Ron Kamonohashi: Deranged Detective (Kamonohashi Ron no Kindan Suiri) é o mais novo manga de Akira Amano (Katekyo Hitman Reborn!, ēlDLIVE) em lançamento na Shounen Jump+. Na história acompanhamos Totomaru Isshiki, um jovem policial que pede a ajuda do genial detetive particular Ron Kamonohashi a fim de desvendar um caso de assassinatos em série. Porém, Kamonohashi não é bem aquilo que Toto esperava e vai surpreendê-lo tanto com suas capacidades investigativas, quanto com suas peculiaridades.

Ron Kamonohashi é um detetive prodígio que abandonou a investigação criminalista por causa de um “defeito” que o torna um detetive inadequado, uma premissa digna da leitura de um piloto, que atraiu minha atenção, me divertiu em sua execução, mas me desagradou por causa de alguns pontos nos quais vi boa margem de melhora. Não à toa o desenrolar do piloto é quase que em sua totalidade tão facilmente deduzível quanto o protagonista faz parecer que é descobrir a identidade de um assassino em série.

Aliás, ao mesmo tempo em que as deduções dele são um predicado da trama, também jogam a história em uma vala comum dentro do hall das obras de detetives, porque Ron faz parecer tudo muito fácil com sua capacidade de observação muito acima da média e personalidade um tanto despojada. Diria até que o caso não ajuda, pois o simpático e diligente Toto faz parecer que ele é praticamente sem solução, mas a velocidade e facilidade com a qual Ron vai desvendando o mistério meio que banaliza o problema.

A personalidade do protagonista também parece toda muito pensada para vendê-lo como alguém excêntrico e genial, até mesmo imprevisível. Não que isso me desagrade, até compreendo por se tratar de um mangá e não ser má ideia tentar vender um personagem marcante, o que pega é como isso contribui para essa impressão “overpower” do personagem, que consegue resolver um caso ao passar alguns minutos deitado ao lado da última vítima que o assassino em série fez, quase que debochando de qualquer modus operandi convencional.

Não que eu seja alguém que só vê valor em métodos ortodoxos de investigação, mas e se ele destrói uma prova no local do crime com seu método para lá de questionável? Entendo que ele é um prodígio entre os prodígios, mas menosprezar todo o entorno por excesso de confiança é o tipo de construção de personagem que me desagrada enquanto espero o mínimo de realismo em uma história, ainda mais após o que ocorre no final, a revelação do defeito que o fez parar de trabalhar como detetive.

Porque, é sério, beira ao super poder a ideia de que um investigador é capaz de induzir o criminoso ao suicídio apenas com palavras e um olhar 43, não bastasse isso a revelação de que ele realmente fez todos os criminosos que desmascarou se matarem não o torna em si um assassino em série como o desse piloto? Quanto pano o sistema judiciário japonês não passou para ele? Mesmo que a questão do suicídio no Japão seja tratada de forma diferente do que é aqui, ainda assim, é uma situação “delicada” para dizer o mínimo.

Não duvido que ele tenha as costas largas, mas a ideia de trocar o bem que ele fez pelo mal que causou (ainda que tenha sido contra criminosos) não muda o fato de que foram crimes os quais ele cometeu. Em todo caso, imagino que um bom advogado rebaixe por terra quaisquer acusações de indução ao suicídio que ele possa ter recebido, porque a situação parece absurda demais, então não é culpa dos mecanismos do mundo da obra, mas da construção do personagem, pensada para torná-lo quase um detetive sobrenatural.

Se era para ser assim, por que não torná-lo um detetive sobrenatural logo de uma vez e aproveitar para trazer esses elementos fantásticos para a trama já no início? A explicação do método de assassinato do assassino vai na contramão disso, pois é bem detalhada e lógica, então duvido que o sobrenatural roube a cena, tornando essa capacidade de “convencimento’ do protagonista algo deslocado do restante da trama. Apesar disso, é inegável que o mangá diverte e tem ideias criativas inseridas nele, mesmo que o desenvolvimento seja clichê.

Por exemplo, gostei dos detalhes que cercavam o protagonista, desde o que ele fazia para se manter em reclusão até sua ousadia ao investigar o cadáver (apesar de, repito, questionar seu “estilo”), porque foram demonstrações de criatividade do autor, ainda que nada tão incrível. Quanto ao Toto, ele tem uma personalidade bem “gostável” e é apresentado de maneira consistente, tornando até compreensível quando o protagonista diz que ele é o parceiro ideal, pois Kamonohashi é o cérebro, enquanto Isshiki cuida dos detalhes com seu senso de justiça e coragem.

Por fim, o defeito grave do protagonista me incomodou bastante, mas mesmo antes dele eu já estava achando o piloto mais ou menos, é legal a ideia e não dá para desprezar a capacidade de raciocínio do protagonista, mas a execução tornou tudo menos sério do que eu esperava e muito fácil. Não que seja realmente, mas se um caso de descabelar a polícia foi resolvido assim, como esse protagonista e assistente serão desafiados? Não sei, quem resolve os mistérios aqui é Ron Kamonohashi, o maior (e talvez o mais excêntrico também) detetive entre os detetives.

Você pode ler o mangá gratuitamente em inglês ou espanhol no aplicativo MANGA Plus.

Até a próxima!

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