Você. Você mesmo. Vem comigo, que esse é um dos meus animes preferidos e eu estou disposto a convencer-lhe a assistir. Pra atingir esse objetivo, eu falarei dos pontos que eu considero negativos e positivos. E eu já digo logo que, apesar de seus pontos negativos, é um anime pro qual eu dou nota máxima, pois pra mim nenhum anime é 100% perfeito, mas há sim animes como este que pra mim são dignos de serem rotulados de obra-prima por tamanha qualidade e originalidade.

Haibane Renmei é um raro caso de adaptação de um doujinshi (excetuando os hentais animados, obviamente, que são majoritariamente adaptados de hentais em quadrinhos). É de autoria de Yoshitoshi ABe e tal título significa, segundo o próprio autor, Federação das Penas de Carvão. O anime data de 2002 e também possui um subtítulo em francês, “Une fille qui a des ailes grises”, que significa “Uma garota de asas cinzentas”.

O anime tem uma premissa muito interessante e se desenrola de maneira consistente. Basicamente, Haibane Renmei trabalha com alguns conceitos básicos da vida, como o nascimento, o amadurecimento, o crescimento, a convivência, a dor da perda de alguém, crises de existência, o desejo pela morte, a morte em si, ou seja, o ciclo da vida, mas quase tudo representado de forma simbólica ou metafórica, já que, apesar de ser uma obra bastante realista, ela também possui uma pitada de ficcionalidade e é aí que entram as diversas alegorias religiosas ou mesmo da vida (em um sentido geral) que dão a razão de existir da obra. Mostrar diversas fases da vida ou então personagens se questionando o porquê de as coisas serem de tais formas naquele mundo ou ainda tentando se libertar de um destino autoinfligido é o que o anime tenta representar e, pessoalmente, eu achei muito bem feito. É interessante também perceber que naquele mundo o conhecimento é algo extremamente limitado e isso faz com que, por exemplo, o conhecimento sobre o nascimento do mundo, o conhecimento sobre o quê há no mundo exterior ao local onde vivem e o conhecimento sobre o nascimento e a morte dos personagens chamados Penas de Carvão sejam, nada mais, nada menos, do que mitologias, especulações ou, até mesmo, expectativas pessoais. Ponto. Isso é o máximo de “spoiler” que eu darei pra vocês.

Falando agora um pouco sobre alguns pontos negativos do enredo, a série tem um esquema mais slice of life até o episódio 06 e ainda nesse episódio 06 até o episódio 13 começa-se a trabalhar mais o mistério dentro da obra, sendo do início ao fim um anime de drama. E bote drama nisso, viu… bom, não é um dramalhão, ok? Muito pelo contrário, o drama no anime é perfeitamente construído e verossimilhante. Entretanto, eu tenho que admitir, se você não for assistir Haibane Renmei corretamente preparado e no estado de espírito correto, o anime provavelmente será uma experiência muito monótona, principalmente na primeira “metade” que eu citei, pois de fato não é uma obra para qualquer gosto. Mas pode confiar que tanto na primeira como na segunda “metade” são mostradas coisas importantes daquele mundo. Por exemplo, no episódio 11 é possível perceber uma ligação do local onde a protagonista trabalha com um fóssil de um livro antigo de uma civilização antiga daquele local que é mostrado no episódio 05. Desculpa falar tão por cima, digamos assim, mas esse é o meu jeito de dissertar sem dar spoilers, ou pelo menos eu me esforço. Continuando, o anime tem um pacing um tanto lento, é verdade, porém isso não significa que acontecem poucas coisas em cada episódio. Acontece sim bastante coisa e é por isso que não fica exatamente maçante, como certos animes que não apresentam consistência ou conteúdo relevante ou bem organizado em seu enredo. Além disso, o anime tem um mistério cativante que permeia do início ao fim. E, sim, Haibane Renmei tem episódios finais excelentíssimos. Só não espere que tudo envolto de mistério na obra tenha de ser respondido, pois o foco da obra não é o mistério em si, mas sim o que eu falei no parágrafo anterior sobre as premissas e as ideias.

