars em português, o que é obviamente importante para meu leitorado.
Nesse episódio vimos a conclusão do episódio da queda do Louis ao final da apresentação teatral bem como a segunda apresentação da peça. Relativamente pouca coisa aconteceu, mas foram coisas importantes para a caracterização do protagonista Legosi e, acredito, para seu futuro desenvolvimento.
O Louis foi tão bem em sua apresentação que ele realmente quebrou a perna. Digo, bem, teatro é uma arte antiga e tem algumas tradições bizarras, e uma delas é dizer para um ator, antes dele entrar no palco, que “quebre a perna”. Não é para ser literal, é só um jeito esquisito de desejar boa sorte e uma boa atuação.
A origem da expressão? Não faço a menor ideia. Pesquisei rapidamente e cada artigo que eu li tinha uma lista de hipóteses diferentes. Talvez ninguém saiba ao certo. O teatro é uma arte antiga.
Mas o Louis foi lá e quebrou a perna, não só no sentido figurado esperado como no sentido literal também. Aí não pode.
Para ele isso é uma humilhação porque agora todos estão com pena dele. Ele não quer a pena de ninguém. Ele é um herbívoro sim, ele é mais fraco que os carnívoros, é uma presa, mas ele tem o seu orgulho e é por isso que está no teatro e nessa peça em particular fazendo esse papel. É por isso que ele quer ser o Beastar: para provar que mesmo alguém fraco pode chegar lá.
Daí que Louis esteja se sentindo terrivelmente desconfortável estando cercado por carnívoros e herbívoros lamentando sua fraqueza e sentindo pena dele.
No meio de todos, o imponente tigre Bill se sobressai: enquanto o resto da trupe estava tartamudeando, cheia de dedos buscando as palavras mais adequadas para dizer para Louis que ele estava fora da próxima apresentação, o tigre disse com todas as letras que o presidente do clube e intérprete de Adler estava com a perna quebrada.
E foi isso, admitidamente, que fez Louis escolher Bill como o próximo Adler. Como Bill já era um ator e interpretava um dos demônios que enfrenta Adler, e como todos os demais atores e dançarinos já estavam em outros papeis, essa sobrou para o Legosi, que faria, então, sua estreia no palco.
Bill é um sujeito muito seguro de si mesmo e de sua linhagem e natureza. Ele não é ameaçador nem busca parecer, não é agressivo, mas se orgulha de sua força. Um dos maiores predadores terrestres tem esse direito.
A sua “honestidade”, por assim dizer, a falta de papas na língua que o fez contar a verdade para Louis e sem que imaginasse conquistaria-lhe o papel principal na peça é parte de sua personalidade orgulhosa e altiva.
Nesse sentido, ele é parecido com Louis. Louis não tem a força de um enorme tigre de bengala, mas ele põe em bom uso todos os atributos físicos e intelectuais que possui como um cervo para encarnar seu próprio ideal de como deveria se comportar uma pessoa direita em um mundo em que herbívoros e carnívoros coexistem em paz.
As semelhanças entre os dois não param por aí. Bill e Louis têm mais uma coisa em comum: são secretamente inseguros.
Os dois se cobram tanto, se esforçam tanto para manter suas máscaras, que vivem esmagados dentro de si mesmos pela pressão a que se auto-submetem e pelas expectativas que nutrem nas pessoas que os cercam.
Foi isso que fez Louis esconder a lesão na perna que levou ao seu acidente ao final da peça. Acabou dando tudo certo, mas poderia ter acontecido algo muito pior.
E muito pior, aliás, é como Bill sucumbe fácil perante a própria insegurança. Ansioso demais para lidar com o papel de Adler, que não é apenas o papel de Adler mas o papel de Louis sendo Adler, Bill apela.
No título do artigo eu já deixei claro como interpreto, não é? Embora não tenha certeza se é mesmo isso que significa. O sangue de coelho que Bill contrabandeou para dentro da escola seria, para ele, como uma droga para melhorar seu foco e sua performance.
Acontece com muita gente, em muitos campos diferentes.
O faro de Legosi, porém, percebeu a artimanha de Bill, e ele não pôde quedar-se inerme.
Devo deixar anotado aqui que não tenho certeza se Legosi impediu Bill especificamente porque era sangue de coelho ou se teria feito o mesmo qualquer outro que fosse o animal seviciado para o doping do tigre. Eu quero acreditar na segunda hipótese.
Carnívoro como Bill, Legosi se esforça ao seu próprio modo para superar as inseguranças que o acompanham diariamente. Ver o colega escolher o caminho fácil deve frustrá-lo de um jeito ou de outro.
Mas é fato que só se enfureceu porque o sangue era especificamente de coelho. Não é que Legosi goste muito de coelhos (talvez goste, mas não é por isso), mas sim que ele se lembra de seu próprio episódio de fúria incontrolável contra Haru.
Ele perdeu o controle naquela ocasião. Por escolha própria, jamais teria feito aquilo, não importa o quê. Bill, no entanto, alguém muito mais popular, carismático e com auto-confiança do que ele, não acha que dopar-se dessa forma, por escolha própria, seja errado. Quero dizer, ele sabe que é errado, mas acha justificável.
Não é à toa que Legosi foi tão longe que nem tentou atuar e lutou contra Bill no palco mesmo, durante a peça. Espancou o colega, lembrando a todos os presentes que ele é, afinal, um carnívoro, e um dos mais poderosos.
O tigre é mais poderoso, porém, e rasga as costas do lobo cinzento. Não importa. Foi tempo suficiente para que o animal mais orgulhoso dessa trupe chegasse: Louis, o Cervo.
Como o frasco de sangue escorregou até seus pés, ele logo entendeu o que Bill planejava e porque Legosi o estava combatendo. Escolheu rapidamente o lado do lobo e, mesmo com uma pata quebrada, entrou no palco e retomou o papel de Adler.
Para delírio da plateia que não estava entendendo nada do que estava acontecendo.
Ao fim e ao cabo, como já pontuei na introdução, a função desse episódio foi caracterizar o Legosi, expondo mais de sua psiquê e comportamento, bem como prepará-lo para desenvolvimentos futuros.
Mas tem um valor educativo também, não é?
Diga não ao sangue de coelho.