Jurava que esse episódio seria mais ameno, mas estava redondamente enganado, ainda assim, é inegável que o momento de descontração inicial foi bem bacana por N motivos, assim como as consequências das novas mortes que aconteceram. Aliás, não se apegue a ninguém em 86, acho que não preciso explicar o porquê. Sem mais delongas, é hora de mexer com corações em vários sentidos aqui no Anime21!

Usar de um clima nostálgico para passar a ideia de profundidade na relação das personagens é uma boa sacada quando você não tem muito tempo para investir no dia a dia deles, o que ocorre com os Eighty-Six. No início acompanhamos um momento importante da formação do esquadrão que você pode até estranhar um pouco, mas de certa forma foi até uma compensação, e criou uma base, para o que veio a seguir.

Mas antes de falarmos de amor impedido pela guerra, a zoação com a porca branca militar, a Lena, pode ter parecido meio forçada, mas se nós pensarmos que no meio militar em que ela se inseriu não é comum ver Operadoras mulheres, dá para entender que ela tenha virado motivo de chacota dos Eighty-Six. Mal sabiam eles que ela se tornaria a Operadora deles e quebraria vários de seus preconceitos da época.

Uma pessoa que não mudou de opinião, e nem teve tempo para isso, foi a Kaie, que foi muito bem aproveitada nesse episódio ao interagir com o Shin e com a ajuda de outra garotas até roubar um sorrisinho meio desconcertado dele. A cena dele criança encontrando o veículo do irmão e esse momento dele no flashback passaram a ideia do quão novo ele começou a lutar e como ter sobrevivido até ali o torna alguém tão confiável.

Quem sobreviveu tanto como ele e tem tantos rumores “bons” rondando sua figura pode assumir esse posto de líder confiável com o qual esses jovens, remanejados de outros esquadrões, podem contar. Aliás, é justamente pensando nisso, nesses jovens que tiveram uma juventude normal roubada, que cenas como a celebração assistindo ao desabrochar das cerejeiras fazem todo sentido e agregam até ao nosso gosto por eles.

Ademais, sobre esse primeira parte, a cena do Shin encontrando o veículo do irmão e nenhum corpo também foi usada para justificar a falta de simbolismo em sua marca registrada. Na verdade, até deve haver um motivo, mas era o do irmão dele, pois o motivo do Shin é perseguir esse passado mal resolvido com o irmão enquanto corre contra o tempo e contra a morte, então o símbolo é mais imposto por ele que dele mesmo.

Enfim, a batalha veio e se foi rapidamente e, apesar de não gostar tanto disso, entendo que ela é menos importante que o contexto dramático que a cerca. Isso não me tira a impressão de que as mortes ocorreram de maneira um tanto abrupta, mas, por outro lado, como bem pontuei no início deste artigo, elas tendem a ser mais frequentes no anime, coisa que vemos até pela normalidade com a qual são tratadas pelo esquadrão.

Pode ser um pouco aterradora a maneira como o Shin lida com isso, mas, na boa, ele é honesto com o grupo, então imagino que todos saibam do enganoso fim da guerra e de que o destino certo para eles é a morte, não à toa um casal tão perfeito para acontecer como o Daiya e a Anju não engrenou. Se é doloroso ver um companheiro de esquadrão, um amigo, partir, imagina se este fosse um namorado ou namorada?

Em tempos de guerra é triste, mas compreensível, que eles até brinquem com a questão e externem seus sentimentos entre os mais próximos, mas se privem de viver romances por saberem o quanto isso pode piorar a dor da perda. As baixas da vez foram o Daiya e a Lecca e enquanto ela só teve um pequeno destaque nesse episódio, o Daiya era um dos que mais aparecia desde o princípio, e era clara sua paixão pela Anju.

Ao se despedir ele fala o nome dela e ela responde sem áudio em uma cena que pode não ser revelada até o final do anime, se for, mas com certeza dá a entender que ela poderia até não admitir para si que tinha interesse nele, mas não estava “imune” ao garoto. É de cortar o coração o que aconteceu com os dois e gostaria de ter visto mais do luto da Anju que uma cena curta, mas entendo não darem tanto tempo a isso agora.

