18if – ep 8 – Limite
Em 18if realmente vale de tudo, né? Desde que seja uma garota com algum tipo de problema com o qual ela não consiga lidar, ou seja, algo além de sua vontade, externo a ela. E cada problema tem uma solução completamente diferente dos demais – e em pelo menos um caso, no episódio anterior, o protagonista não pôde fazer nada.
Nessa edição, 18if tratou de surdez. Não da surdez em si, mas dos problemas que uma pessoa com deficiência auditiva enfrenta no dia à dia, de coisas pequenas até outras nem tanto. Todas coisas do cotidiano, que aqueles de nós que escutam normalmente têm por garantida, podem se transformar em desafios. Problemas com o chefe, com o transporte público, com animes e programas de TV, com invasões alienígenas, etc.
Ok, talvez nem tudo seja exatamente cotidiano.
Visualmente foi mais um episódio muito interessante. O uso de cores em especial, ou melhor, a ausência dela durante a maior parte das cenas durante o sonho, me parece que foi uma forma de representar uma informação que está faltando. Sons e cores fazem parte das nossas sensações, e se é difícil imaginar o que seria não ouvir, o anime pede que imaginemos o que seria viver em um mundo sem cores. No geral, bastante ok, não é? Quero dizer, houve perda de informação, é lógico, mas nada impeditivo para a comunicação. E a comunicação é a chave desse episódio.
Precisamos todos aprender linguagem de sinais para a eventualidade de termos que nos comunicar com um deficiente visual em algum momento de nossas vidas? Olha, mal não faz, se puder, vá fundo. Mas é como a garota disse: o som, a voz falada, é apenas um dos vários componentes da comunicação, e sequer é o mais importante. Muitos deficientes conseguem ler lábios, inclusive. É algo incrível e que eu acho que jamais seria capaz. Já tive um amigo surdo. Não era surdo total, ele escutava algo, mas não o suficiente para ajudá-lo a se comunicar. Ele sabia ler lábios e era fluente em linguagem de sinais e, assim, de alguma forma, nos comunicávamos. Uma vez viajei com ele. Ele dirigiu, lógico! Ele não tem problema nenhum para dirigir, desde que preste atenção no caminho. Estávamos em outra cidade, ele estava achando tudo muito divertido, ficava olhando para os lados o tempo todo, era noite, não adiantava gritar para avisar-lhe de nada (obviamente), e a rua estava vazia, mas era cheia de lombadas. Aquele dia foi louco.
E como eu disse, ele não era surdo total. Praticamente, mas não era total. Como a garota desse episódio, ele gostava de ouvir música. Li por aí que muitos surdos, mesmo não escutando nada, gostam de música mesmo assim – eles apenas sentem as vibrações que compõem a música. Literalmente, escutam pela pele. Então, eis que podemos concluir que surdos podem levar vidas perfeitamente normais. Podem até se divertir com as mesmas coisas que nós, como música e animes. E ainda assim precisam lidar com uma série de incômodos simplesmente porque ninguém realmente os entende. As pessoas ficam nervosas na hora de conversar. Os sistemas de transporte nem sempre estão preparados. Programas em nosso idioma são reproduzidos sem nenhuma legenda! E os transmitidos ao vivo, quando muito, têm aquele closed caption horroroso. Quem já comeu em restaurante ou praça de alimentação que tem TV, mas ela fica no mudo ou é apenas impossível de escutar mesmo e ficam com o closed caption ligado sabem do que estou falando. Você quer saber qual foi o novo escândalo que estourou no governo, mas a legenda vem toda entrecortada, e às vezes com palavras erradas. Agora imagine o que é viver em um mundo em que tudo está em closed caption, e com essa qualidade.
A pior situação possível é uma de emergência, como foi o caso da garota. Não, provavelmente não foi uma invasão alienígena. Mas ela não ouviu nada, não ficou sabendo de nada e, quando deu por si, já estava presa em escombros. Para ela, terremoto, vulcão, ataque de outro mundo, é tudo igualmente possível. Acredito que o sonho e a síndrome de bela adormecida tenham ocorrido durante a semana em que ela ficou soterrada, aliás. Há um problema nessa interpretação, eu sei: supostamente o Doutor Gato a encontrou no mundo real, entre um sonho e outro. Várias coisas podem explicar isso, ou talvez eu esteja errado sobre essa interpretação mesmo, mas isso não importa, não é o foco do episódio.
No final das contas, ela só queria desabafar. Esse monte de pequenas coisas acumulou e ela ultrapassou seu limite. Ela só queria que alguém a escutasse. Não era nem pra concordar ou discordar, não era para fazer nada, não era para ajudar, não era para a despertar, nada disso. Ela só queria um ouvido emprestado mesmo. O Haruto cumpriu bem esse papel. E de quebra parece que o episódio teve uns flashbacks do próprio Haruto, que podem explicar o que aconteceu com ele? Parece que ele sofreu todo tipo de maus-tratos, como se todo mundo o odiasse (ou pelo menos esse foi seu ponto de vista). Talvez ele não seja apenas uma entidade. Talvez ele acorde um dia.
Enfim, até semana que vem 😊