Não lembrava mesmo que esse anime era tão divertido. Sério, amei a trilha sonora nesse segundo cour, mas também me diverti demais com a comédia desses episódios e a perspicácia da direção em disfarçar uma certa lentidão na progressão dos acontecimentos com algumas sacadas bacanas. Até o passeio juju me divertiu bastante e acho que os episódios mais descontraídos, ainda que com alguns aspectos sérios, ajudaram. Sem mais delongas, é hora da ação!

Adoro a fluidez dos acontecimentos em Jujutsu por, como o Mahito bem explicou, a ideia do grupo das maldições ser seguir um plano por ora, mas podendo mudar dependendo dos acontecimentos. Não há uma amarra a uma ideologia, ou até há, mas com a consciência do papel que a maldição tem nesse contesto. O cara dos vulcões sabe que deve morrer antes do mundo se tornar um mundo de maldições, mas mesmo assim ele age, enquanto o Mahito parece apenas querer ver o circo pegar fogo.

Essa variação, essa capacidade de adaptação, de readequação, dos objetivos dos polos da trama é positiva porque permite mais, não prende os personagens a uma ideia fixa, e mesmo havendo consenso entre os entes dentro dos dois polos, ainda assim, existem pontos de divergência no que se refere a visão de mundo e formas de agir. Principalmente entre feiticeiros, não à toa rola o que vemos no terceiro episódio. E sabe o que acaba sendo mais engraçado? Os objetivos meio que se cruzam, né?

Enquanto as maldições querem reunir todos os dedos do Sukuna para tacar o terror com uma ressurreição completa do vilão, os humanos veem no Yuuji uma oportunidade de “domar’ a fera e apaziguar esse perigo. Para tal, as atitudes do Gojou dão a entender que ele vai continuar dando dedos para o Yuuji, e isso acaba ajudando os vilões. Além disso, deixar os dedos na posse deles serem roubados para depois atacar e despistar o objetivo real me parece uma boa ideia, precisamos admitir. Até porque eles vão intervir uma hora nesse intercâmbio, é o clichê.

E Jujutsu Kaisen não foge dos clichês, a nova abertura mesmo não foge muito dos padrões de abertura em um battle shounen. No máximo ela é mais bem animada que a média, mas até a música me cativou menos que a primeira. Talvez isso mude até o final da temporada, mas por ora não vejo muito o que elogiar sem ser repetitivo. Acho mais interessante comentar que Jujutsu já vende mais de um milhão de exemplares por edição e isso é ótimo, garante anime por um bom tempo. Não deve romper a barreira dos cinco milhões como Kimetsu no Yaiba, mas um já é muito.

E é serio, eu não lembrava o quanto o anime conseguia ser divertido, gostei bastante do timming cômico no início desse novo arco e acho que a trilha sonora deu uma boa contribuída não só para isso, mas também para encorpar e conferir identidade a outros tipos de cena, principalmente, mas não só isso, as de ação. Novos sons surgiram e eles foram muito bem usados, mas claro que o ideal é falar um pouco dos personagens e do que aconteceu de interessante na tela (não muito no segundo episódio, mais no terceiro).

Quem é o Yuuta (Yuuta Okkotsu) mesmo? Não sei se você se lembra, mas ele já foi citado no anime antes, só ainda não deu as caras no primeiro plano da história. Ele é um estudante mais velho da escola de Tokyo que protagoniza Jujutsu Kaisen 0 (o prólogo que se não me engano a Panini já anunciou o lançamento), uma história que eu li e é bem legal, não acrescenta tanto a trama principal, mas dá noção de quem é o personagem e de como ele pode agregar a trama principal quando for nela inserido. E ele vai ser, é só questão de tempo.

Quanto aos esquisitões de Kyoto, não tenho muito o que comentar sobre algum em específico, só falar que o robô não é exatamente um robô (é que depois de um panda quem não leu o mangá deve estar esperando de tudo), a bruxinha é simpática e o carinha que nunca abre os olhos (é o tipo de coisa que sempre aparece em battle shounen, não tem jeito) não, mas tem toda uma treta por baixo envolvendo os clãs mais importantes entre os feiticeiros que meio esse jeitão dele, afinal, é o primogênito de uma dessas famílias.

