Tudo gira em torno do dragão, aliás, de cinco dragões que podem ser revividos e invadir o mundo humano devido a uma abertura que liga os dois, explicação bem razoável para o que acontece com os heróis se pensarmos que um dos mundos envolvidos possui magia e as condições da viagem entre mundos (com tudo aquilo que ela envolve) faz com que os povos precisem se ajudar ou de outra forma todos perecerão.

No fim, Million Lives teve um final bem digno apesar de alguns vacilos da produção. Foi legal ver o desenrolar da questão da Jezby, assim como o final dos moradores do vilarejo e um sinal interessante de amadurecimento do protagonista. Nada de impressionante, mas o suficiente para encerrar tematicamente bem o anime. Vai deixar saudades? A mim um pouco. Não sei você. Sem mais delongas, vamos ao fim!

O desmascaramento da Jezby usou do velho clichê de descrever todos os acontecimentos que indicavam as ações da vilã, o tipo de coisa que não teria como acontecer na realidade, mas a gente atura (eu até gosto) na ficção porque é legal saber onde a gente (quem não criou a teoria certa) errou. Nos detalhes o roteiro me enganou direitinho, e em conluio com a direção, que não entregou a Jezby em momento algum.

Claro, tudo veio à tona quando a Glen a desmascarou, mas antes nada foi jogado na cara, como acontece em alguns animes que em uma cena adiantam um plot twist que teria muito mais sabor se ganhasse corpo no momento certo, que é na hora da revelação. Com quase tudo que cerca a Jezby o anime foi muito bem, principalmente no que se refere a construção do estereótipo de coitadinha e sua quebra.

É claro que alguém mais atento deve ter teorizado antes, mas, convenhamos, não é vergonha alguma se deixar surpreender quando o roteiro e a direção fazem o serviço direito, até porque nem foi uma questão de repetição de estrutura narrativa se pensarmos que o vilão do arco anterior também era alguém de dentro, mas que, diferente da Jezby, não interagia com os heróis ou tinha relevância.

Quanto aos falhas relacionadas a Jezby e a esse desfecho em si, acho que a animação realmente doeu os olhos em alguns momentos, mas pior que elas foi a ideia de jerico da direção em brotar com golens que não haviam aparecido em nenhum momento. Até curti o conceito de mobilidade agregado aos círculos mágicos (fazia sentido com a indeterminação de onde rolaria o ritual), mas foi bem estranho.

Quando existir um elemento chave para resolver um problema, não o introduza tão convenientemente, como, aliás, não foi feito no arco anterior, em que essa questão dos círculos foi bem melhor trabalhada. Não que precisassem perder muto tempo com isso, era só não fazer apenas o checkpoint dessa condição (que era desativar os círculos mágicos) para a vitória, a qual também não achei que teve o impacto devido.

A animação foi um “pouco” desengonçada, mas acho que a culpa recaí mais sobre a direção que deveria ter feito uns cortes melhores, além da ideia de colocar o Yotsuya para “lutar” com a garota não ter empolgado nada em tela. Mas, honestamente, era óbvio que ela perderia e que não haveria um grande turning point na história, afinal, Million Lives já teve seus dois cours e terminou com uma ideia de “conclusão” bem clara.

Então sim, a tendência é não ter mais anime. Menos mal que esse arco terminou tratando bem do conceito por trás do anime (de estar em pé em cima de milhões de vida), uma pena que tudo que cerca isso tenha parecido um pouco apressado, tenha sido trazido à tona apenas nesse episódio. O que eu sei, também não é um grande problema, ainda mais porque se era para acabar que fosse no “auge”, ou não na “lama”.

Tocando o bonde, fiquei feliz pelo garotinho que se apaixonou pela Jezby ter ficado satisfeito com a resposta dela sobre seus sentimentos, pois eu sei que é ruim se apaixonar por alguém que você não conhece de verdade, mas pior ainda é esse sentimento nem existir. Sabendo que existiu, mas que inevitavelmente terá que ficar para trás, acho que a questão se encerra de maneira menos agridoce. Até feliz, né.

Porque a menina era chave de cadeia, mas não foi ao ponto de fazer o Yotsuya sujar suas mãos de sangue de novo. Aliás, a gente vê como a diferença de personalidade, ou até de visão, faz diferença nesse tipo de questão tão delicada, pois se pensarmos bem o Tori também matou, a Iris, mas como ela não tinha mais salvação o garoto não ficou se remoendo tanto quanto o Yotsuya. Ou foi mais pela personalidade dele?

Claro, sei que foi também pelo fato do protagonista ser o Yotsuya e dá profundidade da trama estar ligada intimamente ao desenvolvimento dele, mas não queria deixar essa questão passar batida, afinal, é nesses detalhes que a gente entende melhor os personagens e as construções narrativas que os cercam, espremendo o que eles têm de interessante a oferecer ao público, ainda que isso muitas vezes não seja definitivo.

Mas se pensarmos bem, não teria como ser de outra forma porque, por mais que seja um final, não é o final da história. O máximo que dava para fazer é um contraponto com o final da primeira temporada, que foi um turning point para o protagonista. Dessa vez acho que até dá para dizer que ele passou por algo assim, mas de maneira mais introspectiva, com ele se centrando naquilo que é palpável, que está mais ao seu alcance.

E tudo isso depois da intervenção da Kusue em um belo reaproveitamento da cena dos dois de alguns episódios atrás, e não só disso, da ideia que distanciava os personagens. Ele resignado em assumir os crimes pelo grupo, ela intimidada pela ideia de sujar as mãos de sangue. Agora os dois conseguiram chegar a termos melhores, tendo a Glen como alguém a trazer uma palavra inteligente e sensata, ainda que inútil, né.

Porque no fim a Bispo Dragão se queimou, um suicídio que reforça a convicção da seita, mas não é de nenhuma forma surpreendente, só que é aquilo, né, se a ideia era ausentar o herói da culpa, então era isso ou sujar as mãos dos habitantes daquele mundo, mas como se tratava de uma radical o desfecho não foi nada inapropriado. Eu só queria entender porque uma garotinha era um Bispo Dragão, mas devo ter que ler o mangá.

Por fim, foi um encerramento decente para um anime decente com animação decadente e direção às vezes inconsistente. O que fica de Million Lives é seu conceito de isekai interessante, seu protagonista cheio de conflitos morais interessantes e uma dinâmica de jogo perfeita para deixar a trama ir se desnudando aos poucos, tornando o anime sempre instigante. E aquele braço largado no mar? Vamos ficar teorizando?

Até a próxima!

P.S.: Teve o lance do nome da vila também, mas não vou me alongar nisso. Eles precisavam salvar uma vila chamada Zagroth, né? Era ruim do Yotsuya deixar a oportunidade passar. E foi até bacana pela ideia de reconstrução, misturada a uma reconexão com pessoas que representavam a antiga vila Zagroth em outros momentos de sua história. Um final coerente e poético para um anime que eu indico sem medo de ser feliz.

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