Faltam três semanas para o lançamento do foguete, não para o fim do anime, e se estão tentando diminuir o peso da nave para dessa vez comportar o peso de uma garota vampira e não de um cachorro, a história está tentando adicionar peso a sua trama e consegue.

Mas se for comparar os dois métodos diria que o do anime é melhor, mais gradual, inteligente; apenas jogar fora materiais a fim de compensar o peso a mais não é o mesmo que remodelar a estrutura. A falta de sofisticação denota certo nível de amadorismo, o que nós não temos aqui!

Se tem uma coisa de que a Irina pode se gabar é de ser pioneira em comparação aos outros candidatos a viagem espacial que a discriminam por ser vampira. Aliás, nesse episódio vemos a heroína sobre outro prisma. Coitadinha? Vítima? Fraca? Irina não precisa da pena de ninguém!

Mas se não precisa, diria que quer a simpatia do Lev, o que vem do respeito pelo rapaz que nela cresce. Não sei se por isso, mas acredito que por ser ele as situações de comédia romântica que vira e mexe ocorrem entre os dois ganham força, e isso traz comicidade e leveza a trama.

Mas como em todo drama, é só um afago antes da porrada, o que foi o papo que a arrogante Roza tentou jogar para cima do Lev e dela. Senti uma pontinha de despeito ali, será que ela gosta dele? Ainda que seja, ela se perde em discurso de ódio vomitado sem senso crítico algum.

Só que, reforçando o comentário acima, a Irina não precisa da pena de ninguém, e nem do Lev para defendê-la. Por um momento pensei que ela fosse só ignorar, mas não, ela encarou e foi aí que a chavinha começou a virar, que fui percebendo a complexidade da posição em que ela está.

Como a Irina conta depois para o Lev, ela se voluntariou para a missão, não foi comprada ou sequestrada. Um objeto jamais faria isso, é óbvio, pois ela não é um objeto e o Lev sabe disso. E sabe o que é mais legal? É a prepotência humana em achar que está apenas usando o outro…

E não se dar conta de que está sendo usado. Não que os manda-chuvas liguem para que ser inteligente vai, de fato, primeiro ao espaço, mas os humanos que se candidatam a isso ligam, ligam, mas não percebem que não estão em posição de olhar ninguém por cima com desprezo.

Deixando isso de lado por ora, não quero falar do treino de solidão que se aproximava, mas da ação tomada em resposta a ele. Primeiro pelo Lev que convida a Irina a dar um tempo, a curtir, depois a própria, que aceita o convite e de quebra acaba por conhecê-lo um pouco melhor.

É inevitável que ela se interesse por ele, queira compartilhar de seu divertimento, até confie nele para diverti-la também já que até agora ele só a fez bem. Junto a isso a gente vê mais uma ceninha típica de comédia romântica que explora toda a fofura da personalidade arrojada da heroína.

Arrojada, mas meiga, principalmente nos momentos em que ela é pega um tanto desprevenida, como foi com a conversa da bebida alcoólica e a inusitada revelação de que ela é um “gato”. Na linguagem do esporte, não sei se o termo é usado em outras áreas, é alguém que mente a idade.

Mas geralmente é para ganhar vantagem pela diminuição da idade, é incomum o contrário. Eu só me pergunto se isso faria essa diferença toda para os russos, que a gente sabe que pretendem descartá-la, e ela, que nem precisava da Roza para saber, não teria porque esperar outra coisa.

Enfim, se o jazz é considerada uma forma de transgressão na Rússia do anime, nada mais significativo que o Lev ir a um bar disso. Não falo nem de gostar, ele poderia tentar ouvir escondido, mas ir ao bar denota que ele é em si transgressor, ainda que, repito, ande bem pela corda bamba.

Mas não é só de reforçar suas próprias construções que vive o anime, apesar de que a gente pode considerar um pouco isso o que aconteceu pouco depois com a aparição da cozinheira, Natalia, que é simpática e mais cuidadosa que o Lev, apesar de ambos irem a um bar de jazz.

Porque, pensando bem, quer lugar melhor para infiltrar alguém a fim de caçar pessoas que discordam do governo? Ouvir jazz não é crime, mas gostar de jazz é taxativo justamente por vir da nação inimiga. No nosso mundo mesmo, o berço do jazz é os Estados Unidos, o equivalente.

Quanto a queixa do Lev, beber e relaxar o levou a cometer o vacilo, deixando transparecer mais de uma insatisfação que a gente conhecia e se deve muito a sua paixão pelo espaço, mas também por sua formação cívica. Ainda que, sagazmente, o foco seja na fofura e devoção dos dois.

Pois se por um lado o trecho da Irina receosa em beber, mas que reage de maneira fofa, agrada por derreter um pouco mais a heroína, saber que o Lev tem até apelido; é Lev, O Descongelador; ilustra, com uma carga menos pesada, toda a passionalidade dele quando o assunto é o espaço.

Jogando tudo num caldeirão o sabor que preenche nosso paladar é de que se ele não tivesse esse sonho jamais se curvaria ao exército, o que faz a contragosto e conservando consciência sobre questões que vão além dele, mas não chegam, ou ele acha que não deveriam chegar, ao espaço.

Por fim, os minutos finais do episódio justificam as cinco estrelas completamente. A cena de patinação a luz da lua da Irina chega a ser poética de tão bem montada que é, nos ofertando não só o deleite de uma ação tão artística e divertida, mas também um reforço narrativo dos bons.

Se a Irina realmente estivesse sendo obrigada completamente contra sua vontade, dificilmente seria capaz de aproveitar tanto, algo que ela esclarece momentos depois ao revelar sua história com mais detalhes, mais que o suficiente para entendermos sua dedicação e convicção.

E como em qualquer relacionamento saudável, o que há é uma troca, então o Lev também conta mais de si, do que o levou a estar onde está, que me surpreendeu por não ter exatamente a ver com a viagem ao espaço, mas sim com seus valores, coisa da qual é incapaz de abrir mão.

E tudo isso em meio a uma discussão sobre o que os humanos pensam dela, algo que não a afeta como poderia também pela ideia de que ela também está se aproveitando deles. Digo e repito, Irina não é nenhuma coitadinha, ela aceitou as piores condições para realizar seu sonho.

O Lev é como ela, ele apenas deu sorte de ter nascido humano, e o “azar” de não ser uma marionete de valores distorcidos. Ou melhor, deu a sorte de ser rebaixado, mas com isso poder compartilhar seu sonho com outro alguém que sente o mesmo e com a qual fez uma promessa.

Lev levara Irina ao espaço, fazendo com que ela chegue mais perto da lua do que qualquer humano jamais chegou, um simbolismo para a conservação de uma pureza que a humanidade ainda não foi capaz de macular entre tantas que ela já maculou e seguirá maculando até seu fim.

Até a próxima!

P.S.: Eu sei, o álcool deu uma ajudona, mas que mal tem? É da Rússia que estamos falando, tava faltando álcool mesmo, ainda mais se o que vem a seguir é um quarto da solidão que pode fazer a Irina sentir saudades de um certo alguém… Era hora de extravasar, e nós que saímos ganhando!

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