Um dos pontos mais marcantes de Haibane é de-fi-ni-ti-va-men-te o roteiro. Nooossa… foi bem escrito DEMAIS! As falas ficaram muito coesas entre elas e perfeitamente coerentes com suas personagens. Expressam de maneira eficaz mas também sutil a personalidade de cada personagem. Além disso, o anime é repleto de frases cheias de significados, que é o que torna a obra mais marcante. Só um exemplo rápido e simples: no início do anime, a protagonista, chamada Rakka, ganha as suas asas e passa a ser uma Pena de Carvão; em um determinado momento, ela diz: “Acho que sentir dor significa que elas (as asas) são parte mesmo do meu corpo”; antes disso ela tinha acabado de nascer e não conseguia sentir nem sua própria existência.

Coisa legal no anime também são os personagens. Quase todos são garotas e cada uma é bem diferente da outra, pois seus nomes e até traços de personalidade são as representações de sonhos misteriosos que toda Pena de Carvão tem antes de nascer. Lembra do título dessa resenha? Pois é, estes sonhos estão relacionados profundamente com o desgastante Ciclo do Pecado que eu mencionei. Essa relação foi feita de uma forma que eu achei genial. Eu poderia e quero falar um pouquinho mais sobre isso, mas dessa forma eu estaria dando spoiler e possivelmente destruiria o meu objetivo de convencê-los a assistir o anime.

Se eu tivesse que apontar o ponto mais fraco do anime, eu diria que é, sem sombra de dúvidas, a animação. Ela é realmente fraca quanto à qualidade do traço, que na maioria das vezes sofre por falta de refinamento e detalhamento. Contudo ela não é de todo ruim. Ela cumpre um papel importante, pois contribui predominantemente para uma atmosfera melancólica em tons acinzentados e principalmente pastel. E nunca no anime aparece alguma cena recheada de cores vívidas. Nunca. Mas tudo isso da animação é compreensível, já que ela segue a ideia da arte do Yoshitoshi ABe e Haibane Renmei nem de longe foi um anime comercial, além de ter sido feito por um estúdio minúsculo como o Radix, em uma realidade de época totalmente diferente e ainda sendo uma adaptação de uma obra independente, ou seja, um doujinshi, como eu disse no início do texto.

Haibane tem uma trilha sonora que pode ser bastante monótona pra muita gente, porque o anime é focado na dublagem e é repleto de silêncio e poucos efeitos sonoros, sendo esses efeitos sonoros bastante etéreos ou atmosféricos, então eles podem passar um tanto desapercebidos. Mas muitos desses efeitos sonoros são composições instrumentais muito bonitas e por isso eu recomendo que se assista utilizando fones de ouvidos. A abertura, por exemplo, parece uma mistura de música renascentista, “medieval” e folk. O encerramento, por outro lado, é extremamente puxado pra um estilo musical chamado dark wave, é um dos encerramento mais darks que eu já escutei. Aliás, o anime todo tem uma atmosfera dark por causa da trilha sonora inclinada para o ethereal wave e o dark wave. É interessante notar também que boa parte das composições são de instrumentos musicais acústicos. Só é uma pena que a qualidade do som varie dependendo de onde você adquire o anime.

Bom, pessoal, por hoje é isso. Haibane Renmei não é um anime que eu recomendaria para qualquer pessoa de forma alguma, mas é um anime que trabalha muito com significados e incita reflexões. Uma cabeça de uma pessoa mais experiente eu acho que consegue aproveitar de maneira mais profunda o anime do que pessoas mais jovens. Mas a maior parte é de fácil apreensão, então dá pra pessoas de quase todas as idades assistir. Por isso tudo esse é um dos meus animes favoritos.

Aqui eu encerro esta resenha. Espero ter sido compreensível no que escrevi aqui e espero ter atingido o meu objetivo de convencê-los.

Ah! Se você já tiver assistido, deixa a sua opinião nos comentários. E, se você for assistir, volta aqui depois e comenta também!

Até uma próxima!

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