Algumas vezes certas produções são tão exageradas e bregas que tornam uma coisa potencialmente trágica em algo ironicamente funcional, claro, desde que esses excessos estejam compreendidos nos conceitos que a sua história estabelece – e que você também aceite isso. Bom, em Muteking the Dancing Hero eu posso dizer que encontrei o “tão bizarro que é bom” da temporada.

Eu confesso que enquanto assisti, senti alguma dificuldade de acompanhar a lógica do anime, porém não porque o conteúdo tem muito simbolismo ou subjetividade – estou olhando para você Sonny Boy -, e sim porque mesmo usando o básico, tudo é tão aleatório, rápido e sem noção, que é difícil enxergar um eixo ou seguir do jeito “normal”.

Antes de mais nada, investigando um pouco sobre o que é essa adaptação, descobri que nada mais é que um reboot de uma série dos anos oitenta chamada Tondemo Senshi Muteking – produzido pela Tatsunoko Productions -, e que carrega no geral apenas algumas semelhanças com a premissa original.

É interessante esse anime surgir agora porque ele é mais um que entra no rol de “remakes” da Tatsunoko, que já produziu novas versões para vários de seus animes antigos como Gatchaman, Speed Racer, ou mesmo o spin off que reuniu vários heróis oitentistas do estúdio, Infini-T Force – que também assisti quando saiu.

Entrando no mérito do episódio em si, o enredo nos apresenta ao jovem Muteki, que de certa acaba tão aleatório quanto o cenário fictício de Neo San Francisco que lhe cerca. Curiosamente esse é um ponto que me chama atenção, já que nas várias referências e elementos que dispõe, o anime soa bem “americanizado” – ao menos até chegar na parte que interessa.

Muteki acaba me representando porque ao longo do tempo que passa ao chegar na cidade, ele fica perdido a cada minuto, nada dá muito certo e os encontros que ele tem nem se comenta. O mais engraçado é que até entendo a confusão dele, porque é um entra e sai de gente doida que eu não dei conta de entender porque eles estavam aparecendo sem qualquer razão aparente – e acho que nem valia a pena.

Mas no meio desse cenário tecnológico, nonsense e ao mesmo tempo nostálgico – já que muita coisa carrega um design antigo -, o que parece brotar é a conhecida luta entre o novo e o velho.

Esse antagonismo aparece melhor representado na figura da empresa OctinQ – que parece uma paródia safada da Apple – e seu CEO, Theo Eight um Steve Jobs paraguaio e japonês. Conforme cria novidades e desenvolve sua tecnologia para os demais, o personagem vai ganhando mais controle do mundo e como todo bom vilão, ele quer manter esse poder da forma mais caricata possível.

Do outro lado o protagonista conhece o insistente DJ, que já joga na vertente do passado e preza pelas coisas mais “naturais”. Por alguma razão o músico vê algo a mais no Muteki – óbvio, ele é o herói – e o persegue até que o coitado desista de fugir e vá na onda dele e de sua avó.

Nesse meio tempo um monstro é introduzido, aparentemente por conta das tecnologias do Theo – e talvez com uma mãozinha da tal cantora misteriosa Aurora – e é aqui que vem o ápice com o surgimento do grande Muteking.

Admito que nessa parte eu dei uma empolgada real por conta da breguice instaurada nas cenas, nos mínimos detalhes. Curiosamente até o tom ocidental é deixado para trás, já que o personagem tem uma vibe meio de herói tokusatsu, “mahou shounen”, então isso é usado a exaustão na trilha sonora, na transformação e por aí vai – uma pena que foi bem rápido e não pudemos desfrutar de todo o potencial artístico dele.

A animação é ok e no geral não teve nada que me desagradou, incluindo o CG usado. Todo o colorido psicodélico usado aqui faz sentido e orna bem com a ideia, por sinal, a abertura e encerramento são bem legais, capturando a essência doida e aleatória da obra.

É um anime que vai agradar geral? Tenho certeza que não, mas é o tipo de coisa que você aproveita se gostar das referências, se for com a expectativa certa e com o coração aberto para viajar no absurdo e exagero que estão te oferecendo ali – afinal em essência ele é uma comédia.

Acredito que mesmo sendo bobo, um tanto infantil e over demais, Muteking merece ao menos o benefício da dúvida, caso você esteja procurando um guilty pleasure na temporada que entenda a sua própria cafonice, e não tenha medo de mostrar isso.

Agradeço a quem leu e até a próxima!

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