Depois que as almas gêmeas Reiko e Koguma se encontraram, o mundo das duas mudou e aquelas que antes eram motoqueiras solitárias, tentando se encontrar e traçar objetivos, agora são verdadeiras companheiras para toda uma vida, partilhando esse amor em comum e singular pelas Cubs – ou como elas mesmas dizem, companheiras de Cub.

JG: Acho que esses dois episódios trazem algo muito legal na forma como desenvolvem a relação das duas protagonistas, que agora sim podemos dizer que são amigas reais e não meras colegas. Aqui temos dois momentos distintos em que cada uma tem seu foco – separadas e juntas -, mas é interessante como uma já se amarra a outra de várias formas.

 

 

Flávio: Os dois episódios são complementares. Definiria eles com duas palavras: aventura e liberdade.

JG: A primeira coisa que me chamou a atenção é como cada uma gastou suas férias. Enquanto a Koguma aproveitou de uma forma mais tranquila, trabalhando, mostrando como ela estava crescendo e se abrindo ao mundo gradualmente – impulsionada pela amiga e pela Cub -, a Reiko também trabalhava, mas se auto desafiando de uma forma bem mais pesada, o que reforça bastante o contraste entre as duas.

Flávio: Há uma mensagem implícita de que a Super Cub é um modelo versátil, portanto, se adequa a qualquer perfil de pessoa.

 

 

JG: Se adequa a qualquer perfil e a qualquer desafio, o que a gente percebe mais facilmente no momento em que a Reiko tenta subir o Fuji, falha no meio do caminho e aí começa a lembrar das pessoas que faziam uma penca de coisas com uma Cub, assim como o que ela mesma disse a amiga, sobre as Cubs poderem ir a qualquer parte – que são as coisas que mantém ela insistindo na sua tentativa.

Flávio: A Reiko tem um espírito aventureiro, enquanto a Koguma é mais calma, embora que essa característica não a impeça de ter suas próprias aventuras.

JG: Na verdade se você olhar com uma certa atenção, as duas são muito parecidas nesse instinto aventureiro, a diferença que vejo é que por terem personalidades e circunstâncias de vida distintas, elas desabrocharam de formas diferentes. A Reiko se sentia presa e correu atrás da mudança mais rápido, a Koguma por ser mais “passiva” – e aparentemente “trágica” – demorou pra entender que precisava sair daquele mundo cinzento em que passou a maior parte de sua vida.

 

 

Flávio: A Reiko teve uma mudança mais rápida e mais intensa. Já a Koguma vai mudando gradativamente.

JG: Cada uma tem o seu tempo e aprendizado, e o episódio 4 marca bem isso, pelo modo com o qual o patrão da Reiko lida com a situação dela. Pelo olhar era notório que ele estava entendendo toda a “marmota” que a moça estava fazendo, mas preferiu que ela se manifestasse e que percebesse o seu erro, acredito que numa demonstração de respeito a determinação dela.

Julgando pelo pouco que vimos do homem, eu diria até que ele ficou surpreso com o objetivo dela, dando um incentivo com aquela tarefa de subir na moto, justamente ao ver sua obstinação e foco. Vale também lembrar que o mesmo já teve o sonho de se aventurar no Everest e conseguiu, então ele compreende e deve se identificar.

 

 

Flávio: A primeira queda da Reiko foi bem dirigida e impactante. As outras quedas serviram para mostrar a determinação da personagem. Gostei também do encaixe da trilha sonora nas cenas em que a garota tentava subir o Monte Fuji.

JG: Olha, eu não sei você, mas eu estava agoniado a cada queda. Como você disse, a cena toda era linda e bem trabalhada, me fazendo admirar cada vez mais o esforço da menina. Só que lá no fundo, porém, eu estava ali pensando: meu Deus, quantas fraturas ela já tem? Cadê os hematomas? Porque não eram pancadas leves, ela saía voando, se “esborrachando” no chão pedregoso e queda de moto não é um negócio legal.

Desde já deixo aqui a minha solidariedade a pobre Cub que agora vai ser trocada, depois de ser seriamente danificada com tantas quedas violentas.

 

 

Flávio: Só na primeira queda haveria algumas fraturas, que a impossibilitaria de pilotar a Cub por algumas semanas (ou até meses).

