Ousama Ranking (Ranking of Kings) é um anime do Wit Studio programado para 23 episódios que adapta o mangá de Sousuka Tooka. Segue a sinopse extraída da Funimation (streaming oficial do anime).

 

“Incapaz de ouvir ou falar, o Príncipe Bojji parte numa aventura para provar que é um herdeiro digno com a ajuda de uma sombra chamada Kage.”

 

A ideia de Ousama Ranking é muito inteligente pelo quão simples ela pode desenvolver a personagem principal. Nesse mundo os reis são ranqueados, sendo assim, eles têm que provar seu valor ou rodam. Mas o quão cruel isso pode ser com um deficiente físico?

E este é o Bojji, uma criança pequena e simpática que é o príncipe do reino em que mora e também é surdo e mudo. Por ser o filho mais velho do rei ele acaba sendo ainda mais visado e alvo de chacotas, o que ocorreria com ou sem essa ideia de ranqueamento, convenhamos.

A questão é que o rei está doente, pode morrer em breve, então aí que o problema começa. Mas problema para quem, para o reino ou para o príncipe? Nessa estreia se vê claramente que é mais o segundo caso.

Não que não falar e ouvir não traga limitações a personagem, é claro que traz, mas isso por si só realmente torna inviável alçar o garoto ao posto de rei? Sua leitura de lábios, visão aguçada, destreza para se movimentar e coragem não contam?

Essas são algumas das qualidades dele, que são distribuídas ao longo do episódio a fim de mostrar como o pequeno lida com as diferentes situações que se apresentam a sua frente.

A primeira foi o encontro com a sombra negra, o Kage (significado: “sombra”, em japonês), que para nós pode ter parecido apenas um vigarista pela forma como tenta se aproveitar do príncipe em um primeiro momento, mas se tornará mais que isso ao longo da narrativa.

Afinal, o que seriam umas roupas para um príncipe herdeiro, né? Se fosse o preço a pagar por um novo amigo, por que não? Isso significa que o príncipe é ingênuo? Não necessariamente. Eu acho que ele só se afeiçoou a sombra mesmo.

O segundo encontro do príncipe foi com o preconceito, que na verdade nem foi exatamente o segundo, mas um que o persegue a vida toda, pois é óbvio que ele teria seu valor questionado por suas deficiências físicas.

É bem pesado que ele vire chacota da plebe enquanto anda na rua, mas se trata de uma criança de roupa de baixo. Zombarem dele não é estranho, assim como é de se entender o bullying que sofre nas mãos de sua madrasta, não que eu concorde, claro.

Gente preconceituosa, que define os outros por suas limitações e não por suas ações, está por aí aos montes na vida, ainda mais em um cenário de disputa de poder.

Mais tarde a gente conhece o segundo príncipe, filho dela, a segunda esposa do rei, e fica claro o porque da intimidação da rainha. Bojji é um impasse para o reino, mas será que ele é mesmo todo esse problema ou pode sim se tornar um rei digno da coroa?

É disso que a trama deve tentar convencer a gente, e sim, acho meio sacana fazer isso com alguém que já começa com menos 20 pontos de vida na disputa. Não por suas deficiências em si, mas por como isso afeta a forma como ele é visto, desacreditado.

Felizmente, existe gente gentil nesse reino, capaz de se não esperar nada demais do príncipe, pelo menos não tratá-lo como uma pária. Para isso temos a figura do tradutor/professor de esgrima, que fala com o Bojji na língua de sinais japonesa? Não sei.

Só o que eu sei é que mesmo sem conseguir falar ou ouvir o príncipe consegue se comunicar com quem se dispõe minimamente a entendê-lo. E aí voltamos a sombra, que também trata o garoto mal, mas vai mudando enquanto o segue.

É difícil ficar indiferente a forma como ele é maltratado pelos outros e acredito que seja a partir desses momentos que o laço entre o Kage e o Bojji se solidifica. E sabe o que é mais bacana? Fazer isso enquanto dá cores as personagens.

Nesse mundo não ficou claro o nível de magia exato, mas existe uma sombra negra misteriosa, portanto, existe magia, e não sei se o outro tutor que controla cobras usa magia para tanto, mas com certeza não é tão agradável assim vê-lo em ação.

E aí a narrativa transcorre de maneira simples, permitindo uma fácil associação entre a sombra e o manipulador de cobras com o soturno, o ilegal, o errado. Mas isso não significa que as personagens sejam só isso também.

