Ao longo de três temporadas e cerca de 93 episódios – até o presente momento -, o anime se concentrou em mostrar como os protagonistas se viravam para dar conta de crescer como lutadores da Border, enquanto encaravam suas próprias fraquezas pessoais, por vezes as superando e por vezes não.

Entre evoluções e estagnações, Osamu e Chika jogam como dá, mas diante dos grandes sonhos que os dois alimentam, fica difícil se manter no mesmo passo lento, quando a urgência te pede que caminhe mais rápido ou corra – especialmente no caso dela. Será que com o confronto direto que sofreu agora, a pequena atiradora finalmente vai se tornar a ameaça que nasceu para ser?

No geral acho que esse episódio é bem parado, até mais do que alguns que já passaram, porém aqui isso se faz necessário e é justificado, justamente porque decidiram dar a Chika o foco que ela precisava para finalmente sair do seu status quo de “café com leite” na equipe.

Particularmente achei que a parte com a equipe do Ninomiya foi bem desnecessária como eu imaginei que pudesse ser, porque ele não fez absolutamente nada, sequer dá para dizer que interagiu, ou fez algo que pudesse servir de toque para os outros, apenas permaneceu seco como de costume.

Seus companheiros ainda que amistosos, também pouco fizeram com exceção do Inukai, mas sinceramente ele foi outro ser um tanto desagradável, pois embora sua intenção fosse captar informações para usar a seu favor, mais parecia que ele queria diminuir os rivais e afetar o psicológico deles através desse rebaixamento – o que achei um tanto baixo para alguém na condição dele.

Passada essa parte mais chata do episódio, que felizmente não durou muito já que não tinha o que se extrair do Ninomiya calado, voltamos a Chika. O episódio foca em trabalhar um pouco mais o psicológico dela, até porque depois de tanto tempo ela precisava avançar mais e se “esclarecer” para todos – incluindo a nós.

Primeiramente, verdade seja dita, embora o Osamu não consiga crescer em poder ofensivo, é necessário reconhecer que mentalmente, ele se esforça e se desenrola como pode para suprir a sua carência. A vontade está ali e ele vai com tudo, no que é uma pena que falhe miseravelmente em melhorar sua qualidade física, ainda que seja suficientemente inteligente para sobreviver.

A Chika por sua vez, pretendia ir longe e fazer parte do grupo, mas ela nunca expôs de fato a sua situação ou mesmo tentou sair de vez da sua caixinha. Ela até tenta fazer algo diferente, mas sem perder o limite que se estabeleceu e isso que a coloca numa circunstância diferente da dele.

Osamu não desenvolve porque o destino ou o roteiro parece não querer que ele seja maior do que é, não importa o que faça ou aprenda. Já a Chika não é maior, porque ela não quer ultrapassar seu limite e por isso gosto que o anime finalmente dê a ela chance de resolver esse pormenor em definitivo.

Engraçado que no começo de todo o diálogo entre a equipe, achei que o Hyuse estava pressionando legal, porém era algo necessário, uma vez que os outros nunca tiveram coragem de forçar um pouquinho a amiga, mesmo quando precisaram. Em algumas batalhas já vimos como o Osamu e o Kuga se viraram nos trinta para cobrir a menina, na intenção de proteger sua mente das pressões, então alguém tinha que fazê-lo e que bom que ele o fez.

Embora a motivação da menina não fosse uma grande tragédia dramática familiar – como eu idealizei -, consegui captar a tensão e o trauma que ela sempre viveu, afinal quando se trata da opinião alheia e o quanto ela te afeta, tudo tem uma dimensão diferente a cada pessoa.

A Chika sempre teve medo de julgamentos, de ser apontada por algo que não tinha a ver com ela e ser rechaçada por isso. Ela é uma criança e é natural que crescesse cheia de medos e a base da expectativa alheia.

Não quero colocar as coisas no mesmo patamar, mas imaginemos por exemplo a situação de uma criança que vive o divórcio dos pais, quantas delas não devem se culpar por achar que são o motivo dessa desunião – quando os adultos é que são responsáveis por seus atos? Quantas não devem ouvir em um momento de raiva, que elas são parte disso e de tudo que dá errado?

Pois bem, traçando um paralelo rápido com o que a Chika viveu, as pressões de ter sido envolvida nos ocorridos, as acusações, ironias dos colegas e etc, é fácil de compreender como seu psicológico a trancou nesse mundo onde ela não poderia fazer nada fora do normal, em nome da “aprovação dos outros” e sua paz interior.

Ela já tinha poucas pessoas próximas e duas delas foram levadas pelos Neighbors, o que já é ruim, então o restante decidiu cair em cima dela, junto com os pais, temos pronta a receita para traumatizar uma garotinha tímida e frágil.

Embora não tenha tido nada muito grandioso visualmente falando, acho que o anime traduziu bem a angústia da personagem em não querer ser destaque, em não querer mostrar suas habilidades ou se manifestar, apenas para não ser vítima de quaisquer consequências mais complicadas.

Se desabafar foi difícil e desgastante, ao menos a conversa com os amigos e seu mestre serviu para dar a ela o apoio necessário. A Chika sabe o que realmente importa para ela, mas principalmente, ela sabe com quem pode contar e que essas pessoas fecham com ela, não importa a situação.

Agora minha ânsia é ver que tipo de impacto todo esse processo de abertura dela terá, porque diferente das outras vezes em que ameaçou tentar e não passou muito do limite esperado, agora a menina estampou que quer fazer mais por todos, então a animação está lá em cima para ver do que ela é capaz com sua resolução tomada.

TRIGGER ON!

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