Legend of the Galactic Heroes: Die Neue These Stellar War – ep 5 e 6 – Cada episódio é um golpe de estado diferente
Depois de episódios como esses dois últimos acho até que não estou a altura de comentar um anime tão bom, mas quer eu esteja ou não isso não importa, o que importa é que a vida nos pede coragem e espero ter ao menos um pouco da coragem que os heróis da galáxia têm de sobra. Vai um golpe de estado aí?
O atentado do Falk pode ter sido premeditado, mas isso não diminui o claro desequilibrio mental do personagem. Aliás, ele devia estar em um sanatório, se estivesse… Foi o primeiro ataque do tipo na Aliança e eu imagino que depois dessa a segurança de autoridades em público mudará drasticamente.
Mas isso não é relevante, o que importa é a lacuna aberta com o afastamento do militar de alta patente, uma lacuna pela qual o grupo golpista passou por cima em um ataque audacioso, bem bolado, mas, acima de tudo, hipócrita. Sim, você não combate um mal com um mal maior. Isso sequer faz sentido?
E por que um golpe desses inevitavelmente é um mal maior? Matar para afirmar uma posição já me parece suficiente para fazer tal afirmação, mas isso é algo que vou comentar mais a fundo quando escrever mais sobre o Yang, que já esperava o golpe, mas até ele não esperava a figura que veria por trás disso.
A posição da Frederica nisso tudo ficou das piores, afinal, ela foi abandonada pelo pai, mas talvez o pior de tudo seja a vergonha que a acomete por ver o velho se prestar a esse papel ridículo. A morte ou a prisão é o que o aguarda e dificilmente a relação de pai e filha será restabelecida. Frederica é orfã agora!
Nada mudou para o Yang, é verdade, e certamente ele se tornou o porto seguro dela após tamanho revés, mas a mancha fica, pode incomodar no dia a dia de trabalho dela, mas principalmente a incomoda como cidadã que acredita nos valores de uma sociedade livre, deturpados nas ações do próprio pai.
Não curto ver personagens que eu gosto sofrerem, mas acho que foi melhor assim. Não havia outra figura sem um posicionamento bastante claro que pudesse assumir essa posição além do pai dela e espero que essa situação contribua para trabalhar a personagem, que estava tendo pouco espaço.
É aí que entra o ponto em que eu queria chegar, o que garante que se o Yang virasse um ditador ele não se corromperia e seria igual ou pior aos da Dinastia Goldenbaum? Idealistas mudam, “idealistas” com os dois pés bem fincados no chão como ele mudariam até mais fácil se estivessem entre a cruz e a espada.
O fardo de ser o salvador do povo ele pode suportar, o de vestir a carapuça de vilão sob a desculpa de agir heroicamente não, e o Yang sabe bem disso, não à toa não só recusa o que seu subordinado o sugere, como expõe a sua forma realista de ver o mundo. Para ele o “ideal” é inalcançável, mas o “quase” não.
Na posição estratégica em que ele se encontra (tendo vastas tropas sob seu comando e o merecido apoio popular) bastava ele decidir e com suas capacidades a Aliança estaria em suas mãos, mas que preço isso cobraria dele e para que ele agiria assim? Que futuro ele protegeria para Julian?
Não é isso o que ele quer para o garoto, mas sim um futuro livre no qual ele será capaz de decidir entre o certo e o errado sem estar preso a um país ou a uma ideologia, como, infelizmente (ou felizmente?), o próprio Yang se encontra. Alguém com esse nível de discernimento jamais cederia a tentação do poder.
Na verdade, ao menos não nessas circunstâncias, o que é um tanto diferente para o Reinhard porque ele quer mudar o mundo assumindo controle dele. Aliás, nascer em um regime totalitário influencia em sua visão de como fazer as coisas, o mesmo parece valer para o Yang. Mas no futuro não sei o que vai rolar…
Então não posso afirmar que essa posição do Yang vai se manter, mas tenho certeza que uma mudança bem drástica de cenário seria necessária para mudar isso. Ademais, foi só impressão minha ou o bonitão conspirador está agindo como agente duplo? Menos mal que ele parece propenso a seguir o Yang.
Enfim, como Julian bem confirmou, a opinião pública permanece favorável ao Yang, dando a ele respaldo para se opor ao governo rebelde e virar a situação de acordo com seus esforços. Como a Aliança ficará depois disso tudo não sei, mas não tenho dúvidas de que o caminho realista dele é o melhor para a nação.
A ganância que supera qualquer estratégia foi o que pudemos ver na reunião dos nobres, todos sedentos por feitos que os destacassem na hora de redistribuir o poder, o problema é justamemte a conquista desse poder. Tenho certeza que não pararam um instante sequer pars estudar o inimigo e nem as suas táticas.
O Reinhard costuma usar tecnologia de ponta, até aí nada demais, mas principalmente coloca o inimigo em um cenário desvantajoso e o faz crer que tal cenário também é uma desvantagem para ele. E é aí que ele se sobressai, ao agir de maneira não usual no campo de batalha, e duas figuras expõem bem isso.
