Chegamos ao segundo de sete, talvez oito, OVAs de Kara no Kyoukai. A história do segundo OVA se passa em 1995 e 1996, cerca de três anos antes dos eventos do primeiro anime, no qual os eventos acontecem já pelo segundo semestre de 1998. O tema central do primeiro OVA foi o suicídio, já nesse segundo, é a especulação do assassinato.

Esse segundo momento da “sectologia”, se é que essa palavra existe, bem, agora existe, é dividido em duas partes, a A e a B. No caso, o seu desfecho só se revelará no OVA sete, ou seja, o último ou penúltimo, pois não tenho certeza em relação a natureza do oitavo OVA, se ele é um OVA de fato, ou uma história compilatória, com o tempo vamos descobrir.

 

 

Acho que todos, a partir daqui, já devem estar acostumados com a estrutura não linear de Kara no Kyoukai, sendo a história um grande quebra cabeça de mistérios, ora resolvidos, ora sugeridos em resolução, e por que não, intensificados.

Mikiya conhece Shiki em 1995, eles estudam na mesma escola e na mesma classe durante os anos colegiais. Fica nítido que ele tem um capote pela moça, um amor à primeira vista que aos poucos vai amadurecendo. Por outro lado, Shiki se apresenta como uma pessoa distante, fria, até mesmo excêntrica. Herdeira de uma família tradicional de guerreiros, que não é apenas hábil em combate, mas costuma se vestir do modo tradicional, usando Kimonos diariamente, o que tanto a faz se destacar ainda mais, quando contrasta de modo bem interessante com a sua postura antissocial.

 

 

É mencionado por um empregado de sua família que Shiki possui uma habilidade única. Suponho que seja aquele poder ocular utilizado no primeiro OVA, mas ainda não sabemos exatamente quais são as características desse poder. O que sabemos até o momento, é que Shiki sempre está no lugar errado e na hora errada, e o pior, provavelmente de propósito.

Mikiya, por sua vez, é um cara comum, talvez curioso, ou mesmo em auto descoberta afetiva. Ele cria um vínculo estranho com Shiki, uma amizade destinada ao sofrimento. Devido a essa proximidade, Shiki lhe revela o seu maior segredo, o motivo de ela se comportar como se comporta. Ela possui dupla personalidade, uma existência cindida em suas partes, duas pessoas que vivem no mesmo corpo, que se comunicam, mas que sentem e pensam de maneira distinta. A Shiki um, ao perceber a presença da Shiki dois, que nada mais, nada menos é uma parte dela mesma, a Shiki completa, descobriu fatos sobre a natureza humana, e sobre si mesma, que não conseguiu enfrentar. Ela descobriu o ódio, a repulsa, a dor, e acima de tudo, a destruição, o assassinato, a mutilação.

 

 

Shiki é uma pessoa extremamente auto destrutiva, entretanto, ela não se destrói como um todo, mas sim destrói a sua outra parte. É como se vivessem em um corpo duas pessoas diferentes que conhecem absolutamente tudo uma sobra a outra, e por consequência, é como se essa Shiki completa, conhece-se absolutamente tudo sobre si mesma, sobre as partes e a soma das partes. O efeito que isso causa é que Shiki é uma pessoa sem véus, sincera ao extremo, esclarecida a um ponto onde a dor impera sem controle, uma dor tão profunda, e tão intensa, que a tornou insensível, ou mesmo, que foi alocada e direcionada a sua metade dois.

A Shiki dois, em particular, apresenta uma personalidade muito mais viva do que a Shiki um, porém, também muito mais maligna. Ela foi alimentada desde o seu surgimento com todo tipo de agressão, sendo vez após vez “assassinada”, odiada, negada. A única coisa que ela conhece é o que a Shiki um lhe ensinou, a destruição. Ela explica ao Mikiya que ambas não podem se relacionar com outras pessoas, que ela, a dois, só deseja a morte e o sofrimento, e que a um, não consegue se conectar, amar ou sentir, o que implica que ambas, somadas, têm latente uma vontade contrastante de querer o mal dos outros, de querer matá-los.

 

 

A história desse segundo OVA é exatamente o mistério dos assassinatos em série que estão acontecendo na cidade. Será que Shiki é a assassina? Será que ela desmembra, retalha e brutaliza as suas vítimas? Será que são suas vítimas? Todas essas perguntas ficam em aberto no OVA, embora ele nos direcione a acreditar que Shiki, uma moça que tem por costuma vagar durante as noites para encontrar o seu próprio vazio existencial, para enfrentar a sua completa solidão dentro da imensidão do mundo, sempre acaba no local dos crimes, várias e várias vezes.

A cena mais impactante, e mais perturbadora do OVA, é quando Mikiya se depara com a jovem em frente a um corpo recém decapitado, sendo banhada pelo sangue que jorra do cadáver e sorrindo maquiavelicamente. Não sabemos se ela cometeu o ato, mas sabemos que ela se delicia com o processo. Mikiya, por sua vez, resoluto e absoluto, escolhe acreditar na inocência da moça, mesmo sabendo de sua personalidade, ou mesmo existência, distorcida.

É emocionante, realmente, incrível. Mikiya começa a acampar todas as noites em frente a casa de Shiki, seja para que ela não supostamente saia para matar mais alguém, protegendo a moça dela mesma, ou protegendo os outros dela, seja para descobrir se de fato é ela quem é responsável pelos assassinatos. Ele tem sido informado por seu tio, acho que é seu tio, um investigador da polícia, sobre os assassinatos, as características de cada ato, as pistas, e mesmo assim, ao confrontar Shiki, que se isola cada vez mais de todos ao seu redor, decide acreditar nela, que ela não é a assassina, mesmo que tudo leve a acreditar, e mesmo indique, que é ela quem está matando essas pessoas.

 

 

Tem um personagem estranho nesse segundo OVA, mas que é extremamente misterioso, um jovem aluno da mesma escola que parece saber o que está acontecendo. Ele cruza com Shiki uma vez no corredor e em outro momento ele conversa e informa Mikiya, mas não ficamos sabendo o teor e o conteúdo da conversa entre os dois. Fica para a segunda metade dessa história.

O desfecho da história não poderia ser mais instigante. Temos Shiki perseguindo Mikiya com uma faca em mãos, não apenas atuando, mas com plena intenção de matá-lo. Ela embosca o seu amigo, a pessoa que a ama, e por quem ela mesmo começa a sentir afeto, um dúbio sentimento de zelo e aniquilação. Mikiya está com a faca no pescoço implorando por sua vida.

 

 

Sabemos que ele sobrevive, já que a estrutura da história propicia isso, mas não sabemos o que diabos aconteceu com ambos, e vamos ficar sem saber por um bom tempo. De todo modo, o OVA nos arremessa para 1998, e revela que Shiki está hospitalizada. Mikiya busca ajuda de Touko, a personagem do primeiro OVA, e as histórias se conectam parcialmente. Sabemos que a Shiki do primeiro OVA não tem mais uma de suas metades, a Shiki dois, também sabemos que ela não tem mais um de seus braços, e mesmo que aparentemente não se alimenta mais, mas só poderemos entender com clareza o que aconteceu com ela e com Mikiya, nos próximos momentos da história. Tenso né ^^. Até a próxima pessoal.

 

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