Shigatsu wa Kimi no Uso – ep 10 – Como assim, mãe?
[sc:review nota=2]
Kousei tocou nesse episódio, finalmente. Não tocou bem, isso não era o esperado mesmo, e seria uma história muito idiota se ele de repente tivesse tocado bem. Ele teve os mesmos problemas que vinha tendo, não conseguia ouvir suas notas e tudo o mais, chegou a parar no meio da apresentação (o que significa que ele foi desclassificado, certo?), seus adversários ficaram frustrados, a plateia ficou confusa, um jurado com cara de velhaco ficou irritado, tudo nos conformes. Eu não diria que até aí vinha sendo um episódio bom, porque mesmo tocando mal eu preferia ter visto e ouvido mais do próprio Kousei o que ele estava sentindo e passando naquele momento, mas tive que ouvir as palavras e pensamentos altos de um monte de outros personagens que ou eram apenas bobagens ou reafirmavam o que eu já sabia. Não que o Kousei tivesse muito a acrescentar, mas aquele era o momento dele, eu ficaria satisfeito em pelo menos ter sentido melhor o que ele estava passando. Aí ele passou a tocar bem e tudo desandou.
Eu posso aceitar que o Kousei consiga tocar bem uma peça fácil depois de um pouco de treino mesmo com tanto tempo sem ensaiar, esse não é meu problema. A reação das demais pessoas é que foi desproporcional. A Igawa foi a pior. Como você pode transmitir através da música a sensação “em uma sala de escola no meio da tarde com uma janela trincada, o ruído de pessoas praticando atividade física ao longe e uma pessoa dormindo por perto”? Pô, mesmo colocando em palavras é difícil para eu imaginar-me nessa situação! Mas era isso que Kousei queria colocar em sua música (e esse não é meu problema), e a Igawa de algum modo mágico compreendeu perfeitamente! Que a Kaori tenha compreendido também não me incomoda muito, afinal ela é justamente a única outra pessoa no mundo inteiro que compartilhou essa exata situação com Kousei. Mas a Igawa pegou isso da onde? As cores que a Kaori enxergou na apresentação da Igawa já me pareceram exagero, mas pelo menos ela enxergou apenas cores e a partir delas teceu conclusões sobre sentimentos genéricos. Já a Igawa deveria trabalhar no ramo esotérico, pois ela consegue ler mentes!
A reação média da plateia foi idêntica a vista nas melhores apresentações da Kaori, do Aiza e da Igawa. Certamente Kousei tocou bem, eu que não entendo nada achei bastante bacana, mas não foi tão bom quanto os demais de jeito nenhum (quero dizer, é difícil comparar, porque ao invés de ouvir apenas o piano dele havia um violino irritante misturado). E nem poderia ser, dadas as circunstâncias dele, não é? Que a Kaori se emocione por compartilhar o sentimento com o protagonista é, de novo, compreensível. Para ela é mais do que a música naquele momento. Mas e para os demais? Naturalmente há o efeito do contraste, já que o próprio Kousei estava tocando muito mal até instantes atrás, mas mesmo assim. E como ele certamente será desclassificado por ter parado de tocar no meio da apresentação eu jamais saberei se foi só para criar um clima que a plateia reagiu daquela forma ou se ele realmente tocou no mesmo nível dos demais astros do dia. Essa segunda hipótese seria absurda. E se ele por algum motivo tirado da bunda do roteirista conseguir se classificar será pior ainda.
Por fim, a mãe do Kousei e seu trauma. Como vem sendo repetido desde o começo da série, como foi exposto dolorosamente no episódio anterior, a mãe do Kousei era bastante rígida sobre seguir de forma estrita a partitura. A única vez que Kousei brigou com ela, desgraçadamente a última vez que trocaram palavras, foi justamente porque ela decidiu maltratá-lo em público, ops, me desculpe, estou pegando leve demais, foi porque ela decidiu espancá-lo em público com um pedaço de pau porque ele havia tocado algumas notas em tempo diferente do definido na partitura. E enquanto fez isso esclareceu que ela considerava isso influência dos sentimentos, e que para Kousei atingir a perfeição ele deveria abandonar completamente seus sentimentos e apenas tocar mecanicamente. Agora Kousei voltou a encantar uma plateia, tocando a sua interpretação de uma partitura, preenchendo-a com seus sentimentos, e o fantasma de sua mãe, que representa o seu trauma, SORRI? Não é possível. O autor de KimiUso está escarnecendo de todas os traumatizados e de todas as vítimas de maus-tratos domésticos do mundo inteiro com um roteiro desses. Simples assim. Ele está dizendo “é só aguardar que o motivo de seu tormento desapareça e, depois disso, é só você fazer exatamente aquilo que o tornava alvo de sua crueldade que tudo ficará bem”. Horrível assim.