A amizade é uma conexão afetiva/emocional, por isso não é surpreende que uma pessoa que tropece constantemente em sua ansiedade social, falta de confiança e timidez possa relacionar-se com alguém espevitada, corajosa e sociável. Aoi Yukimura e Hinata Kuraue conheceram-se na escola primária, quando sobem uma montanha juntas pela primeira vez e prometem repetir a experiência. Porém, elas passam um período distantes, até se reencontrarem no ensino médio. Hinata, a expansiva, e Aoi, a acanhada, retomam a amizade que é fortalecida pelo montanhismo.

A terceira temporada é a que traz obstáculos ao convívio e desafios para a união entre elas. Amadurecer é um processo repleto de desejos, dúvidas e descompassos, há muitos enganos e frustrações envolvidos, mas também as fases de primícias e descobertas Aoi e Hinata estão crescendo e alguns ruídos são sentidos em sua relação. No entanto, Hinata internaliza o seu incômodo e Aoi não percebe os sinais de um afastamento que se instalou como ameaça, um fantasma silencioso.

E é justamente a falta de comunicação que leva o impasse, a tensão a um ponto em que o amadurecimento e a conquista da autoconfiança de Aoi são recebidos com medo por Hinata, o temor do afastamento, da ruptura. É um sentimento egoísta e compreensível. Aoi, que não tinha amigas na classe além de Hinata, começa a conversar e se divertir com três colegas. A partir de suas novas atividades, incentivadas por Hinata, o desencontro entre elas passa a ser constante. Elas fazem montanhismo em separado, ou com Kokona e Honoka Kurosaki, a aspirante à fotógrafa que ganha mais destaque nesta sessão, ou Aio vai ao karaokê com as estudantes que somente agora ela tem confiança para se aproximar.

Se a temporada 1 (2012, 12 episódios de 3 minutos) e a temporada 2 (2014, 24 episódios de 15 minutos aproximadamente) exploram de modo inspirador o significado da amizade, a terceira temporada, com direção de Yuusuke Yamamoto (NHK ni Youkoso! [2006]) e roteiro de Yamamoto e Kazuyuki Fudeyasu (Net-juu no Susume [2017]), baseado no mangá escrito e ilustrado por siro, publicado na revista Comic Earth Star (desde 2011), investe no crescimento pessoal, nos curtos-circuitos que ocorrem e nas direções que a incomunicabilidade pode tomar.

Mas, Yama no Susume é um slice of life relaxante, de garotas fofas positivas, independentes, amáveis e sinceras com seus sentimentos. Então, o incômodo, a angústia que até certo momento não encontra palavras para se pronunciar, não caminha para a divergência, mas para o aprendizado sobre si mesmo e o outro, que se sentir deslocado, ser um tanto egoísta e ter vontade de estar sempre ao lado de quem se gosta são desejos e emoções naturais.

No início da temporada, temos Aoi motivada para vencer o desafio de subir o Monte Fuji. Na temporada de 2014, ela não consegue chegar ao topo, o que a obriga a descer de volta ao alojamento em companhia de Kaede. Agora, sua autoconfiança e determinação estão a serviço da melhoria de seu condicionamento físico. Paralelamente, Aoi e as garotas passeiam por Tóquio e arredores subindo montanhas e consolidando sua amizade. Nesse ínterim, Aoi luta para superar sua ansiedade social, sempre com o incentivo de Hinata.

Algumas novas personagens surgem, e Aoi tem programas diferentes para fazer além do montanhismo. Os desencontros com Hinata, isto é, passeios que não são marcados devido a algum compromisso de Aoi, ou o fato de uma delas não querer parecer criança por não agir conforme às preferências dos adultos (sim, elas são competitivas e meio-teimosas).

O trabalho de Aoi em uma confeitaria, sua dedicação e trato com os clientes – uma superação de sua timidez inibidora –, atesta a mudança em sua interação pessoal. E é aí que o descompasso acontece. Hinata sente que Aoi se afasta, já que o seu crescimento e segurança (recém-adquirida) fazem-na conhecer novas atividades e sensações. A possiblidade de diversão se amplia, o mundo se expande.

