Platinum End – Vale tudo por felicidade – Primeiras impressões
Platinum End é um anime do estúdio Signal.MD programado para 24 episódios que adapta o mangá (concluído em 14 volumes) de Tsugumi Ohba (história) e Takeshi Obata (arte), autores dos clássicos Death Note e Bakuman. Segue a sinopse da Crunchyroll (streaming oficial do anime).
‘”Vou te dar um motivo para viver.” Kakehashi Mirai perdeu os pais num acidente, e passou a viver uma vida miserável na casa dos parentes que o acolheram. Sem esperança de um futuro melhor, no dia de sua formatura no ensino fundamental, ele pula do alto de um edifício. É então que ele acaba conhecendo um anjo…’
O suicida quando encontra o coach quântico é uma coisa louca, né? É com esse tipo de frase sem nexo que começo a falar do battle royale da temporada (nem lembro se é o único, mas com certeza é o de maior destaque) em que anjos guiam 13 candidatos ao posto de deus.
Imagina se as eleições fossem assim no Brasil? Zoeira a parte, Platinum End tem uma sinopse irresistível e que em princípio se aproxima de Death Note (um poder misterioso e a perseguição do posto de divindade), mas ganha mais corpo na comparação com Mirai Nikki.
Se nessa estreia a tsundere não apareceu, serve uma anja para lá de cínica que oferece mundos e fundos ao protagonista sem explicar que não existe almoço grátis nesse mundo?
Aliás, a Nasse se torna ainda mais perigosa pelo momento em que encontra o protagonista, Kakehashi Mirai, afinal, só quem desistiu da própria vida é que pode ser deus. É virada de 360º que chama?
Apesar de que sim, faz sentido, só quem está disposto a perder tudo é quem pode ganhar tudo. Há lógica nisso. Mas deixar os anjos agirem como quiserem, sem orientação alguma, não.
Exceto se a representação de deus, um velho carcomido, significar que os anjos que tomam parte no battle royale podem fazer o que quiserem, sem ninguém para orientá-los a, por exemplo, pelo menos explicar o que eles devem oferecer pelos poderes ofertados aos candidatos.
Aqui, diferente de Mirai Nikki, a consciência sobre a disputa desparta tardiamente, e isso se deve a um certo atordoamento do protagonista com as rápidas mudanças que acontecem em sua vida.
Mas é aquilo, se por um lado entendo certos caminhos pelos quais a trama anda em seus primeiros minutos, por outro, como alguém que já leu um pouco do mangá e não continuou por acaso, fico pensando em como esse início é bem zoadinho.
Por exemplo, até a cena em que ele joga uma flecha do amor na tia o plot não parecia de hentai, daqueles em que surge um ser mágico dando poderes ao protagonista, que ele acaba usando para transar adoidado por aí? É claro que ele não iria fazer isso, ele só queria saber a verdade.
E ela é revelada, deixando claro que o Kakehashi não tem nada a perder, não tem futuro. E qual o primeiro nome dele mesmo? “Mirai”, que significa “Futuro” em japonês. Coincidência? É claro que não. Takeshi Obata não anda muito dado a sutilezas…
Mas esse é o menor dos problemas, pois se por um lado a ideia da representação cínica de momentos marcantes (como ganhar poderes e ver pessoas se matando) cresceu em mim, por outra penso no choque pelo choque.
Mais abaixo você pode conferir um vídeo que gravei com o Muragami do canal Matsueki em que falamos justamente sobre Platinum End e ele faz essa contraponto muito interessante sobre o ponto de vista através do qual vemos essa estreia e como isso torna tudo mais “objetivo”.
Contudo, eu já tenho uma visão mais pragmática sobre o assunto, pois acho que mesmo se os autores tiverem pensado nessa abordagem mais conceitual, duvido que isso tenha sido mais importante que atrair a atenção do público.
Em Death Note pelo menos o protagonista era inteligente e, apesar de algumas forçadas de barra, no geral as coisas faziam sentido, já aqui eu não consigo comprar muito a ideia de que o Kakehashi embarcou nessa furada, mesmo que sua vida estivesse um lixo e ele atordoado.
