Ghost Reaper Girl (Ghost Girl) é um mangá de autoria de Akihisa Ikeda (Rosario to Vampire) lançado na Shounen Jump+ no Japão e no aplicativo Manga PLUS fora dele. Na história acompanhamos Chloé, uma atriz de filmes B que é perseguida por espíritos e acaba firmando contrato com Kai, um ghost reaper (ceifador fantasma, em tradução livre), para proteger a própria pele e correr atrás dos seus sonhos.

Uma característica do piloto que me agradou, mas também me desagradou, foram os perrengues pelos quais a protagonista passa em sua mal-sucedida carreira de atriz. É legal ela buscar o estrelato após a vida de dificuldades que passou, o contraste da idade com a aparência puxa para a comicidade e a gente sabe que assédio, infelizmente, não é coisa rara no ramo, ainda mais para uma atriz desconhecida…

O problema é que mesmo dizendo que “não é não”, do que adianta a heroína ser forte e consistente se o “herói” (ou o co-protagonista) avacalha toda a trama? No máximo a Chloé me incomodou quando cedeu a proximação do Kai com base na desculpa dele ser seu fã, mas, ainda assim, acho que o quadro geral é positivo, ao menos quanto a ela, pois a moça não deixa que se aproveitem de sua figura fofinha.

Seja se afastando, tacando porrada ou lutando contra a perda do próprio corpo. Ela é bem obstinada e simpática, não parece traumatizada por um passado difícil e é batalhadora e corajosa. Voltando ao Kai, é bem idiota que ele se apresente como lolicon. Ser fã da Chloé, dada a natureza dele e o único filme que ela fez, me parece bem mais fácil de engolir que um espírito admitir gostar de garotinhas.

É esse tipo de abordagem mais fetichista, que otaku engole mais fácil que quem não é, que me chateia, porque tirando isso não teria muito o que reclamar do personagem. Inclusive, a abordagem da idade da moça por parte dele é bastante infeliz, pois propicia um diálogo idiota e desnecessário, afinal, ela ser a atriz favorita dele já é motivo suficiente para que haja afinidade de sua parte. Não precisa meter “loli” nisso.

Não associo o assédio do início, ocasionado pelos espíritos possuindo o corpo do produtor, com o fato da co-estrela da serialização ser um lolicon, mas se a trama seguir investido em construções fetichistas e idiotas do tipo ficará difícil não encarar tudo que de bom a heroína apresentar enquanto mulher como uma grande fachada para uma história que na verdade só objetifica, não empodera, igual a maioria.

Enfim, o belo traço do autor certamente é um ponto positivo do mangá, talvez o maior, mas não é só isso que importa em uma leitura, né. Se o roteiro não é dos mais criativos; com uns momentos detestáveis, todos envolvendo o polêmico Kai; a construção dos personagens também não empolga. Apesar de, repito, ter gostado bastante da heroína, foi apenas dela e sem levar em conta o contexto que a engloba.

Por exemplo, ela se funde ao Kai e se torna uma ghost girl, mas como vai ser isso? O mangá vai puxar mais para a ação ou para a comédia? Em que isso pode ajudá-la em seu objetivo de se tornar alguém bem-sucedida que os outros possam admirar? Nesse aspecto, quanto a perspectiva, achei que o piloto deu mais sinais de que a trama vai seguir para o lado da comédia, mas confesso não ter achado muita graça.

Sim, se admitir lolicon gratuitamente e brincar com isso com certeza não ajudou, mas além disso, não senti firmeza na proposta. O piloto foi construído todo em cima da interação entre os protagonistas e a perseguição a Chloé, mas pouco esclareceu sobre o mundo. Aliás, tem uma cena em que dão a entender que ela atrai espíritos, mas se isso é verdade, por que nunca passou por uma tentativa de sequestro antes?

Digo, sequestro do corpo, afinal, tentar possui-la é o que ela vai tentar evitar que consigam. Com certeza vai ter sucesso, mas o ponto é que os detalhes do mundo são importantes, porque ditarão o caminho que a história seguirá e a depender dele a gente vai ver uma heroína sendo bem aproveitada ou não. A estreia não me fez enxergar tanto potencial assim, diria até que vejo mais tomando um caminho errado.

Errado, claro, sob meu ponto de vista. Se as pessoas se divertirem a obra estará cumprindo seu propósito, apesar de, repito, questionar bastante as escolhas um tanto infeliz no que se refere principalmente ao personagem Kai. O ponto alto do piloto é, não por acaso, a fusão dos dois. Claro que é também por ser o clímax do capítulo, mas o clímax nem empolga, só curti não ver mais a cara de idiota do ikemen tarado.

Sim, a apresentação dele e as outras bobagens que diz me incomodaram bastante. Não, não vou deixar de ler o mangá apesar disso. Talvez a coisa melhore, eu duvido. Tenho certeza que Ghost Reaper Girl pode ser uma leitura divertida para você, mas só se for o tipo de pessoa que engole alguns sapos ou não se incomoda com eles. Em qualquer um dos casos, não dá para negar que a Ghost Girl é muito da estilosa.

Até a próxima!

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