Mittermeyer e Reuenthal, na primeira batalha o primeiro, na segunda a dupla. Aliás, a abertura dá uma bela cena para eles, o que denota que terão importância na trama e é o que vimos esse episódio. E o melhor, cada um parece (o Mittermeyer tem os soldados mais “precisos”) ter um “talento” próprio.
Não sei qual seria o do Reuenthal, não consegui notar e nem lembro se foi dito, mas acredito que ele tem algo em que se sobressai e que essa atenção aos vários tipos de habilidades que se precisa no campo de batalha seja um dos motivos que explicam o sucesso do Reinhard e de seus homens.
Lembrando que um falhou com ele lá no começo dessa “temporada”, mas o Kircheis orientou o Reinhard a não perder o cabeça e assim enfraquecer a solidez do grupo montado. Além disso, mostraram o Mittermeyer e o Reuenthal como os mais perceptivos tirando os “braços” Kircheis e Oberstein.
Já era de se esperar que alguma hora eles tivessem mais destaque e o momento me pareceu o mais apropriado. Fica ainda melhor a lembrança deles porque atuaram em um momento raro e bem-vindo em LOGH, uma batalha de combate corpo a corpo, e com direito a um baita derramamento de sangue.
Guerra não se faz só com ataques de naves no espaço sideral, mas também com tiros e assassinatos cara a cara, olho no olho. Foi o que aconteceu nesses episódios. Ainda que de maneiras diferentes entre si, o ponto é o mesmo. Pegar em armas e lutar aproxima a guerra do ser humano.
Uma guerra civil não é o mesmo que guerrear com o vizinho, quando o problema é no quintal de casa o que se espera é que o envolvimento seja maior em qualquer sentido imaginado e foi bom ver a trama explorar essa característica. A guerra de naves já é mais fria, impessoal, ou é o que LOGH faz parecer.
Enfim, ignorância não é o mesmo que inocência e Ovlesser é uma prova cabal disso. Você pode achar que ele inocentemente caiu na armadilha do Reinhard (que o Oberstein deve ter ajudado a armar dado o destempero do “loirinho”), mas não foi bem assim. Ele nunca esteve cego, só não queria ver.
A segunda derrota em sequência foi um baque para os traidores, mas o pior nem foi isso e sim a desestabilização moral que a falsa traição de Ovelesser causou. Alguém que, como a direção não deixou de cutucar, foi alertado de sua própria ruína. Ovelesser morreu praticamente por escolha própria.
Inocência é não dispor de condições para enxergar a verdade, ignorância é enxergá-la, mas refutar seu conteúdo, o que ele fez mesmo tendo sido avisado. Caso tivesse pensado em todas as possibilidades que lhe foram dadas para mudar de curso, creio que o neardenthal poderia ter sobrevivido e sido útil.
No final das contas, ele mordeu a isca feito patinho e isso serviu para nos mostrar que o mesmo princípio deve valer para os nobres traidores, que serão vencidos dada a ignorância que têm, e não só no quesito militar, mas também no âmbito social, o qual eles tanto negligenciam.
Afinal, o mundo está mudando constantemente, os privilégios e disparates de outrora não podem seguir os mesmos, a nobreza precisa enxergar o poder que tem de outra forma ou não só o povo do Império sofrerá, mas aqueles que o regem também. No pior (ou seria melhor?) cenário o Império pode até ruir.
E o mesmo vale para a Aliança, pois ainda que os processos pelos quais as duas grandes nações estejam passando tenham suas diferenças, ambos escondem um mesmo desejo que está crescendo dentro dos corações de seus integrantes, um desejo de mudança. Não a melhor, só a melhor “possível”.
Escrevo isso porque não tenho dúvidas de que Yang e Reinhard vencerão, ambos em seus respectivos campos de batalha, ambos para mudar o cenário atual do mundo em que vivem. A vitória deles não simbolizará a vitória do melhor, mas do melhor possível, naturalmente imperfeito a sua maneira.
O quão significativa foi a breve cena do Kircheis? Ela foi uma daquelas famosas “death flags” que se vê muito em animes de drama? Não sei, mas não irei me surpreender se for exatamente esse o caso. Ele é bonzinho demais, os protagonistas parecem ruins perto dele, não vou me surpreender se ele se der mal.
Pelo Reinhard o Kircheis é capaz de fazer qualquer coisa (talvez só não sair de seu lado), o que me lembra um pouco a relação do Yang e do Julian, afinal, ele é alguém que o Almirante quer proteger. A diferença é como cada um enxerga o que pode fazer de melhor para o outro.
O Kircheis acha que o melhor é apoiar com todas as forças o amigo em seus objetivos, já Yang quer dar a Julian a chance de construir os seus próprios objetivos, ele quer que o garoto tenha mais escolhas do que dispõe no momento, até para não acabar como ele, tendo que servir aos seus “patrões”.
Mal posso esperar pelos próximos episódios, LOGH está animal ao traçar esse paralelo entre os golpes de estado na Aliança e no Império. E agora ainda vem mais combate, nâo duvido nada que a “temporada” acabe com a Aliança e o Império se digladiando de novo, já sob nova direção.
Até a próxima!