Sword Art Online: Alicization – O melhor dos animes ruins
Sword Art Online: Alicization é uma das maiores falácias que já vi no meio otaku. Antes do anime os fãs da light novel alegavam se tratar do melhor arco jamais escrito por Reki Kawahara, quando a verdade é que Alicization reúne vários dos piores defeitos dos outros arcos e no máximo dá para dizer que as cenas de ação se igualam às de outrora, ou as superam, nem que seja mais pela quantidade que pela qualidade. Enfim, posso ser sincero? Vou malhar o anime abaixo. Esteja preparado. É hora de SAO no Anime21!
Por um breve momento o ataque ao Kirito me “iludiu”, pensei que ele precisaria lidar com consequências mais palpáveis, mas, sejamos honestos, é mais que óbvio que ele vai acabar bem no final, se duvidar até vão dizer que foi um “milagre”. Não, sair de sua vidinha diária para entrar de cabeça em mais um mundo virtual não é nenhum tipo de “punição” para o herói. Pelo contrário, acho até que se ele pudesse escolher viver em um mundo de jogo ao invés do mundo real, ele aceitaria. Claro, se pudesse ter nele o seu harém…
Enfim, não vamos nos enganar, caro(a) leitor(a), a amizade entre ele e o Eugeo foi pensada para testar shipp yaoi sim!
Okay, zoeiras a parte (ou nem tanto), o Eugeo é uma ferramenta de roteiro criada convenientemente para tanto ligar o herói a heroína desse arco, Alice, quanto realçar ainda mais o protagonista a condição de grande salvador da p*rra toda. É como se o Kirito fosse o Neymar e o Eugeo o Coutinho tendo que fazer o trabalho sujo no meio para o camisa 10 dar alegria à nação brasileira.
É, eu sei, meu exemplo foi ridículo, mas não mais que o grande acontecimento do primeiro cour, o ataque do estuprador voador e seu comparsa também estuprador, mas não voador. Uma cena desprezível, menos polêmica do que deveria ter sido, mais nojenta do que se costuma ver mesmo em um anime que vira e mexe objetifica, subutiliza mesmo, suas personagens femininas. Usar do artifício do estupro para aproximar a Alice dos “heróis” foi uma das tomadas de decisão mais idiotas até para o autor da obra.
E não, não escrevo isso por pudor exagerado, mas porque é quase uma violência inserir personagens e criar conflitos para elas apenas para que sejam aproveitadas dessa forma leviana, rasteira, como se o herói hipócrita dessa história só pudesse mesmo é brilhar em cima da escória. E ele precisa, ele precisa brilhar em cima do sofrimento alheio, como se fosse o antídoto para uma doença que em parte ele mesmo disseminou com seu egoísmo e sua displicência. Qualidades de tudo, menos de um herói como o pintam.
Kirito negligenciou os apelos de suas subordinadas e foi subtraído do primeiro plano convenientemente apenas para aparecer na hora mais crucial e roubar a cena. Doa a quem doer, machuque a inteligência de quem machucar, se você não se sentiu ofendido com toda a construção ofensiva desse estupro eu indico que repense bem o que viu em tela. Se quiser leia meu artigo do episódio específico, e pense bem; Kirito é realmente apenas o herói, ou não seria ele, com sua falta de caráter e incoerência, também um vilão?
Como nem só de condenar estupro vive a crítica, o que se segue a esse trecho fatídico é a fuga (também) ridícula de uma prisão sem qualquer guarda, sem qualquer segurança efetiva. É como prender criminosos de alta periculosidade em uma prisão cujas barras de ferro eles conseguem entortar com as mãos. Como minha suspeita da fuga ter sido permitida de propósito não foi sequer assuntada, só o que posso fazer é me lembrar do trecho e dar risada.
É, a luta com o kouhai da Alice não foi de todo ruim, mas isso importa? Se importa é muito pouco. Vale mais a pena comentar a inserção da loli bivitelina da vilã que paga de stalker, mas no final ajuda mesmo a dupla e acaba se mostrando até bem simpática. Eu sei, ela ser uma loli é só para explorar fetiche, afinal, SAO explora mais fetiche por episódio que hentai dos mais degenerados e escrevo isso com conhecimento de causa. O fato é que essa interação dá um empurrão para a história, dá à trama um norte, e isso é bom, quer eu goste ou não da história de vida das gêmeas.
A adm de página de facebook que deixou o sucesso no mundo virtual subir a cabeça tem o longo trecho de aprofundamento que só uma escrita limitada como a do autor de SAO é capaz de fazer e tornar mais chato do que o comum, ainda que não seja uma parte exatamente desnecessária. Há certo valor em saber quem são os mocinhos e quem são os vilões, ao menos se quem escreve a história se dá ao trabalho de aproveitar a construção de seus objetivos e ações. Dá para dizer que pelo menos ele tentou? Dá mesmo?
A segunda parte acaba sendo melhor que a primeira porque tem várias lutas, e lutas em SAO costumam dar uma mascarada daquelas em problemas de qualquer grandeza, afinal, costumam ser bem produzidas, desde a animação a fluidez da coreografia de ação, e tem a trilha sonora que dá um belo upgrade. Mas as lutas não apagam os erros, e é por isso que me parece muito idiota sacar mais lolis metidas a espertinhas ou cavaleiros que são derrotados apenas para se juntar ao grupinho dos salvadores da pátria depois.
