Joker Game – ep 10 – Quem é Yuki? Ou: Quem não serve para ser espião
O arco anterior foi dedicado a mostrar como militares não servem para ser espiões. Eles têm algo maior do que suas vidas: a pátria que defendem. Esse episódio mostrou outro tipo de pessoa que não serve para ser espiã: aqueles que têm relacionamentos afetivos e os colocam acima do próprio bem-estar. Nesse dia dos namorados, você ama alguém, leitor? Desistiria de tudo, ou de muita coisa, por essa pessoa? Caso sua resposta seja “sim” então sinto informar-lhe que não tem o que é necessário para ser um espião, segundo Joker Game.
Isso remete diretamente ao episódio no qual um espião da Agência D adotou uma garotinha. Quando chegar a hora, ele irá abandoná-la? O anime está quase acabando e não sei se irá “chegar a hora”, então essa pergunta me parece inútil. Mas uma pergunta muito mais útil permeou esse episódio inteiro: quem é o Tenente-Coronel Yuki?
Ele possui patente, portanto deve ser um militar. Será? Ele nunca apareceu fardado e todos os militares graúdos que já apareceram na história até agora, sem exceção, não gostam dele. Como ele conseguiu sua posição em primeiro lugar, por que e por quem seus atos são tolerados? Esse episódio até contou uma historinha dele apenas para depois dizer que era tudo plantado, uma isca criada para atrair espiões. Segundo ela, ele seria o filho bastardo de um visconde e criado por esse. Em primeiro lugar, visconde? No Japão? Ou isso foi um erro grotesco de tradução ou ele era estrangeiro. E ele tinha cara de estrangeiro mesmo, com aquele bigodão. Mesmo assim, no Japão. Difícil de entender de todo modo, e é o tipo de coisa que deveria ativar a desconfiança de qualquer um ouvindo a história (exceto, claro, se for erro de tradução).
Mesmo ignorando essa parte, o resto da história dele embora pareça verossímil é muito conveniente. Foi expulso do exército e treinado por um grande espião inglês – que apenas por acaso era o mesmo mestre que o espião inglês teve. Bom, sobre isso há fotos, então talvez seja verdade? Não que a manipulação de fotos já não existisse muito antes da invenção do Photoshop. De todo modo, não importa: a história era uma mentira e o espião inglês caiu na armadilha. O que não quer dizer que não possa ser uma mentira que diz muitas verdades.
Ainda estudante na academia do exército, diz a história inventada, Yuki teria se metido em uma briga e sido expulso da escola. Não por ter brigado em si, mas por ter jogado areia nos olhos e chutado o saco de outros cadetes com os quais brigou. Segundo o suposto diretor da academia, brigar é normal e forma caráter, mas tais atos do Yuki demonstrariam que ele é “covarde” e portanto não serviria para ser um soldado. O que ele não achou covardia foi ele ter sido cercado por vários outros alunos, que usaram inclusive uma faca contra ele. Ele também tinha seu próprio canivete, mas optou por não usá-lo. Desde então ele já teria estabelecido sua doutrina segundo a qual matar ou morrer é inútil – mas para além disso tudo vale. Essa história pode não ser verdadeira, mas é um conto que traduz muito bem a ideologia da Agência D e que já vimos em ação desde o primeiro episódio.
E o inglês, embora treinado por um espião muito bom e famoso, embora já estivesse há dez anos no Japão, entregou-se rápido. Não por conta das torturas que sofreu (até onde o anime mostrou ele foi abusado fisicamente mas não apanhou, e só tomou uns baldes dágua na cabeça e foi psicologicamente pressionado), mas por medo do que aconteceria a sua esposa. Ele passou anos no Japão e acabou casando-se com outra estrangeira que conheceu lá. O relacionamento deles parece viver um momento muito bom mesmo, a julgar pelas ações dela e dele. Por isso ele não pôde suportar a ideia dela sofrer por culpa dele – ela não sabia de nada afinal!
Ele se entregou, mas não foi necessário. A Agência D obteve o que queria e o soltou, com a certeza de que aquele era um espião neutralizado, isso se continuasse como espião (o provável é que não, se eu for crer no que ele ele disse no final do episódio). Isso também é uma demonstração do modo de pensar e operar da Agência D e do Yuki. Mas continua no ar a pergunta: quem é o Yuki?
