Esperava um volume cheio de ação e conflito, mas não foi exatamente o que esse teve, ao menos não da forma que eu imaginava, mas isso foi bom, porque esse volume de transição para um arco maior e mais importante foi satisfatório no que tece a construção dos personagens e das situações a serem exploradas. Depois de ler esse terceiro volume minha expectativa pelo quarto só aumentou. Voltemos a distopia?

No.6 é velho conhecido do blog, não à toa este é o terceiro artigo que escrevo sobre a light novel (o primeiro você confere aqui e o segundo aqui) e não pretendo parar por aqui, já adquiri os volumes lançados pela New Pop e se o limbo da obra se mantiver devo apelar para a compra dos volumes restantes em inglês. A Amazon vive com promoção bacanuda para livros importados mesmo…

Enfim, focando na trama, nesse volume ela volta seus olhos a cidade que a dá nome, mas de uma forma um tanto diferente já que explora a mãe de Shion, Karan, como maior relevância, o que é bastante positivo, afinal, Karan e Safu são os únicos elos de Shion a cidade distópica, conexões importantes para levar o protagonista e Number Six a cruzarem caminho de novo. Aliás, isso deve rolar no próximo volume.

A preparação para o arco de resgate só ocorreu de fato nos estágios finais do volume, mas as atitudes de Nezumi ante o problema envolvendo Safu ficaram bem claras já no começo da narrativa, e de uma forma até normal para o contexto em que o personagem esta inserido, com segredos e violência propriamente dita. A grande sacada da autora foi aproveitar a situação para envolver Inukashi nos problemas dos heróis.

O aprofundamento dado ao Inukashi foi positivo, visto que ele não é só o patrão do Shion, mas também um aliado valioso por causa das informações e recursos que pode prover. Temo que ele morra antes do fim da história, mas não tenho dúvidas de que a autora aproveitará ao máximo o personagem, assim como seus dramas interiores. Não é porque são “sobreviventes” que as pessoas não têm fraquezas, né?

Inclusive, o mesmo vale para Nezumi, que tem em Shion tanto sua fraqueza, como sua força. Em um nível diferente Inukashi passa a se preocupar com Shion e decide ajudar não só por causa do que pode ganhar de palpável em troca, mas também pelo apreço que o funcionário deu a ele e seus cachorros. Um cuidado humanizado que fez o informante acordar para os sentimentos que tentou sufocar por tanto tempo.

Como nem tudo são flores, dar mais páginas a personagens secundários resultou em uma redução direta do tempo de interação entre Shion e Nezumi, mas isso nem foi exatamente ruim, não após um volume no qual a amizade deles foi largamente aprofundada, o segundo, não quando essa “ausência” é importante para que o público perceba a verdadeira dimensão da relação dos dois, do que um significa para o outro.

Além disso, o tempo gasto com a mãe do Shion não pode ser menosprezado, visto que foi interessante para que o leitor pensasse na cidade de maneira ativa na trama, ainda que indiretamente. Também foi bacana pelo que o aprofundamento dado a ela pode proporcionar nos volumes seguintes em que sua personagem certamente será acionada em alguma situação que envolva o filho antes ou após a invasão.

A forma “clichê” como o Shion descobriu o rapto da Safu não me incomodou tanto, ela foi conveniente demais, eu sei, mas de que outra forma ele descobriria? O Nezumi, com toda a sua superproteção, jamais contaria para ele e foi até uma forma prática de envolver o Rikiga mais facilmente nesse plano da história. Não que já não estivesse envolvido, mas quando o assunto é Shion, o filho da Karan, sua dedicação muda.

A formação do “comitê para ajudar Shion a resgatar Safu” me agradou, porque, objetivamente falando, não havia outra forma de lidar com a situação. Apenas se lançar de cabeça na prisão seria suicídio, o que o Shion tentou fazer em um primeiro momento, é verdade, mas vamos dar um desconto ao garoto, ele não é o tipo de pessoa que pede ajuda se acha que está incomodando e foi exatamente esse o caso.

Pode ser que dê tudo errado no final, aliás, em se tratando de No.6 mesmo que dê certo não duvido nada que seja por linhas bem tortas e fique um gosto amargo na boca de Shion, mas uma coisa é certa, não faria sentido se a situação tivesse um desdobramento muito diferente. É muito bonito ver o Nezumi tão preocupado com o amigo, mas ele ainda é pequeno demais para desafiar a cidade de novo sozinho.

Uma coisa é resgatar o Shion praticamente na estrada, outra coisa é invadir uma instalação segura provavelmente cheia de podres do governo. Enfim, reconheço a necessidade desse volume como construção para o que ocorrerá no arco seguinte e afirmo sem pudor que gostei porque a autora sabe o que faz. Seu domínio da narrativa e dos personagens, alem de sua criatividade e arrojo, não decepcionam.

O desenvolvimento pontual do que me parece que será o plot principal da série, cutucar Number Six com a vara curta, também me instigou no que se tece a leitura dos próximos volumes, porque está na cara que resgatar a Safu é uma oportunidade para se aprofundar nos podres da cidade; conhecê-los, abominá-los e por que não combatê-los? Nezumi já quer fazer isso e Shion não vira as costas perante a injustiça, né?

A diferença é que no meio dessa busca por justiça estará o desejo de vingança de Nezumi, tudo junto e misturado, então Shion ser aquele a dosar e canalizar a cólera no coração do “amigo” (apesar de amigos não se beijarem na boca com tanta naturalidade, né) é um caminho pelo qual a séria deve seguir. Shion quer salvar as pessoas da cidade. Ele tem aversão pela cidade utópica, não por quem mora nela.

É só ao lado de Shion que Nezumi deve conhecer um caminho diferente que o da vingança e é só ao lado de Nezumi que Shion deve acordar para uma realidade ainda mais cruel e dura que a que ele já vivencia. O arco do volume quatro promete e não seria diferente após um volume de “preparação” tão instigante. Safu será salva? inukashi conseguirá lidar com seus temores? O que será de Shion e Nezumi? Leremos!

Até a próxima!

P.S.: O beijo dos heróis foi ótimo para quem shippa a dupla (eu incluso, obviamente) e acho que agora sim posso escrever que No.8 é um shonen ai de fato e de direito. Mas isso, honestamente, nunca careceu do beijo deles para fazer sentido. Os sentimentos que um vem desenvolvendo pelo outro já estão claros ha muito tempo, fechar os olhos para isso seria negar a excelente narrativa de romance escrita em paralelo pela autora.

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