Pink Floyd é no mínimo a banda mais importante do rock progressivo, Genesis é minha banda favorita do subgênero (o qual, aliás, é um dos meus favoritos), mas também sou grande fã de Roger Waters e companhia (inclusive, gosto mais da era dele na banda). Sem dúvida esse episódio de Listeners homenageou uma das melhores bandas de todos os tempos. Adeus mundo cruel, e céu azul, aqui vamos nós!

Não captei qual a referência no nome da nova personagem, Roz, mas pelo pouco que li e muito que ouvi de Syd Barrett (um integrante do Pink Floyd que saiu da banda ainda em seus primeiros anos) penso que ela seja uma homenagem a ele, não à toa o nome de seu pai é More, referência ao primeiro álbum (que é trilha sonora de um filme) sem o músico, como se ali ocorresse a desconexão de Barrett com o que era o Pink Floyd.

Talvez só esteja viajando, mas, em todo caso, deixo a listagem das referências para o final (novamente há muitas) e parto para a análise do episódio, que, se não me agradou tanto assim pelo roteiro, me cativou pelo que a gente pôde aproximar as ideias do grupo. Se tem uma banda que imagino defendendo a ideia de coexistência com os Earless, ao menos pelo que deixa transparecer em suas letras, esta seria justamente o Pink Floyd.

Sua veia para a crítica social sempre foi incontestavelmente genial, produzindo um som que muitas vezes mexeu com temas mais difíceis de lidar do que ocorria em bandas como o Genesis (apesar de que meu álbum favorito do Genesis é um trabalho mais “ácido” nesse sentido), então adorei terem usado as referências as músicas e aos álbuns (estes com forte apelo visual) do Floyd para passar a ideia desejada, fez bastante sentido.

Novamente, o Jimi teve um papel relevante para provocar a aceitação do Player (porque a Roz é uma Player, só ver pelo finalzinho em que aparece conectada ao “país”), mas dessa vez o caminho foi mais tortuoso do que foi com o Denka e isso se deve ao pessoal daquele país (no caso só a garota) ter sido traído. Trabalhar a possibilidade de coexistência entre humanos e Earless e não focar na erradicação me agrada bastante.

Afinal, até aqui a trama deu sinais suficientes de que humanos se tornam Earless, o que teria acontecido com o Echo não fosse o acordo que a Mu fez. Se o Jimi estragou os planos de erradicação dos inimigos é porque não devia concordar mesmo com a ideia e, sendo assim, ele tem tudo para ser a chave dessa coexistência. Talvez nem seja exatamente ele a chave para isso, mas sim o que a Mu carrega para lembrar do seu “onii-chan”.

Enfim, quanto a duplinha dinâmica esse episódio deu prosseguimento ao desenvolvimento da relação dos dois, com uma Mu reconhecendo a importância do companheiro e o Echo sendo mais uma vez gentil afim de tranquilizá-la. Ele teria morrido a vera se ela não tivesse feito o acordo pelo remédio, é o que fica subentendido, mas é claro que ela abriria mão do que fosse para salvá-lo. Echo é a única pessoa com a qual ela se importa.

Digo, ele é a única pessoa que ela gosta da qual tem memória (está construindo um monte delas ao longo dessa jornada). Talvez um dia se lembre do Jimi e passe a se importar com ele, mas, por ora, ele se trata mais de um meio para ela entender quem é do que de algo que faz parte de quem ela é agora. Aliás, após seis episódios ela já é “alguma coisa”, acho que o suficiente para não querer perder o que ganhou desde que despertou.

Passando para a próxima faixa, a aparição do trio do bobalhão foi conveniente, mas era apelar para isso ou não teria muito como fazer a Mu continuar como Player (e ela recuperaria o poder para isso, era óbvio). Se ela enfrentasse os Earless seria pior, além de que não faria sentido se a ideia era justamente mostrar que, por mais que fosse Player, ela não agia com intenção de machucar indiscriminadamente quem deveria ser o inimigo.

A não adoção de uma postura violenta quando os Earless apareceram se deveu mais a sua preocupação com o Echo, é verdade, mas acredito que a busca da Mu por definir quem é também engloba isso, um modo de pensar semelhante ao do irmão, obtido por meio das experiências que ela viverá ao longo de sua jornada, experiências estas que devam levá-la a lutar por essa coexistência (só exterminar os Earless agora seria ridículo).

No fim das contas, o episódio teve um pano de fundo bem bacana, uma protagonista de episódio não muito melhor nem muito pior que seus predecessores e boas ideias; o problema é que a mão pesada nas referências segue sendo tanto sendo uma qualidade, quanto uma fraqueza do anime, pois, ao mesmo tempo em que dá vasão a temas interessantes, também escancara a dependência dessas referências para se ter uma “história”.

Apesar disso, senti que dessa vez ficou menos “gratuito” como foi nos dois últimos episódios com personagens que eram cópias mais do que descaradas dos homenageados (a Roz foi a que mais me pareceu passar longe da “cópia” disso entre todos que vi até agora). Por outro lado, visualmente o episódio foi muito “pinkfloydiano”, teve tantas referências que se a cor do prisma fosse preta tenho certeza de que rolaria um processinho…

Tiveram o cuidado de diferenciar as pesadas referências as capas de álbuns, ainda que mesmo assim tenha ficado na cara do que se tratava, mas mais uma vez foram ineficientes em dar solidez ao mundo. Um país com apenas uma habitante e que é um prisma gigante que contém uma ilha cercada por uma muralha não me parece nada lógico nem em um mundo cheio de bixos anti-som e pessoas que dão vida a mechas usando amps.

