Foram mais dois ótimos episódios de Neverland e no último deles o anime se distanciou ainda mais do mangá. Se por um lado parece que as crianças ganharam uma nova (velha) rival, por outro contarão com a ajuda do melhor dos aliados. Chegamos a metade do anime em grande estilo e avante!

A verdade sobre William Minerva não surpreendeu e se você se incomodou com o fato de ele fazer parte da rede de administração de “recursos humanos” que trabalha para os demônios é porque não se tocou que não haveria outra forma de promover esse princípio de rebelião sem estar dentro do esquema.

Afinal, como ele conseguiria construir um esconderijo no mundo dos demônios e mandar sinais codificados para as crianças sem ter acessos que só alguém de uma alta posição teria? É um pouco como o caso do Ray, que não poderia ter ajudado tanto na fuga como ajudou se não soubesse da verdade de antemão.

Na situação da Emma e dos outros não tem como escolher aliados até porque a Emma tenta manter a promessa de salvar sua família e fugir do mundo dos demônios enquanto o que colocou seus ancestrais ali em primeiro lugar foi justamente a promessa firmada entre os humanos e os demônios.

Entre uma promessa e outra, qual prevalecerá? Qual será mais forte? Eu não sei, mas se a intenção era fazer a gente torcer pelas crianças da Grace Field House, cenas como aquele belo trecho de trabalho infantil (sem contexto isso parece pior do que realmente é, lol) com ótima música e certo divertimento resolvem a parada.

Não tem como não torcer pela Emma e os outros, não tem como não se sensibilizar ao ver crianças tão jovens carregando tanta responsabilidade nas costas. Exceto se você não tem coração, mas eu imagino que você tenha, então deve torcer por elas mesmo notando a contextualização dos demônios que tenho notado e da qual tenho gostado.

Como isso é algo que retorna com mais força no quinto episódio por ora acho melhor focar na volta de uma personagem que já era dada como carta fora do baralho, mas a verdade é que nunca vimos o corpo para ter certeza de nada. Pensando na possibilidade da Isabella encurralá-los até acho que faz sentido mantê-la “usável”, né?

O problema é, se a criadora já perdeu para a criatura antes, o que não garante que perderá de novo? Além disso, o que garante que ela não se arrependeu de todo o mal que causou as crianças e está usando essa oportunidade apenas para ajudá-las ao invés do contrário? É, os demônios são soberbos demais para pensar nisso.

Ao mesmo tempo em que também entendo recorrerem a ela, só me pergunto o que ela fez nos meses que se sucederam ao ataque ao esconderijo. Não parece ter evoluído muito, né? Exceto se outro personagem que “voltou dos mortos” estiver cooperando com ela, algo que só descobriremos no próximo episódio.

Enfim, nada como um dia após o outro, ou melhor, horas após outras porque pouco após caçarem os peixes voadores que vivem fora d’água as crianças viraram a caça de uma equipe de segurança razoavelmente competente, mas potencialmente azarada, afinal, asseguraram o pacote, só não asseguraram as próprias vidas.

Eles não atiram nas crianças, mas se a gente lembrar que elas são produtos de alta qualidade isso faz todo o sentido, já o aparecimento do demônio gigante e selvagem foi bem conveniente, mas ao mesmo tempo não acho algo exatamente absurdo, pois duvido que os demônios tenham os informado desse e de outros perigos.

Resumindo, os demônios não ligam para a vida dos humanos, nem daqueles que trabalham para eles, além de que o barulho foi coisa deles, que cavaram a própria cova ao chamar atenção quando não parecia exatamente necessário. Teria sido melhor apontar a arma para a cabeça de uma das crianças. Mesmo que se tocassem do valor que têm duvido que a Emma e o Ray não se entregariam.

Em todo caso, importa mais comentar que a Isabella deve ter um papel importante nessa metade final de Neverland quer ela queira se redimir ou não porque mesmo que fracasse em qualquer que seja seu objetivo, quem sabe não possa ser usada como refém? Não duvido que a Emma ainda se importe com ela ao ponto de querer salvá-la se souber que está viva.

Ao mesmo tempo, não acho que os crimes dela possam ser compensados por mais que também entenda seu lado (era se tornar uma Mama ou morrer). Para ela o melhor talvez seja uma saída de cena simbólica, se sacrificando para ajudar aqueles que criou com tanto amor e conformismo a se libertarem de uma vez por todas dos grilhões os quais ela não conseguiu se livrar e certamente não o fará pelas mãos dos demônios.

Repito, não sei quais suas reais intenções, mas suponho que ela não seja mais a Mama que um dia tentou impedir a Emma e os outros de querer um futuro, diria até que seu personagem será desperdiçado de outra forma. Além disso, sem a ajuda de alguém ainda mais de “dentro” vai ser ainda mais difícil para as crianças alcançarem seus objetivos.

Enfim, um time skip de alguns bons meses ocorre (tem datas, mas não me lembro do tempo exato) e após ele vemos não só carinhas mais velhas e aparentemente mais maduras, como um cenário ainda mais precário e arriscado tanto no que se refere a obter comida, quanto a se “camuflar” em meio a sociedade para essa e outras coisas.

A forma de sobrevivência das crianças denota não a perda de vista dos objetivos maiores, mas a necessidade de sobreviver antes de tudo, e se a vida no esconderijo do Minerva já nos fazia simpatizar ainda mais com eles, essa vida de dificuldades extremas torna ainda mais difícil não ter na mente bem fixa a ideia de que eles merecem sorte melhor.

