Bom dia!

O título do episódio é “Saindo do berço”, e indica o que parece indicar: Canuto supera o seu passado, atinge um nível de compreensão sobre o mundo que ele não tinha até então e se torna, enfim, digno do título de Rei que ele há de carregar um dia.

Na verdade, o Canuto de Antes e o Canuto de Depois desse episódio são tão diferentes que eu acho que a melhor metáfora seria o nascimento, ou renascimento: o Príncipe Canuto morreu, e o Rei Canuto renasceu em seu lugar. Só falta ele se tornar rei de direito.

É uma grande mudança, mas, mesmo assim, a estrutura narrativa do episódio, combinada com a história de Vinland Saga até então, foi tão convincente ao retratar a brusca evolução do príncipe que não pareceu forçado em momento algum – muito pelo contrário.

O episódio 18 começa onde o 17 parou: no começo do duelo entre Thorfinn e Thorkell. Desde há muito esse é o combate mais esperado de Vinland Saga, e está sendo incrível a cada movimento da dupla beligerante.

 

 

Mas Vinland Saga não é uma história sobre combates épicos ou sobre a glória da guerra, muito pelo contrário. Não foi para isso que Thors morreu! Com efeito, o maior guerreiro da Dinamarca, reconhecido por Thorkell e invejado por Floki, dois grandes guerreiros por seus próprios méritos, abandonou o campo de batalha.

Thors insistiu até o fim que ninguém tem inimigos e, portanto, uma razão para empunhar armas, ferir ou matar. Os temas do fim da guerra, sofrimento e escravidão estão explícitos na história desde o começo, para quem quer e para quem não quer ver.

A batalha é, em Vinland Saga, apenas instrumental. E foi assim mais uma vez: assistimos o combate de Thorfinn e Thorkell alternado com o despertar de Canuto, que é o motivo principal desse episódio.

Canuto começa ainda inconsciente, e em seu desmaio convertido em breve sono, ele sonha com Ragnar. Seu coração partido tem, enfim, a chance de velar pelo pai de criação.

 

 

É mais uma daquelas cenas de Vinland Saga que fica na fronteira entre a auto-consciência e o sobrenatural. Até então apenas Thorfinn tinha protagonizado esse tipo de cena. Agora foi a vez de Canuto, mostrando o crescimento de sua importância em Vinland Saga e dando um presságio do que Thorfinn ainda precisa fazer.

Com a morte de Ragnar, Canuto sabe que agora está sozinho no mundo. Mesmo esmagado pela tristeza, porém, ele deseja continuar vivendo, e para isso ele sabe que não pode mais continuar sendo o mesmo Canuto que sempre foi. Ele sabe que precisa mudar, e isso é doloroso, mas ele está determinado a fazê-lo.

O que Canuto precisa fazer, porém? Em quê ele precisa se tornar? Que tipo de pessoa ele quer ser? Ele não tem muita certeza, só o que sabe é que o mundo é um lugar horrível, do tipo que tira pessoas queridas daqueles que as amam. Frei Willibald é instrumental para o despertar de Canuto.

Amor, pergunta Willibald, o que é o amor? E ele mesmo responde: um sentimento que não discrimina, que é altruísta, que se entrega totalmente para todos, sem reclamar, sem recuar, sem tentar ferir ninguém.

 

 

Note que Willibald sabe descrever o que é o amor, mas há muito tempo, e muitos episódios, ele continua a procurá-lo. Ele sabe com o que se parece, mas ele não sabe como realizá-lo ou onde encontrá-lo.

E ele sabe porque é assim: porque o amor não existe no coração do ser humano. Ao cometer o pecado original e ser expulso do paraíso, a humanidade perdeu o verdadeiro amor para sempre.

Mesmo assim, porém, do ser humano é esperado que busque o amor. É Deus Ele Mesmo quem pede isso. É esse dilema que Willibald enfrenta e que Canuto encontraria a resposta em seguida.

Canuto seria mais feliz se fosse filho de Ragnar, mas ele nasceu filho de Sueno, o Rei da Dinamarca. Canuto seria mais feliz se fosse apenas um fazendeiro, mas é um príncipe e candidato ao trono.

Na condição de príncipe, Canuto têm responsabilidade que só ele tem. Também possui poderes aos quais apenas ele é investido.

Por mais que Ragnar tenha sido importante para ele, por mais que ele prefira uma outra vida, essa é a sua vida e fugir dela para sua própria satisfação seria também uma discriminação.

 

 

Ao melhor estilo Direito Divino dos Reis, Canuto é inspirado a assumir a grandeza para ele reservada. Canuto decide usar o poder investido nele para aproximar tanto quanto possível o seu Reino na Terra do Reino dos Céus.

Um maravilhado Frei Willibald testemunha Canuto começar a exercer esse poder imediatamente, conforme ele muda de postura, faz discursos sobre o sentido da vida e da morte e exorta aqueles que estão ao seu redor a segui-lo, enquanto ele já tem em mente o próximo passo de seu nobre plano.

 

 

Esse foi um episódio incrivelmente poderoso, e tendo a crer que o Canuto real era muito menos admirável do que o Canuto de Vinland Saga, mesmo assim ele se tornaria conhecido pelo epíteto de O Grande, converteria definitivamente a Dinamarca ao cristianismo, visitaria Roma para a coroação de Conrado II como Imperador Romano pelo Papa João XIX, e governaria até o fim de sua vida a Dinamarca, a Inglaterra e a Noruega.