Talvez no próximo episódio ou em outro momento isso ocorra, mas dessa vez questões mais urgentes envolvendo o Shin e a Lena precisavam de tempo de tela e pelo menos quanto ao herói, posso dizer que gosto muito de como em cenas rápidas sempre dá para sacar ou especular muitas coisas sobre ele, nesse caso mais especificamente sobre sua relação com o Rei, afinal, ele parece culpá-lo por algo muito grave que aconteceu.

Além disso, pensa comigo, só uma EQM e traumas psicológicos não parecem o suficiente para que alguém ouça vozes de cérebros humanos postas em máquinas. Não será absurdo, pelo contrário, se o Shin tiver uma questão maior que justifique a tentativa de assassinato do irmão e sua aparente bipolaridade. Diria até que devemos esperar isso porque essa história dos dois só fica mais estranha a cada episódio que passa.

Sobre a Lena, ela tentou arrumar os morteiros para ajudar seus subordinados, mas a coisa não deu muito certo e não foi exatamente por uma falta de noção dela e sim por as coisas no exército funcionarem de uma forma diferente. Os recursos não são disponibilizados para salvar as vidas dos Eighty-Six, mas resguardar as dos Albas, ainda que para a sobrevivência dos porcos brancos eles precisem de seus escudos de carne.

Portanto, tudo que o “tio” dela fala é para se adequar a essa demanda e isso vai além do que ele pode fazer, e se não isso, vai além do que ele deve, pois o problema cairia no colo dele se algum Alba morresse e imagino que esse personagem tenha família ou algo assim. Enfim, entendo ele não dar vazão aos apelos da Lena, não que isso mude o fato de que estar no exército e agir assim é compactuar com todas essas atrocidades.

O problema é que mesmo o que a Lena tenta fazer também é compactuar porque no fim das contas ela não fica a parte do atoleiro nojento no qual o país dela se enfiou. Os Albas veem os Eighty-Six como simples acessórios e se a Lena até agora não sofreu maiores represálias por suas opiniões contrárias a essa determinação, muito deve ser pela proteção que recebe desse superior ligado ao seu pai.

A questão é soterrada pela nova missão a qual o esquadrão é designado e que denuncia todo o apreço que os superiores têm pelo Spearhead, pois mesmo que a razão da missão seja boa, é inegável que mandar o esquadrão para o campo de batalha enfraquecido não é muito inteligente e se acontece, denuncia que a intenção não é necessariamente manter ninguém vivo dali, mesmo que a falta de pessoal possa ser um motivo.

Esse é o preço que a guerra cobra, o de vidas humanas que não são tratadas como tal, mas conseguem ser atenciosas e gentis como o Shin foi espontaneamente com a Lena, dando vazão as fantasias românticas da heroína, que tem sim alguns bons motivos para se sentir atraída pelo Shin e, convenhamos, quem vê uma morte de frente (como ela viu o Shin botando o Daiya para “descansar”) pode encarar esses tipo de sentimento.

A questão é, esse sentimento até pode ter como crescer, mas não tem como vingar, ao menos não no cenário em que ambos os personagens se encontram. De forma diferente, mas parecida, isso rolou com o Daiya e a Anju, e tornou a partida dele ainda mais pesada. Ele foi morto por seu comandante, a Lecca se matou. Além de saberem que a morte virá muito em breve, ter que partir assim é só mais uma violência dentre tantas.

86 é cheio delas, um pouco como é a vida, mas nesse caso a coisa é bem pior porque não tem nem como entender em um nível minimamente razoável. No fim, os Albas não merecem nem a paz ilusória que têm, sei que nem todos são iguais, mas a Lena está aí para ser a exceção que comprova a regra. Foi todo um país que provocou essa situação, é todo um país que deve lidar com as consequências de suas escolhas.

Acabei falando mais da República que dos possíveis casais de 86, mas a verdade é que ainda não tem o que falar sobre eles além do comentado. No máximo eu posso dizer que achei super fofo o rostinho corado da Lena (que “presente” de aniversário inusitado foi esse que o Shin deu para ela, né?), mas sério, a promessa é de mais mortes a vista, qualquer insinuação de romance deve ficar só nisso mesmo e nem vou achar ruim não.

Até a próxima!

P.S.: Mais uma música da minha banda favorita, dessa vez uma romântica e triste que combina muito bem em alguns trechos com o conteúdo do episódio. Ouça aqui, ela é linda, duvido você não gostar.

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