Não lembro de detalhes que não seriam spoilers, a única coisa que garanto é que é politicagem pesada, e a gente sabe como isso ferra o mundo desde antes da palavra política existir. Eu não estou dizendo que seria melhor sem política, mas é inegável que tentar impor sua visão de mundo, quer ela tenha mais pontos positivos que negativos, sem diálogo e consenso é algo questionável e de certa forma é o que o diretor da escola de Kyoto busca fazer. Mas não é como se o Gojou fosse um bom samaritano também, né, ele já mostrou o quanto pode ser irresponsável.

De toda forma, como os participantes do intercâmbio devidamente apresentados o Yuuji volta dos mortos e se reúne aos companheiros, alguns que ele sequer conhecia, chateando mais que agradando em um primeiro momento, o que era normal. Não deve ser boa a sensação de ter tido algo tão importante subtraído de você como a verdade sobre a vida de alguém com o qual você se importava. Já pior que isso, obviamente, é o traidor na escola de Kyoto. E por que o Gojou acha que é alguém de lá? Porque ele acha que conhece bem os seus alunos?

Talvez seja pretensão da parte dele pedir para que a Hime investigue sem demonstrar que considera que o traidor possa ser de Tokyo, mas isso faz sentido, né, assim como a ideia de um traidor entre os mocinhos, que é um clichê em battle shounen, mas esse costuma ter alguma lógica e não vou dar spoiler aqui, mas gosto de como a situação do traidor se desenrola no mangá, apesar de ter uma ressalva sobre ela, só que é claro, não é o que deve ser comentado aqui. Basta falar que faz sentido tratar do assunto.

Como também fez sentido a cabeça do Yuuji ser posta a prêmio pelo diretor de Kyoto porque já era a intenção da facção de lá matar o garoto, então não há muito o que falar sobre isso. A maioria obedece as ordens do velho, mesmo a Miwa que as segue a contragosto, a única exceção tinha que ser o Todou, aquele que segue suas próprias ideias porque se acha autossuficiente devido a sua força. Ao menos é a ideia que passa, não acredito que foi por causa do programa da idol não, mesmo que ele passasse na hora da reunião estratégica.

Aliás, me diverti no meio do episódio ao me dar conta que o Todou dá vida ao meme do otaku de idols fortão e musculoso. É por essas e outras besteiras que voltei a ver Jujutsu com um sorrisão no rosto, mas também porque, repito, a trilha sonora arrasou e o terceiro episódio foi a prova clara disso com faixas muito boas em momentos chave do episódio. Além disso, e tão importante quanto, a animação fez jus a luta, com ótimos cortes e fluidez, o que ainda que pudesse ser melhor, foi bom o suficiente para a importância e exigência das cenas a essa altura do arco.

E se no fim do segundo episódio o passeio juju foi em homenagem a paixão do Todou pela Takada-chan, o trecho dele fabulando uma realidade paralela em que é amigo do Yuuji e colega de escola de sua amada idol foi sensacional. Foi o tipo de quebra cômica que só não me tirou da luta devido a zoeira que já era a coisa. Não foi do nada também, afinal, o Todou já tinha feito a pergunta para o Fushiguro. A diferença foi a resposta, meio que selando uma amizade que tem tudo para dar certo.

Porque os dois lutam com os punhos e são personagens bem planos ao menos na superfície. Eles querem ficar mais fortes (o Yuuji acaba os dois episódios pensando nisso) e são adversários formidáveis um para o outro mesmo que um tenha a experiência que o outro não tem, enquanto se pode falar também que um tem um potencial bem mais inexplorado que o outro, não à toa gosto da interação deles nesse arco porque o Todou tem o que compartilhar com o Yuuji e o herói tem mais afinidades com o brutamontes do que apenas o gosto para mulher.