O tutor cuida do segundo príncipe e o Kage certamente seguirá ao lado do Bojji, ambos explorando lados mais brandos de suas construções enquanto personagens, se o professor tiver mesmo uma.

De toda forma, o importante é que sabemos mais do Kage, que ele tem um passado obscuro e uma história triste, sendo uma personagem safa que também pode ajudar o príncipe, alguém caracterizado como bondoso, na disputa pelo poder.

Poder esse do qual Bojji claramente não está disposto a abrir mão. E eu acho que é aqui que Ousama Ranking compra uma briga muito bacana, que é explorar a jornada desse garotinho para provar seu valor como rei.

Mas não exatamente pelo poder, a gente vê que não é isso que guia a criança, e sim pela vontade de mostrar seu valor, ser respeitado, fazer o melhor para si e mostrar que ele pode ser o melhor para o reino também, isso mesmo sem falar ou ouvir.

Isso é algo intrínseco a praticamente qualquer pessoa, essa vontade de ter seu valor reconhecido. Não à toa ele chora quando está sozinho, por saber que seria ainda mais ridicularizado se fizesse isso na frente dos outros.

Aliás, se a gente for pensar bem, tanto ele quanto o Kage sofrem preconceito por serem diferentes, são vistos com maus olhos pelos outros, então é bem compreensível que se aproximem e se tornem mesmo amigos, que um seja a sombra do outro.

É, eu sei que não sou bom com trocadilhos, mas acho que sou bom em entender uma narrativa, e essa aqui é muito promissora, pois, por exemplo, se quando o segundo príncipe apareceu eu já esperava o pior para o primeiro, a coisa foi surpreendentemente boa.

E não de uma forma forçosa, afinal, se esquivar de alguém não muito maior ou mais forte é bem razoável. O Bojji não tem necessariamente mais força ou técnica que o irmão, ele sequer é um grande esgrimista, mas não é disso que é feita a raça humana, da adaptação?

Se a gente observar com atenção, é isso que ele faz o episódio todo, se adapta as adversidades e busca uma saída que não o desqualifique completamente, ainda que tenha que sofrer maus bocados quase o tempo todo.

E é com o irmão que ele tem seu grande momento, acontecimento que deve elevar pelo menos um pouco a imagem do herdeiro do trono frente aqueles ao seu entorno. Bojji não é um coitadinho, ele não é burro, nem covarde, muito pelo contrário.

O que também tem a ver com o pai, o rei Bosse (de “Boss”, né?), que deve ser pelo menos descendente de gigantes já que é bem maior que os outros adultos. E não estou querendo dizer que “fibra” é coisa genética não, mas vendo o legado do pai tem que ser 8 ou 80 mesmo.

Ou o Bojji mostra algo ou só vai levar pancada até ter seu tapete puxado. O pai mesmo se preocupa com isso ao chamar o filho para conversar e pedir que intensifiquem seu treinamento. O esperado para um rei, afinal.

É claro que bater de frente com o irmão ainda é pouco, o Bojji vai ter que se provar muito mais até ser levado a sério como herdeiro do trono, mas o anime vai ter 23 episódios, não há pressa alguma para construir a personagem.

Ainda mais após uma estreia tão rica quanto essa foi, capaz de nos apresentar a adversidades brutais, mas a esforço e perseverança suficientes para nos dar um vislumbre de que é possível mesmo com ele sendo menor que todo o resto.

Mas ele é menor fisicamente, menor no que os outros veem dele, assim com tem potencial indeterminado para surpreender aqueles ao seu redor e ao público, pois tenho certeza de que alguns de nós estão tão curiosos quanto céticos com a jornada desse pequeno príncipe.

Que terá ao seu lado uma sombra de personalidade tão distinta quanto são parecidas suas circunstâncias. Com sua animação fofinha, narrativa forte e inteligente e herói cativante, Ousama Ranking teve uma estreia extremamente promissora, capaz de me fazer apostar no príncipe Bojji.

Nunca deixe ninguém determinar o seu valor.

Até a próxima!

P.S.: Só eu percebi que a ED começa com “hitori bocchi” (só)? Lembra de Hitoribocchi no Marumaru Seikatsu e de como a heroína era solitária por não ter amigas? Traga isso para cá (Bojji é escrito com “j”, mas a pronúncia é a mesma) e admita: é tão simples e óbvio que chega a ser bom.

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