Reki flerta com o amadorismo ao inventar uma ordem de mais de trinta organismos, apresentar cerca de um terço e inventar desculpas esfarrapadas para não mostrar o resto. Qual a necessidade disso mesmo? Será que até o fim do arco ele saca os outros tantos cavaleiros do nada? Não duvido, não em SAO. O fato é que até mesmo no tão elogiado “arco definitivo” do título pop que é SAO a coisa é toda feita de forma meio bagunçada, sem pensar em detalhes lógicos e um maior cuidado na hora de criar os secundários.
E, apesar disso, os secundários garantem alguns momentos divertidos, me atrevo a achar um e outro carismáticos, o que cai em algo que considero uma qualidade e ao mesmo tempo um defeito do trabalho de personagem nessa obra. Personagens secundários costumam funcionar bem em arcos curtos ou papeis curtos em si, o problema é quando suas participações se alongam ou o arco em si desgasta suas histórias pessoais. Às vezes damos sorte e se salva alguma coisa, às vezes ganhamos o presente Eugeo…
Aliás, a luta dele com o cavaleiro chefe é boa, mas a ideia de torná-lo vilão para que o desfecho com o Kirito brilhando seja ainda mais apelativo não. É pobre, medíocre. É o mesmo que já marcar o enterro do personagem, um que tinha a possibilidade de ser bom caso não fosse só a sombra ambulante de um herói que de heroico não tem nada. E o pior nem é isso, é ele servir de meio intermediário entre a Alice e o Kirito, como se seu amor pela amiga de infância importasse menos que o harém do herói. E é isso mesmo.
Deixando o co-protagonista mais azarado dos animes de lado, a Saber caolha foi algo inusitado, mas nada supera a vilã lutando pelada, bizarrice motivada para explorar novos fetiches, como o exibicionismo e mais a frente a mutilação, além, naturalmente, de seus belos cabelos longos dispostos estrategicamente de modo a censurar o que é proibido para menores quando mensagens subliminares distribuídas em tela parecem um abismo entre o pudor que ridiculamente tentam conservar. O estupro, aliás, foi o ápice disso.
O Eugeo só morreu para não atrapalhar a expansão do harém do Kirito. Não se iluda. Se você acha que ele existiu para outro motivo que não o benefício direto do protagonista eu sinto muito em lhe dar a notícia. É só você parar para analisar com atenção e se ver (ou viu, porque a essa altura já saiu completo) o primeiro cour da sequência, Alicization: War of Underworld, o que escrevo faz ainda mais sentido. Sendo assim, como faço para me importar com o personagem e tudo aquilo que o competia? Eu não consigo!
É verdade, o Eugeo também existe para carregar a segunda espada do Kirito, até ele usar o protagonismo de sempre, com direito a empunhadura dupla e tudo. É tão bobo que ele até troca a skin no meio da luta, como se fosse fazer mesmo alguma diferença. Tentam enfeitar a morte do Eugeo, mas que impacto, que importância ou envolvimento emocional ela me causa se o personagem é jogado no lixo para entregar a heroína de mão beijada nas mãos do herói? E um herói que deve cozinhá-la em banho maria para sempre.
O amigo de infância perde mais uma vez, e dessa vez perdeu até a vida. Não foi uma frase engraçada, eu sei, mas a intenção não era fazer rir, assim como não é a de Alicization, que falha muito e falha feio, seja na construção de mundo ou na maneira como aproveita seus personagens, e tudo isso se levando muito a sério, como se não precisasse justificar escolhas questionáveis ou pior, não precisasse fazer sentido. SAO arrecada um caminhão de dinheiro todo ano, mas nem por isso está acima do bem e do mal. Não acha?
Minhas considerações finais é que com arcos longos em mãos, de mais de cinco ou seis episódios, o autor se perde demais, além de manter e até extrapolar os vícios de escrita sórdidos que só um escritor de criatividade limitada e mau gosto crônico costuma ter. É triste ver uma porção tão ruim da grande obra (em tamanho mesmo) que é SAO ter tanto espaço na mídia e tanta margem para elogios fervorosos e desprezo a razão de pontos nada simples e bastante delicados. Elogiar Alicization é elogiar o mau gosto!
Não vou só criticar negativamente também (apesar de achar minha crítica construtiva, mesmo que também bastante sarcástica), como escrevi mais acima. A consistência técnica sempre é algo digno do mínimo de elogio (ainda mais quando não se pode elogiar quase nada), além das tentativas do autor de aprofundar outros personagens que não seu pau para toda obra Kirito. Teria sido bom se ele não tivesse se prendido justamente a manter a zona de conforto de seu personagem principal, seu maior problema.
A continuação ganha bastante com um Kirito vegetal e personagens secundários minimamente interessantes, além de aproveitar os companheiros até então inúteis, ainda que pouco em comparação a ajuda que devem dar. Tudo porque o roteiro é manejado para permitir isso. Aliás, essa é uma das coisas que mais acontece em SAO e que mais é feita com capricho, o que nesse caso não me parece nada bom.
Até a próxima!