Bullying não é brincadeira, talvez para quem pratica, não para quem sofre. Acho ainda pior quando o bullying vem de pessoas próximas, que vestem a carapuça de amigo, mas não entendem que qualquer amizade deveria ter seus limites.

Por outro lado, quando quem faz não é próximo a vítima acredito que haja mais liberdade para ir além da agressão verbal e partir para a física, como aconteceu no caso do Junpei.

Independente da forma ou de quem pratica, bullying é uma péssima ideia, mas não estou aqui para ir além no tema, só para dar meu pitaco habitual. É hora de Jujutsu Kaisen no Anime21!

A indiferença buscada pelo Junpei se assimila muito a reflexões que já tive em outros momentos da minha vida e a algo que ainda tento fazer hoje em dia, mesmo que já sem pensar muito a fundo no assunto. Não vou me aprofundar no diálogo do garoto com o Mahito, mas posso pontuar duas coisas.

Primeiro, é ótimo que ele mesmo questione se existe contradição em suas ideias, só assim para se afastar cada vez mais da hipocrisia. Segundo, se ele ainda precisam de alguém para dizer a ele o que fazer, então é sinal de que ainda tem muito o que amadurecer até encontrar suas respostas, resta saber se terá condições para isso…

Enquanto isso, quem o orienta é o Mahito, o artesão das almas, cuja filosofia é basicamente a pureza do desejo, mas não um desejo irracional, afinal, o que ele quer é que as pessoas façam o que quiserem, quando e como quiserem; mas ele mesmo age com cautela, com inteligência. Só o fato de ficar atento a um possível atrito com o Gojou mostra o quão meticuloso ele é.

Aliás, o que seria sua relação com o Junpei senão um meio para um fim? Está claro como o dia que ele quer atingir os feiticeiros e usa o Junpei para isso, enquanto sofistica cada vez mais seus experimentos com humanos. Nesse episódio ficamos sabendo melhor como ele pensa, peça chave para compreendê-lo.

Sobre a habilidade do Mahito e como ela influencia em sua personalidade, assim como em sua filosofia de vida, acho bacana pontuar que não é como se o que ele altera seja necessariamente a alma do indivíduo, é a interpretação dele, afinal, só ele tem a habilidade e só ele é capaz de definir o que é esse poder.

Contudo, é inegável que também traz certa consistência a algo que às vezes ou fica sem resposta em uma historia ou é uma certeza geral, o que não me parece ser exatamente o caso. Repito, o Mahito mexer com as almas dos humanos é a interpretação dela, nada garante que esteja certo em todos os pontos, nem que esteja errado em algum.

De toda forma, eu gosto de como a trama não impõe verdades absolutas mesmo quando poderia esquematizar até mesmo isso; o que é a alma, o que é o coração, o que é a base da existência de um ser vivo. Inclusive, a própria ideia dele de que não existe razão, de que não existe nada como um propósito maior ou uma lição é algo também muito particular dele.

Isso não necessariamente deve contaminar a obra, mas sim dar ao público a melhor noção possível de quem é o vilão e dos seus motivos. Mahito é um personagem bem interessante no qual todos devem prestar atenção, e não só por ser um vilão poderoso, mas principalmente pela autenticidade em seu modo de pensar e agir.

Enfim, a segunda metade é contemplada por uma dinâmica que começa a ser abordada pouco antes e antevi episódio passado, o ataque em duas frentes do Nanami e do Yuuji.

Enquanto um atacou mesmo e começou a travar uma luta bem animada, mas, principalmente, com algum conteúdo; o outro partiu para a aproximação amigável e rendeu o pico de comédia que um episódio como esse, com seus contornos mais pesados, poderia oferecer.

Mas sem forçar a berra, seja para a seriedade ou a comédia. E isso até faz sentido, já que o Yuuji não quer matar uma maldição como o Nanami, e o inimigo da hora extra não quer convencer um humano a não seguir pelo mal caminho como o Yuji.

