A única coisa que me desagradou um pouco nesse episódio foi uma percepção que tive (e sobre a qual fui alertado por um companheiro de blog algumas vezes) da roupagem dada aos russos na história. Eles ainda me parecem vilões, mas não é bem assim que a coisa funciona.

Toda vez em que alguém atenta contra a vida da Irina recaí sobre um peixe pequeno, os mandantes não aparecem, e tudo é contornado com uma ajudinha da Natalia (uma agente infiltrada, como já era meio óbvio). Parece que a crueldade do exercito é pontual, não estrutural.

E sabe o engraçado? Historicamente o Japão já guerreou com a Rússia, além de ter se aliado ao lado oposto na Segunda Guerra Mundial, então não sei porque a equipe de produção tem essa boa-vontade toda com essa Rússia de um universo paralelo no qual vampiras são cosmonautas.

Em todo caso, sei que é um detalhe menor que não distorce a lógica da trama, mas incomoda por subaproveitar um plot comum a esse tipo de narrativa, o da exploração do mais fraco pelo mais forte. O próprio Lev se “rende” ao país que tanto critica ao ser um cosmonauta dele, né?

Ainda assim, é mais compreensível o que ele faz pela falta de alternativa. Não dá para alcançar o espaço sem virar militar ou acatar as ordens do exército. Sendo assim, é difícil questioná-lo de fato. Inclusive, prefiro elogiar a construção dele até seu momento de grande sucesso até agora.

É louvável a empolgação dele com o terceiro lugar, pois explora um aspecto que a colega dele, a Rosa Branca de Sangrad, perde de vista, o quão é grande ser um dos primeiros cosmonautas no espaço, ainda que a gente saiba que a tendência é o primeiro ganhar maior destaque.

Acho ainda mais bacana como isso se conecta a história da moça, uma mulher em um ambiente militar dito igualitário quando a gente sabe que isso e só até a página 14, o que em parte justifica muito dos padrões de comportamento que a personagem teve até então na trama.

Machismo, seja aqui ou em praticamente qualquer país do mundo, é uma construção estrutural que afeta as pessoas em muitos aspectos além do que se pode ver na superfície, e é algo que pode provocar reações diferentes nas vítimas, mas um padrão comum é a autopreservação.

E como se proteger em um ambiente que pode até não atacar as claras, mas cerca e sufoca? Tentando se impor, falando mais alto a fim de não dar brechas para ser subjugada. Além disso, como já comentei em artigos anteriores, não dá para exigir de todos que agissem igual o Lev.

A compreensão a qual ele chegou quando criança expandiu seus horizontes, fazendo com que enxergasse as situações dispostas a sua frente com outra mentalidade, o que vale também para o cenário de competitividade no exército, muito bem traduzido na cena dos cumprimentos.

Exigir isso da Rosa seria pretensão demais, o que não significa que eu passe pano para o que a personagem fez, mas consigo entender sim seus motivos, mesmo que eles façam mais sentido na cabeça dela. E ah, ela nem se tocou de que vai ser a primeira mulher cosmonauta, né?

Exceto se ela se incomodar com o feito da Irina, mas não parece ter sido esse o caso. Aliás, diria que o ideal seria um pedido de desculpas direto a vampira, mas acho que o que o anime fez já deu para o gasto. Repito, ela ainda foi uma otária, mas não é como se não tivesse “desculpas”.

Enfim, ela pode até ser mais específica, pois deve ser a primeira mulher humana a conquistar o espaço, o que já será um baita feito. Isso se a Grã-Bretanha permitir, mas se não me engano o primeiro indivíduo a alcançar o espaço era russo, né? O anime não deve mudar isso.

Sobre a Irina, o episódio foi indiscutivelmente maravilhoso pelo tanto de caras e bocas fofas que ela fez, pela perspicácia da Anya em unir o casal e a perspectiva de uma despedida emocionante agora que cada um seguirá seu caminho, o que vai fazer o anime parar aonde?

Não sei, mas depois de outra tentativa de assassinato falha me sinto impelido a achar que a Irina não vai ter problemas em sua nova ocupação. A “malvada” Mãe Rússia do anime não deve atentar de novo contra a vida dela e mesmo se fizer isso seria tolo eu esperar não dar em nada?

Por fim, o que sobra é o Lev conquistar o espaço e a relação dos dois, para onde ela irá a partir de agora e o que de novo será trazido a trama a fim de justificar mais três episódios desse anime que continua excelente, mas se digladia com um desafio após ter se despido de seu objetivo inicial.

Até a próxima!

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