Sobre a troca da moto há uma coisa interessante que é o apego. Tal apego não se limita a moto somente, mas ao modelo também. Se depender da Reiko, a Super Cub será o único modelo de moto que ela terá na vida. A Koguma também compartilha da mesma opinião. O anime me convenceu que a Cub não é só um veículo, mas pode ser um estilo de vida.

JG: Verdade, eu partilho desse mesmo sentimento em relação as ideias do anime sobre a moto ser mais do que é. E falando da Koguma, ela ainda é mais apegada que a Reiko, porque você vê que o elo criado com sua motinha é tão único que sequer existe o pensamento de trocá-la, inclusive ela dá a entender que vai evitar fazer o mesmo que a amiga já pensando nisso.

Flávio: No máximo ela trocaria as peças.

 

 

JG: Se por um lado com a Cub ela é controlada, acho que no resto tá se soltando cada vez mais rápido. Não sei se é impressão, mas depois que começou a se aventurar, vejo que a protagonista pede por mais e faz. É como se desse um passo para frente e visse que na próxima oportunidade ao invés de dar mais um, ela pode dar dois, daí na sequência ao invés de dois, podem ser três e assim vai seguindo. Nesse sexto episódio eu acho que fica gritante essa maior “ousadia” dela, deve ser o sangue de motoqueira falando mais alto.

Flávio: Como diz a Reiko: você pode ir a qualquer lugar com a sua Cub, até mesmo se estiver parado.

JG: Ela viajou para a excursão sozinha, desobedeceu a orientação da escola, encarou uma nova rodovia, mas penso que a parte mais simbólica é o passeio dela com a amiga na garupa. Como ambas são reservadas e tranquilas, achei que o anime se apoiaria na ideia de manter a parceria, mas cada uma no seu “quadrado”, e então temos esse momento “capacete com capacete”, que para mim só solidifica ainda mais essa união e o desenvolvimento das duas.

 

 

Flávio: Propagandas de motos usam a liberdade, a aventura e a praticidade como atrativos para que o consumidor em vez de usar o transporte público ou o carro, compre uma moto.

Independentemente de estarem nos seus respectivos veículos ou estarem juntas na mesma Cub, a sensação de ter alguém para compartilhar os mesmos gostos e até as mesmas aventuras é a mesma. Mesmo sem saber dirigir moto, eu compreendo o sentimento dos grupos de motoqueiros em relação ao companheirismo. Não importa se cada um está em sua moto, todos estão conectados como se pertencessem a uma tribo ou até mesmo uma nação. Por falar em nação, as personagens poderiam criar a “Nação Cub”.

 

 

JG: Isso sobre os motoqueiros serem como uma tribo é bem real, já ouvi essa mesma descrição por parte de alguns deles. Na minha cidade inclusive, vários se reúnem nas praças maiores em dias específicos, como se fossem datas exclusivas daquele grupo. E voltando as protagonistas, sim, elas poderiam formar essa nação, até porque paixão e o número para começar esse grupão elas têm, e ainda virão reforços como já sabemos.

Flávio: Além da sensação de liberdade e aventura, houve uma dose de rebeldia por parte da Koguma, e também por parte da companheira de Cub que foi sua cúmplice.

 

 

JG: Rebeldia e cumplicidade que deve aumentar e ficar ainda mais gostosa de assistir, especialmente com a chegada da nova personagem que provavelmente já aparecerá no episódio seguinte – dado o título -, então nos resta apenas esperar pelo que vem aí e controlar as expectativas que estão lá no alto.

 

Curiosidade:

Para quem se atentou a um detalhe nos episódios, teve a cena em que a Koguma estava fazendo uma troca de placa, por conta das alterações que tinha feito na sua Super Cub. Investigando um pouquinho mais sobre essa questão do emplacamento, descobrimos que no Japão a legislação prevê cores diferentes para cada tipo de moto, se baseando no manuseio (função) e nas cilindradas estipuladas.

 

 

No caso a menina tinha a licença na cor branca, que é para o limite de “-50 cc” e com as modificações ela passou para a cor amarela cujo limite é “50-90 cc”. A Reiko tinha uma cor meio rosa pêssego e essas são para a classificação acima. Algo curioso é que as cores também podem variar conforme os municípios, mas ainda mantendo a organização e o que já está definido em lei. Para quem tiver mais curiosidade sobre licenciamento e as leis de trânsito japonesas, fica o link que nos ajudou em nossa busca.

Agradecemos a quem leu e até os próximos episódios!

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