Pelo que entendi o Echo e a Mu estão em uma espécie de União Europeia, um continente no qual dá para transitar entre países associados sem barreiras, o problema é que as referências tomam o lugar de um mundo que faça o mínimo de sentido. O “excelente” mapa expressa bem essa ideia de que a referência se sobrepõe completamente ao mundo, afinal, como deixei passar episódio passado, é a capa do álbum Fragile da banda Yes.

Digo, é uma óbvia referência a ela. Aliás, é mais provável que Echo venha de Echo & The Bunnymen (banda de post-punk e new wave originada em Liverpool, Inglaterra) que de Echoes, o clássico do Pink Floyd, e descobri que Top Boost é o nome de uma banda relativamente recente. Como as referências têm sido a bandas clássicas e Top Boost me parece nome genérico de golpe nem vou considerar tanto a referência, fica de curiosidade.

Enfim, nada novo sob o sol que case tão bem com o céu azul para o quase se dá adeus. Listeners continua sendo um anime movido a referências e nada deve mudar até o final. Menos mal que a produção ainda lembra de que há (ou deve haver) uma história e faz o mínimo de esforço para fazê-la progredir. Se vai ser o suficiente para cativar o público aí são outros 500. Tudo leva a crer que sequer é a intenção, as referências são o principal aqui.

Por fim, vamos a elas. Vários álbuns de estúdio do Pink Floyd são homenageados visualmente ao longo do episódio (aliás, todo o visual me parece remeter a banda, mas me falta mais conhecimento para afirmar isso), sendo estes: Wish You Were Here (no aperto de mãos), The Dark Side of the Moon (com o prisma gigante), Animals (o balão de porco aparece na capa) e A Momentary Lapse of Reason (a cena das camas não me engana).

Além delas, sendo esta a mais importante, há referências a The Wall (talvez o álbum mais importante da banda), afinal, Goodbye Blue Sky (título do episódio) é uma magnífica faixa do álbum conceitual, o qual, inclusive, deu origem a um filme (que eu tinha em dvd, uma pena que eu tenha emprestado e nunca mais tenha visto…). Indo além, não há como deixar de citar o clássico Another Brick in the Wall (ainda que sem referência direta).

Esse país em que a Roz vive é uma salada mista de vários álbuns da banda mesmo. Isso é bom? É ruim? Para um fã de Pink Floyd com certeza é bom, para quem busca originalidade no anime acho que não, mas se você ainda espera alguma dissociação notável dessa poderosa influência musical eu tenho más notícias para você… Pulando de faixa, Shine On You Crazy Diamond foi apelação, a obra-prima é um tributo a Syd Barrett.

Nesse caso do anime, o Crazy Diamond era o prisma de Dark Side of the Moon, para a gente ver como a mistureba foi grande… Não preciso escrever o que é o Rio Estige e muito menos o que é a Via Láctea, né? Sendo assim, resta explicar o que é Londinium e os nomes nas placas que apareceram já dentro do país. Londinium foi uma cidade romana construída no século I onde hoje em dia existe Londres, o nome meio que entrega…

Quanto as três placas, 42nd Treadmill faz referência a uma “música escondida” (faixa curta que geralmente aparece ao fim de faixas longas, algo muito comum no rock progressivo) da banda King Crimson. A música principal é Pictures of a City e ela integra o álbum In the Wake of Poseidon, segundo LP da banda britânica de rock progressivo, contemporânea ao Pink Floyd e ao Genesis e também extremamente relevante e excelente.

Sou um apaixonado pelo King Crimson, ouvi muito a banda, bem mais que as outras duas bandas referenciadas (apesar de conhecê-las um pouco), Hatfield & the North e La Düsseldorf. A primeira de Canterbury (rock progressivo mais puxado para o lado do jazz fusion), a segunda de Krautrock (termo geralmente associado ao som que as bandas de rock progressivo alemãs faziam na época).

O que as três têm em comum? São bandas relevantes no cenário do rock progressivo mundial (não precisa ser um mega sucesso para ser relevante no meio)? O que têm de diferente? Suas sonoridades, cada uma puxando para vertentes diferentes. Como foram postas em placas de um poste imagino que foi uma brincadeira a fim de mostrar que dava para seguir por qualquer um desses três caminhos.

Eu sigo pelos três, na verdade, sigo também por tantos outros, pois o rock progressivo é um dos subgêneros do rock mais ricos em vertentes e qualidade musical, não à toa produziu bandas geniais como King Crimson, Genesis e, é claro, o homenageado da vez, Pink Floyd. Brilhe como um diamante louco, não seja apenas outro tijolo em um muro, fica a dica!

Até a próxima!

  1. Parabéns pela pesquisa sobre as referências musicais. Sou leigo nisso tudo apesar de gostar de rock TB!!!!Epi foi até legalzinho. Qnd Mu descobrir que eh vdd a doença qual será a reação dela ?fugir e deixar echo pra trás pra protege lo…

  2. Fico feliz que tenha gostado. Geralmente percebo qual é a referência ou o que é potencialmente uma referência, então sempre que vejo um nome de banda ou música paro o episódio, abro uma guia no google e deixo lá para consultar ao escrever e até mesmo pegar os links que distribuo ao longo do artigo. Não sei o que esperar quando/se ela descobrir que era mais pesado do que parecia, mas acho que não vai ter tanta repercussão se essa doença voltar a ser abordada na trama. Obrigado pelo comentário e por me acompanhar nessa viagem pela história do rock!

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