Kondou-san
Mais um episódio mediano de Joker game, só o continuo a acompanhar por causa da animação e da temática, mesmo sendo episódico eu continuo a segui-lo. O Yuki é um gaijin eu sempre desconfiei, ele parecia muito ocidental, tanto na maneira de agir e pensar e na forma de se vestir. O Yuki é um veterano de guerra, se ele participou na WWI foi ai onde ele perdeu a mão e ficou coxo de uma perna. A maneira de agir e pensar do Yuki para mim é a mais correcta, ele age de forma muito honrada, aquela briga de quando ele estava na academia militar, como tu bem referiste, eu achei que aquele que esteve melhor foi o Yuki, três contra um deve ser muito justo, ainda por cima armados com uma arma branca (termo português para navalhas, facas etc), na guerra o soldado deve utilizar qualquer truque para sobreviver, qual o sentido de perder e tirar uma vida, para mim é nenhum mas fazer o quê os militares japoneses naquela altura faziam tudo ao contrário. O Yuki além de ser o mestre do disfarce, é ainda de bom coração, quando o espião foi preso eu pensei que iam matá-lo, mas aquele final onde o espião se senta no banco ao por do sol a pensar na sua amada, e quando esta aparece e diz que um senhor de bengala lhe disse que ele estava ali, achei que o Yuki não é mau. Agora falando do espião deste episódio, ele simplesmente não fazia jus ao trabalho que fazia, pois já estava com dois dilemas, ou entregava mensagens com os planos japoneses ao seu país de origem, ou então ficava com a sua amada, eu desde do inicio percebi que ele mesmo a investigar não servia para aquilo. Aquela cena final, foi muito bonita, o espião retirado e a sua linda amada, se me visse numa situação dessas, ,mesmo sendo patriota eu nunca abandonaria alguém importante para mim, mesmo que fosse o fim do mundo.
O que dizer do estúdio responsável por este anime, a sua animação é excelente, principalmente os cenários, e a indumentária dos personagens também é muito boa, além da cena da melancia que me deu água na boca quando a vi.
Como sempre uma excelente matéria.
Fábio "Mexicano" Godoy
Se ele for ocidental explica em parte porque o odeiam tanto, embora isso ainda não esteja suficientemente claro para mim. Mestiço talvez? Perguntaram ao espião inglês se a esposa dele era japonesa, então isso não deveria ser tão incomum na época.
O Yuki de fato não é mal, ele é um homem de resultados, só isso. Ele sabe que no fim das contas está melhor assim do que se metesse o terror – queira ou não agora o inglês tem uma dívida com ele. Se tivesse sido pego pelo exército ou pela polícia de verdade, com certeza teria sido morto. E não garanto destino melhor para a esposa dele.
Sobre abrir mão do país em nome da esposa, aliás, o caso dele é parecido com o da francesa que se tornou agente dupla dos alemães para manter a família viva.
Enfim, o anime é realmente muito bonito, bastante coeso na animação também, não vi episódios melhores ou piores nesse quesito.
Obrigado por mais um comentário =)
Uber
Não acho que ele seja ocidental, chamar o suposto pai de visconde foi mesmo erro de tradução ou tentaram um termo em português aproximado do japonês que não foi o melhor.
Eu achava estranho para uma obra seinen ver aqueles soldados numa atitude tão infantil ao fazerem careta e resmungar longamente o nome dele: Yukiiii…
Mas acho que não é ódio em particular, o que eles detestam nele é o fato de ser diferente e não seguir a ideologia, é só mencionar isso que eles passam a odiá-lo automaticamente como cães treinados.
O episódio teve um final romântico, mas fico com a impressão como no episódio na França e o da viúva espiã de que os japoneses querem criticar o sentimentalismo ocidental, como se fosse uma falha nossa.
Fábio "Mexicano" Godoy
Será? Não fiquei com essa impressão. Claramente eles estão apontando que nem todo mundo serve para ser espião, e sendo os espiões protagonistas japoneses, estão fazendo deles os melhores espiões possíveis. Mas já houve japoneses que não serviram para espiões também: os militares. De resto, todos os ocidentais que por motivo A ou B fracassaram no final pareceram verossímeis.