Digo, sério que ele só foi se informar melhor sobre o battle royale três dias depois? Além disso, a confissão da tia e seu suicídio pode ser questionado em um ou outro ponto, mas nem vou focar nisso. Em resumo, Platinum End busca chocar com desgraça em contraste com a felicidade tão exaltada na trama.
E essa busca pela felicidade é a força motriz que leva o protagonista a fazer aquilo que faz, isso guiado pela Nasse, que com sua visão cínica (sem as amarras da ética e da moral, algo até razoável para uma anja, ainda mais uma de classe especial) distorce o “poder” pelo “querer”.
Essa busca desenfreada pela felicidade me cansa um pouco, acho até jocosa em alguns momentos, mas se a intenção era “converter” alguém sem muitas perspectivas na vida, que comeu o pão que o diabo amassou por um bom tempo, consigo comprar um pouquinho a ideia.
Mas não muito, Platinum End é o tipo de anime que pode puxar seu tapete fácil se você tiver muita boa vontade com ele. A cena final mesmo, em que um candidato a deus trajado de super-herói mata outro, é uma das coisas mais estúpidas dessa temporada assim de longe.
Eu sei, eu sei, eles têm acesso a asas e flechas que podem usar para fazer as pessoas se apaixonarem ou morrerem, poderes de super-herói (ou seria super vilão?), mas não precisava ser tão literal. Eu já disse que o Tsugumi Ohba não sabe ser nada sutil, né?
Mas tudo bem, assim também fica mais fácil de assimilar a história, e se você me disser que riu e achou tudo muito zoado, eu vou entender, eu sei que em grande partes minhas justificativas para coisas sem noção nem devem ter sido a razão para essas coisas em primeiro lugar.
Aliás, e aqui peço desculpas de antemão, li um pouco do mangá e pelo pouco de li sei porque não esperava nada a mais dessa estreia, e na verdade até achei tudo mais idiota do que já havia achado no original. Tem muita coisa “importante” tratada como um passeio no parque…
Talvez seja só o protagonista que é um idiota mesmo. Em todo caso, o que me incomoda mais em Platinum End não é a ideia (pelo contrário, essa é a melhor coisa da obra) e sim a execução, que poderia ser um pouco mais séria (Como Death Note é), ainda que mirabolante também.
Me parece muito que faltou criatividade para amarrar o plot, então resolveram seguir pelo caminho mais fácil pensando que o público compraria a ideia só pela fama dos autores. Isso deve rolar em parte, mas, por exemplo, Platinum End vai ser tão grande quanto Bakuman ou Death Note?
Esquece. Não que essa deva ser a intenção primária de cada obra criada por um autor (nesse caos uma dupla), superar seus sucessos anteriores, mas com certeza a ideia não é baixar o nível de qualidade. Tsugumi Ohba era mais sutil em Death Note (não vi Bakuman ainda), por exemplo…
O que posso comentar mais dessa estreia? Que o circo está armado. Mais personagens vão aparecer, 10 candidatos a deus ainda precisam dar as caras, alianças serão formadas (é o comum nesses conflitos) e certamente a Nasse ainda revelará coisas importantes que simplesmente esqueceu.
Além disso, tem a animação, que não foi um primor nem nessa estreia, mas imagino que manterá o mínimo de qualidade para fazer jus a fama das mentes criativas por trás do projeto. Aliás, acho até que se deve um pouco a esses nomes a má vontade de certas pessoas com Platinum End.
E eu compartilho dessa má vontade? Sim, um pouco. Mas tenho meus motivos, e motivos bem plausíveis, pois mesmo fazendo o exercício de abstrair da minha mente os capítulos que li do mangá, ainda assim, essa estreia parece cartunesca demais para um plot que deveria ser menos.
No vídeo eu digo que tudo fica melhor com battle royale, mas a verdade é que vejo mais usos ruins do conceito que o contrário. Foi mais porque gosto da ideia como um todo. E se indico Platinum End? Com certeza. Cobrirei o anime por aqui. Falem bem ou falem mal, vamos falar dele?
Até a próxima!
Abaixo deixei o vídeo sobre o qual comentei mais acima. É uma versão diferente, e também interessante, do que achei da estreia, pois conta com a opinião de outra pessoa para trazer contrapontos bacanas que podem fazer você pensar ainda mais, e melhor, em Platinum End.