A questão que a abala é a de que se é necessário que façam tudo juntas. E, nessa dúvida, o não dito se torna desencontro. Aoi não percebe o distanciamento de Hinata, que interpreta as descobertas da amiga como um afastamento que se anuncia.

Yama no Susume trata com leveza o desconforto causado pelo impasse advindo de um diálogo que inadvertidamente se adia. Os sentimentos são críveis e a maneira como são descritos munem cada vez mais as garotas de elementos que são capazes de despertar não apenas interesse como afeto por elas.

E o elenco é uma das principais qualidades de Yama no Susume. A dupla central retoma uma amizade, e os vínculo que as une renasce e se consolidada por um entendimento que, ao mesmo tempo, sensível e brincalhão. E essa indisposição não verbalizada – e resolvida da maneira mais bela possível e no lugar mais apropriado, ou seja, em um monte – compõe o árduo e fascinante destino de todos nós, que é o de amadurecer.

Infelizmente, Kaede Saitou e Kokona Aoba não têm tanto espaço como na temporada antecessora. Mas a participação delas é bastante relevante, já que trazem algo relacionado ao crescimento individual e laços de amizade.

Kaede Saitou estuda para o vestibular. Ela é a senpai do grupo, e está escolher uma profissão e sua dedicação é inspirada. Kaede tem ajuda de sua melhor amiga, Yuuka Sasahara, que é rigorosa, controlando os momentos de falta de concentração e o desejo de subir montanhas. Kaede e Yuuka formam outra dupla de forte ligação. E como Kaede é a mais experiente entre as aventureiras, cabe a ela um quadro em que explica de maneira didática sobre equipamentos, formas seguras de escalada, descrições das montanhas e pontos turísticos e um pouco de história. É uma quebra interessante, já que mantém o show em seu curso e é aprazível.

Já Kokona é a mais meiga, tranquila e sonhadora do grupo, além de não temer revelar seus gostos esquisitos e sua fofura, haja visto que adora de esquilos a fadas. E, além disso, há a relação com a sua mãe, que nos mostra mulheres que se apoiam e são independentes.

Honoka Kurosaki convida Aoi para visitar a província de Gunma, situada ao norte da região de Kanto. Elas sobem os 365 degraus das escadas de Ikaho, fotografam e brincam (em companhia de Hinata e Kokona) de se vestir de princesas no Castelo Lock Heart. Honoka continua uma garota séria e tímida, mas a temporada apresenta uma nova faceta sua, ligada à relação com o irmão. Ela tem vergonha dele e o rapaz recorda como eles eram unidos anteriormente e Honoka vivia o perseguindo. A presença do nii-san causa fastio nos episódios finais, já que a anedota não acrescenta muito coisa ao desenvolvimento de Honoka.

Yama no Susume tem personagens encantadores e a força motriz é a amizade engendrada entre elas que é cultivada com carinho e sinceridade. Outro destaque é o humor, principalmente as brigas por coisas insignificantes de Aio e Hinata. As sequências são engraçadas, geralmente com Aoi tentando emular a amiga em algo que ela considera que Hinata seja melhor ou mais “adulta”.

A trilha sonora é agradável, com composições variadas que embalam diversão no karaokê ou escaladas.  A animação impressiona, com o visual das montanhas e os pontos turísticos, verdadeiros cartões-postais do Japão. A arte das personagens é adorável, o seu design é simples, mas bem detalhado.

Como a terceira temporada se concentra no desenvolvimento de suas personagens principais, o desafio para a eventual quarta temporada será a escalada do Monte Fuji, que certamente todas participarão para incentivar Aoi. Algo que Yama no Susume não evita são os conflitos, com o insucesso de Aoi na subida do Fuji na temporada anterior e a falta de comunicação entre Hinata e Aoi nessa quarta sessão.

Yama no Susume traz lições de vida e a valorização de amizades, que eles aprendem, consolidam e reforçam em suas jornadas. As montanhistas são o retrato de garotas aventureiras e independentes, que se apoiam e estão sempre prontas para uma nova proeza, para conhecer uma montanha e se autoconhecer, tudo isso embalada em diversão e relaxamento para o público.