Enfim, o povo de Kyoto ataca em bando e o ataque pode não ter dado em nada, mas ao menos motivou o Todou a treinar o herói. Desde que o Todou parou de esmurrar a cabeça dele e o Yuuji se levantou para revidar que deu para entender que a luta não seria séria em nenhum instante depois dali, mesmo que o maromba falasse outra coisa. A intenção do personagem claramente não é matar o protagonista, mas se divertir, testar sua forçar e a força de seu rival. Todou era o tipo de adversário que o Yuuji precisava.

A estratégia da galera de Tokyo acabou dando certo mesmo que não fosse essa a intenção, e se um confronto entre os dois lados não ganhou o desenvolvimento que poderia ter tido, teve uma ou outra coisa legal que enrolou o suficiente para o episódio passar rápido e eu nem notar isso. Por exemplo, achei o infodump da Miwa legal, e olha que raramente gosto desse tipo de recurso narrativo, pois fazia algum sentido aquilo rolar ali, até pela Miwa ser meio desajeitada e claramente só estar participando com “olhos no prêmio”.

Lembra que tem uma cena em que o Nanami fala com um feiticeiro e diz que pode indicá-lo, passando o resto do trabalho para ele? Ali ele deu uma palinha de como funciona o sistema dos feiticeiros de Jujutsu, além da “breve” informação sobre existirem Três Clãs e a própria obediência dos alunos de Kyoto denotarem outras coisas sobre o universo dos feiticeiros. Essas sem infodump, mas uma hora devem entrar em detalhes. O importante é que essas informações relevantes para a construção de mundo sejam trazidas à tona em meio as situações sem prejuízo.

Acho que a explicação da Miwa não prejudicou o fluxo do episódio, que progrediu bem e me divertiu bastante mesmo com todo o besteirol do Todou. Costumo não gostar desse tipo de personagem usando esse tipo de abordagem, mas acho que no momento caiu bem. Jujutsu tem uma veia cômica aflorada, mas que não torna o anime uma comédia pura, “só” menos dramático do que são a maioria dos battle shounens. Se isso é bom ou ruim não sei dizer a longo prazo, mas a curto acho que o anime mais ganhou do que perdeu com essa identidade.

Por exemplo, mesmo quando os personagens falam sério muitas vezes ainda fica um clima relativamente leve no ar, como quando o Todou falou com o Yuuji sobre o impacto retardado que os punhos dele provocam. O Todou deve ajudá-lo a explorar melhor essa característica e após o que a luta deles se tornou não tinha mesmo como dramatizar nada ali, né. Em Jujutsu não se dá mais peso as coisas do que elas devem ter, mesmo a zoeira que permeia o episódio todo, mas só o “domina” totalmente no passeio juju. Aliás, o do terceiro episódio talvez seja o melhor até aqui.

A criatividade do episódio anterior se fez presente nesse nesse quesito e diria até que foi maior, pois explorou o outro lado da moeda no tópico do gosto para parceiro amoroso e com muita descontração deu uma certa “esperança” a Miwa em seu crush pelo Gojou. Não deve dar em nada, mas foi criativo e divertiu. Os passeios juju foram a cereja do bolo em um anime que voltou simples, como sempre, mas ainda mais dinâmico do que era antes, tornando um arco que acho de razoável para bom no mangá melhor no anime.

E se o novo encerramento não marcar época como eu imagino que Lost In Paradise fará (tanto pela música quanto pela animação) pelo menos give it back da ótima Cö shu Nie segue o padrão de roupagem autêntica que às vezes falta aos encerramentos de battle shounen. Amei a ideia de alternar cenas como se fosse o Yuuji gravando no celular e cenas mais normais, tudo com uma bela animação que casou com o encaixe das imagens e o tom um tanto idílico da canção. Jujutsu Kaisen voltou bem mais divertido do que já era ou eu só estava com saudades do anime?

Até a próxima!

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