Fushi manteve o passo seguindo os instintos de sua forma de lobo, e se havia encontrado uma mãe na figura da March, ao cruzar caminho com Pioran ganhou tanto uma avó, quanto uma professora. Encarregado de fazer a transição entre arcos esse episódio foi um pouco mais tranquilo que a média, mas, ainda assim, novas e interessantes informações foram adicionadas a jornada do monstro em busca de sua humanidade.

Em vários detalhes a gente já consegue ver importantes progressos do Fushi que não necessariamente tem a ver com algo que alguém o indica, é mais instinto. Por exemplo, a troca entre formas a depender da utilidade de cada uma ou a tentativa de escrever. Um sintoma de personalidade é justamente isso, demonstrar autonomia em pequenas coisas que vão construindo padrões de ações individuais e marcantes.

Ao ver Pioran e ser seguido por ela outro estímulo bem interessante acabou chegando a ele, o da raiva, do desconforto, afinal, ficou claro pela expressão que ele teve na forma da March que não gostou nada de ser mordido pela velha. Isso é algo mais sensível e específico que a dor, afinal, como bem deu para observar, ele já não diz mais “dor” repetidas vezes mesmo com a flecha que feriu a March cravada no molde dela.

É nessas pequenas coisas que o Fushi começa a construir uma personalidade, mas é claro que faltava mais, e se a March e a Parona não sabiam ler e escrever e nem tiveram tempo e ocasião para ensiná-lo, coube a velha Pioran repassar esse conhecimento e contar com um aluno dedicado para tanto. Diria até que o Fushi sai na frente em comparação as crianças pequenas pelas experiências que viveu e o tempo que tem em mãos.

Aprender a se comunicar, organizando pensamentos e transmitindo-os de maneira coesa, era do que o Fushi precisava até para definir melhor os sentimentos e sensações com os quais vem topando pelo caminho. Nesse novo arco ele novamente vai interagir com uma criança, mas dessa vez uma com uma personalidade diferente da de March, então essas novas capacidades do Fushi devem facilitar a comunicação com essa figura.

 

 

Mas é claro que esse aprendizado dele serve a um propósito maior dentro da trama, ao qual suas experiências agregarão bastante a cada arco de três a cinco episódios, que e como o anime dá a entender que se apresentará. To Your Eternity tem vinte episódios programados e se você ver a abertura com atenção vai identificar quase com exatidão o número de personagens e situações que serão ligados ao protagonista.

Deixando isso de lado, a chegada do criador de Fushi e narrador do anime a trama principal pode ter parecido um tanto abrupta, mas penso que dadas as novas conquistas dele em seu processo de desenvolvimento, fazia sentido que fosse testado de alguma forma, e em algum momento, com a discrição que essa existência parece querer preservar, afinal, ninguém sabe de onde o Fushi veio e nem ele deve saber explicar.

Essa ideia do antagonista ser na verdade apenas uma forma de estímulo extra ao protagonista, e também um fiscalizador de seu desenvolvimento, não me agrada tanto, mas ao mesmo tempo penso que faça mais sentido que um inimigo propriamente dito, fosse esta figura caricata ou não. Por quê? Porque, se pensarmos que o Fushi é um experimento, faz sentido que alguém como o seu criador exista e até interfira.

E se formos observar a natureza de sua interferência, ele não agiu de forma a ajudar ou prejudicar o Fushi, apenas tentou medir o quanto ele é capaz de entender a situação de risco em que se encontrava e como reagiria a ela. Quando estava encurralado, após ter perdido suas formas mais preparadas para o combate, foi justamente ali que a forma da March brilhou e ele conseguiu, de forma muito geniosa, recuperar aquilo que era seu.

Essa sensação de perder, de ter algo roubado de si, foi uma violência a qual ele ainda não havia sido exposto, ao menos não tão intimamente, então a experiência com seu “pai” certamente foi válida para verificar o efeito dos estímulos de sobrevivência no nosso protagonista, ao mesmo tempo que foi bom para alertar ao público de que ele não foi jogado a deriva no mundo, e que seu cuidador é uma existência assombrosa.

 

 

Ele foi capaz de parar o tempo quando lhe convinha e acessar outra dimensão, além de conseguir roubar as formas do Fushi deliberadamente e quase tê-lo matado em um momento que demonstrou bem a natureza de seu teste. Faz mais sentido que a força que vai “testar” o herói seja justamente a força que o colocou no mundo pelo simples motivo de não fazer a trama se perder em uma direção que não é a desejada.

To Your Eternity não é uma história com um desenvolvimento padrão pelo simples fato de não serem necessárias ideias pré-estabelecidas de antipatia ao herói. Ele apenas existe e gradativamente vai ganhando sua casca, sua personalidade, definindo sua própria humanidade, e para isso já existe antagonismo demais no simples ato de estar vivo, não são necessárias figuras além para se pôr em seu caminho.

Por fim, foi outro bom episódio, mas dessa vez em ordem mais comedida. O Fushi evoluiu muito em aspectos importantes para suas próximas aventuras e mal posso esperar para ver no que o novo personagem com máscara de lagarto vai agregar a trama. Prepare-se para mais drama, menos mal se o garotinho morrer (não que eu queira isso, nem conheço o personagem) e sua forma for tão útil quanto a da March se mostrou.

Até a próxima!

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