O encontro do Yuuji com o Junpei foi marcado pela zoeira do protagonista, então nem vou me aprofundar muito nele, mas gostaria de pontuar o ódio que o Junpei demonstrou pelo professor e o quanto é fácil apontar o dedo para o criminoso depois que a m*rda está feita, mas é difícil tentar compreender o entorno que o cerca e todas as desvantagens que ele fornece a uma atitude diferente, assim como aquelas coisas que seguram as pessoas nos trilhos.

No caso do Junpei, a escola é omissa, o que fica bem claro na figura do professor, mas ao mesmo tempo a prévia do próximo episódio apresenta aquela que deve ser sua mãe, certamente um ponto de contenção para o garoto.

Não se resume a isso, é claro, há outros pontos que entram no contexto, e eu sei que, independentemente do caminho que ele escolher trilhar, dá para dizer que poderia ter evitado a violência ou se jogado nela, mas peço que você, como telespectador, tente se colocar no lugar do personagem.

Procure pensar um pouco como ele; não como alguém que nunca sofreu bullying (ou até sofreu, mas soube lidar melhor com o problema), é extrovertido e não reflete muito sobre questões existenciais; mas alguém que tem as característica do Junpei (sejam qualidades ou defeitos) e se viu defronte a um poder capaz de fazer o que ele quer e não consegue realizar de outra forma.

Temo que não tenha me feito entender tão bem, mas para resumir, é o caso de tentar encarar o Junpei não como um vilão ou um mocinho, mas como um humano igual qualquer outro, suscetível as tentações que podem sanar seus anseios ou as incoerências que podem afastá-las.

Gosto bastante de personagens como o Junpei e, como já pontuei neste mesmo artigo, acho que já foram dados sinais do desenrolar de sua situação, ainda que não tão nítidos, afinal, Jujutsu Kaisen é um bom anime e o mínimo que se espera de um é que consiga segurar ao menos um pouco a tensão. Esse episódio mesmo foi bem legal, ao mesmo tempo em que foi uma transição até o clímax.

Porque em 2 ou 3 episódios esse arco deve acabar e dar lugar ao próximo, um no qual espero que as lutas mantenham pelo menos a qualidade do embate entre o Nanami e o Mahito, além da consistência na escrita, porque mais importante que a animação foram os diálogos, e os pensamentos intercalados entre eles.

Com isso conhecemos mais os personagens e entendermos um pouquinho melhor o quadro geral da situação, seja no que competia apenas as capacidades de luta dos dois ou suas intenções com aquele confronto. Não foi nada demais, mas certamente gosto de como as lutas do anime tem mais a acrescentar do que apenas ação desenfreada.

Aliás, ação desenfreada e ótima trilha sonora, porque a trilha sonora desse anime é muito boa, tanto que mal posso esperar para um clímax maior no qual imagino que a animação será ainda mais exigida, assim como seus complementos serão ainda mais requintados.

Jujutsu não é assim tão acima da média com relação a outros battle shounens, mas com certeza tem se desenvolvido de maneira mais enxuta, mais fluída, mesmo com a manutenção da estrutura que sempre funciona para vender.

Curti até como o Nanami incorporou a figura do salaryman insatisfeito com a própria situação, enquanto o Mahito foi, como esperado, flexível e ousado, como predizem suas ideias.

É nesses detalhes que a historia vai se encorpando, indo um pouco além dos clichês e da comicidade facilmente acessível. Baixar a calça de um professor do nada não diz nada sobre o Yuuji ou o anime, expor pontos de vistas e intenções por meio de ações já constrói alguma coisa.

Por fim, achei o episódio bem legal; a animação não foi espetacular, mas com certeza não fez feio, a trilha sonora sim, essa trabalhou bastante a favor das cenas, mas com certeza foi o roteiro que mais me agradou.

Espero que o anime continue nessa pegada e só melhore até o final. Esse arco acaba antes e promete um clímax bom, ainda que, como é de se esperar, sejam apenas os primeiros degraus em uma construção maior.

Até a próxima!

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