Nami yo Kiitekure (Wave, Listen to Me!) é um anime de 12 episódios que adapta o mangá homônimo de Hiroaki Samura (mais conhecido por Blade: A Lâmina do Imortal).

A produção é assinada pelo estúdio Sunrise e conta a história de Minare Koda, mulher de personalidade despojada e irreverência única que ganha a oportunidade de apresentar um programa de rádio.

É com muita criatividade e jogo de cintura, além da ajuda de várias pessoas, que ela trilha seu caminho na rádio e proporciona muitas risadas. Nas ondas da rádio, é hora de Nami yo Kiitekure no Anime21!

É fato que a mulher independente corta um dobrado para ter uma vida estável, e fica ainda mais difícil quando seu emocional não está em dia. Mas como melhorar as coisas? Desabafar e parar na rádio!

Eu sei, esse caminho não é dos mais ortodoxos, mas é o da Minare Koda, a protagonista desse anime, que no auge de seus vinte poucos anos, cabelos louros e tagarelice, chega à rádio de uma forma bem estranha.

Estranha para dizer o mínimo. Matou, um produtor de rádio dos excêntricos, a recruta após uma conversa de bar despretensiosa sobre um término de namoro, um coração partido e desejo de vingança dos bons. Claro, para atuar em um seguimento mais flexível, com horário vago e baixos custos de produção. Não é como se uma rádio japonesa de alcance regional fosse investir em uma amadora, não faria sentido.

E sentido é o que o anime mais faz, apesar de Minare ser uma personagem complexa e divertida, que não sofre com um roteiro comum ou uma direção boba, mas brilha pelas coisas que diz e a maneira que age.

Tudo isso se equilibrando entre os boletos a vencer no fim do mês, o trabalho em um charmoso barzinho que vende pão de queijo (sério), entre outras iguarias, e um relacionamento tóxico que acabou mal.

A vida dela não é fácil, mas não teria graça de fosse, pois mesmo em uma comédia (Wave é uma genuína), há a necessidade de conflito, de algo que precisa ser resolvido a fim de provocar a satisfação do público.

E isso ocorre no anime, aos poucos, entre progressos e retrocessos de uma vida cotidiana bem incomum e cercada por figuras que vão do normal, mas nem tão normal assim, ao anormal, esse um tanto exagerado.

Como é comédia, funciona, não é como se o anime extrapolasse ao fantasioso também, e o mais legal é que ao passo em que a Minare se enfurna no mundo da rádio, seu trabalho fixo e colegas seguem “ativos”.

Tem o Nakahara, que até a ajuda em suas loucuras mesmo sem ela corresponder seus sentimentos; o gerente, que serve mais de chacota para a Minare; e a Makie, com seu passado sombrio e prestatividade.

Inclusive, apesar de ter um pano de fundo que soa exagerado, a Makie toca em um território que não é diretamente explorado pelo anime, mas está ali, que é a importância da independência do indivíduo. Nesse caso, da mulher, afinal, a Makie é uma e usa o trabalho no Voyager como rota de fuga de uma vida de censuras, enquanto a Mizuho, outra personagem das boas, cresce ao definir ambições profissionais.

A Minare acaba sendo uma boa influência para elas, porque persevera a cada rasteira e é com coragem e determinação que traça objetivos e se esforça para alcançá-los. Wave não é um anime feminista, mas é!

Digo, ele não trata nada às claras, mas personagens fortes e que se apoiam, mesmo mais indiretamente, me levam a achar que a trama aborda dificuldades e esforços de mulheres com bom humor e inteligência.

Talvez não seja o suficiente para poder encaixá-lo em nada; não tenho como falar sobre o feminismo com propriedade, né; mas acho que é um bom exemplo de história adulta escrita para todas as audiências.

Para homens, é claro, mas também para mulheres, sem apelar para objetificação, mas também sem vender uma ideia pouco crível. Minare parece uma mulher real que você e eu gostaríamos de conhecer.

Sim, isso também vale para as outras personagens, cada uma com sua personalidade e variado tempo de tela e profundidade. Aliás, é ótimo como o anime tem suas mensagens, mas não se limita a elas.

Nami yo Kiitekure é uma comédia e como tal precisa provocar o riso, e se não isto (o riso é algo particular de cada um), precisa entreter, aguçar o interesse do público ao longo de seus 12 episódios, e isso é feito. Muito porque o trabalho na rádio e fora dela (a pesquisa de campo para temas), dá vazão a histórias tão surreais quanto a da Minare, se duvidar até mais, flertando com o absurdo sem extrapolar tanto.

É aí que brilha a criatividade de Wave, ao mesclar a personalidade peculiar da protagonista a situações para lá de estranhas e roteiros de gravação dos mais imaginativos e livres. Impera a arte do improviso!

A Minare não teve uma introdução prévia à rádio e é o seu talento natural, assim como a sua capacidade de adaptação, que a fazem se integrar tão bem ao meio, até segurando a ponta quando a coisa aperta.

Inclusive, não posso esquecer de elogiar a visão sim, respeitosa, mas bastante realista, do papel da rádio nos dias de hoje. Não se tenta vender uma falsa ideia de que a rádio tem o glamour e relevância de outrora.

Entretanto, também não se ignora a importância do meio de comunicação em massa mais antigo que se tem conhecimento (é a rádio, né?), tanto é que o desfecho do anime exemplifica bem o que escrevo.

Quanto a animação do Sunrise (conhecido como a casa de Gundam, Gintama e Love Live!) não chega a ser um primor, mas cumpre bem seu papel com cenas fluídas, bons cenários e sombra no olho(???).

A sombra nos olhos dos personagens foi o que mais chamou atenção visualmente ao longo do anime; eu não sei a que se deve e nem lembro se já havia visto antes, mas posso escrever que nada me incomodou.

De resto, a direção foi bem consistente, mas com toda certeza foi o roteiro o que mais se destacou, além, é claro, do trabalho dos seiyuus, principalmente da Riho Sugiyama, a seiyuu que dá vida à Minare. Ela se esparrama pelo anime, dita o ritmo das cenas em que a heroína aparece e, principalmente, passa muito apuro técnico e emoção com sua voz. Eu já a tenho como uma das melhores atuações que (ou)vi.

Por fim, Nami yo Kiitekure não é mesmo uma história com uma baita mensagem ou que provoca profunda reflexão, mas é uma comédia, é normal que não seja assim, e o mais importante, o anime faz muito bem… que é aliar a comédia a uma boa história, a qual sim pode muito bem ser vendida como adulta, mas não, não deixa de ser interessante a outras faixas. É só curtir a proposta e a heroína que você vai se divertir.

Inclusive, começar o anime em um ponto à frente da história foi um dentre tantos (mas talvez o principal), acertos na maneira de contá-la, a embalando no melhor, mais brilhante papel possível.

Então, mesmo que não dê risada acho muito difícil você não gostar do anime, mas se der, melhor ainda. Eu morri de rir praticamente todo episódio e levo a Minare Koda e Wave para sempre em meu coração.

Esse é daqueles animes que você torce que tenha continuação, mas não vê muitas chances por não se tratar exatamente do que faz mais sucesso nem no gênero da comédia. É triste, mas não há o que fazer.

Me agarro a esses 12 episódios que a mim muito divertiram e ao mangá que eventualmente vou parar para ler. Duvido que chegue aqui tão cedo, se chegar. Mas é lançado nos EUA, então não tenho desculpa.

Até a próxima!

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