Um momento extremamente tenso, mas ao mesmo tempo bastante singelo e produtivo por dar o contraponto sobre os demônios, foi o da visita do demônio velho e cego (ele não viu que a Emma era humana, né) no templo em que eles estavam escondidos. Foi algo tão perturbador a ao mesmo tempo tão sensível, tão simbólico, que não tem como não bater palmas para a direção por ele.

Digo, se isso não se encontra mesmo no mangá, o que acho que não porque não lembro e de toda forma já nesse momento da história há várias alterações em comparação ao material original, mas daqui a pouco falo mais delas, por ora é mais relevante frisar que, assim como o anime deixa claro nesse e em outro momento, demônios têm famílias e parece que comer humanos os ajudam.

Se é assim, a situação fica ainda mais estranha, não vou dizer que complicada porque mesmo que a Emma e os outros (mas principalmente ela) se sensibilizem com isso, não deve mudar o fato de que lutarão pela sobrevivência em primeiro lugar. O que ocorre é que com a percepção de que comer humanos não é exatamente cruel como imaginavam, talvez eles consigam fugir de suas garras sem guardar rancor. E sem matar, será?

Pelo menos acho que não terão rancor de todos e que, por exemplo, a ideia de exterminar a sociedade dos demônios não vai passar pela cabeça da Emma, ao menos dela, que a cada episódio parece cada vez mais consciente disso. Não que ela tenha recursos para tanto de toda forma, mas com o que ocorre na segunda metade do quinto episódio a situação talvez mude bastante de figura.

Quando os garotos pediram para se juntar a busca por alimento eu já sabia que daria m*rda, é sempre assim, é um clichê que ninguém faz nem questão de disfarçar, mas tudo bem, o importante foi a abertura criada com esse pequeno vacilo. Tudo acabou se alinhando para que uma perseguição se desenrolasse e que a trama trouxesse o fato novo necessário para sair do (quase) ponto de total estagnação em que estava.

Não tenho muito o que elogiar na perseguição, mas nem reclamar, seja narrativamente ou tecnicamente, prefiro focar no que importa, na volta de um personagem muito importante para Neverland, o Norman, e no que ela indica. Ele não está sozinho, como ficou claro por ter vários ao seu lado, mas quem são seus aliados? Como ele conseguiu recursos se iria ser “abatido”? E por que eles mataram os demônios tão fácil?

A verdade é que ele não foi abatido e não posso dizer nem se iria, pois não sei até que ponto irão as diferenças com o mangá, mas tem uma coisa que é fato, ele não reaparece na trama nesse estágio e só não sei se reaparece dessa forma (salvando os amigos disfarçado) porque ainda não li tudo. Sendo assim, a interferência do Norman como e quando se deu é (ao que tudo indica) material original do anime.

Aliás, o quarto episódio foi mais próximo do mangá, mas esse quinto já foi bem diferente, levando a trama por um outro caminho, um no qual a participação da Mama e do Norman indicam maior objetividade para resolver os objetivos definidos pela Emma e compactuados pelos outros. O Norman ter aliados, informação e outros recursos com certeza deve ajudar a salvar o Phil e os outros pequenos, assim como escapar dali.

O X da questão é, a Mama está com ele? Se não, quando ela vai agir? Se sim, isso significa que o Norman e ela estão mentindo para os demônios e que usarão a descoberta do paradeiro dos rebeldes a fim de dar forma ao plano deles? Ou o Norman também mudou nesse meio tempo e tem objetivos diferentes dos da Emma? Não acho que ele traiu seus irmãos nem que fará isso, mas isso não significa que tudo será um mar de rosas.

Diria até que a ausência de divergência do lado dos mocinhos pode indicar o atito entre pontos de vista mais a frente, principalmente no que se refere a magnitude dos planos, se será apenas uma tentativa de salvar os humanos nas mãos demônios ou será uma tentativa de exterminá-los como o Eren queria fazer com os Titãs em Attack on Titan. Como há pouco tempo isso talvez nem role, mas podem aproveitar o que está sendo contextualizado, né.

De outra forma, talvez nem faça sentido a Emma ir se dando conta dessa “humanidade” do outro lado, a qual, repito, não a fará mudar de ideia sobre a própria vida e a de seus irmãos, mas provavelmente a impedirá de tomar as dos demônios, ou ao menos a levará a querer evitar isso. Enquanto, por um lado temos a Mama e o Norman que caíram nas mãos dos demônios e devem nutrir sentimentos mais negativos por eles.

Tudo bem, talvez esteja adiando demais cenários que podem nem se concretizar por N motivos, talvez a trama transcorra de forma mais simples a partir de agora, mas se a direção realmente se mantiver tão boa quanto foi até aqui sinto que o cenário exposto terá mais ou menos essas peças sendo usadas, as quais, se forem realmente bem usadas, podem dar a Neverland um bom final, ótimo já acho mais difícil, mas vamos ver.

Por fim, foram dois belos episódios com momentos leves e divertidos tipo o da primeira caçada aos peixes terrestres (algo legal antes da tensão que se seguiu), mas mais momentos tensos e propositivos no sentido de pedir ao telespectador um mínimo de reflexão sobre o quadro geral da coisa, envolvendo demônios que são mais humanos do que a Emma pensava e humanos com mistérios e circunstâncias das mais variadas.

Até a próxima!

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