Fugou Keiji: Balance: Unlimited – ep 10 e 11 final – O que é justiça?
Apesar de existir um senso comum do que é, a justiça em si é um conceito muito relativo, já que cada indivíduo a interpreta de um modo que preencha o seu idealismo. Até que ponto uma intenção supostamente positiva representa uma causa nobre, capaz de justificar qualquer ato absurdo ou extremo?
Pois bem, eis que esse final nos traz essa questão, além de é claro, muita bagunça, ação, destruição e a diversão, que é a marca da dupla de detetives mais querida da temporada.
O décimo episódio assim como se esperava, envolve toda uma esquemática apenas para que vilões e heróis se encurralem, de modo que o confronto final seja mais tenso e no caso, ele ainda serviu de ponte para mostrar uma evolução no Katou.
Diante daquela situação de risco em que o Kambe estava metido, imaginei que talvez ele tivesse uma reação mais imediata, no sentido de que a emergência realmente exigia. Diferente do assalto em que ele sentia a inocência do garoto e hesitava em atirar, ali não havia um inocente, mas um bandido declarado.
Ele achou um caminho secundário e deu um jeito ainda fugindo do que precisava vencer, só que como ele precisava mostrar essa superação, a história se encarregou de dar uma segunda oportunidade, na qual ele pudesse mostrar que o seu trauma estava abaixo de qualquer determinação.
Acredito que a ideia aqui tenha sido mostrar que a ligação entre os dois cresceu, a ponto de algumas poucas e importantes palavras, serem o suficiente para estabilizar a auto confiança perdida. No fundo penso que o policial já tinha as ferramentas necessárias, mas ele precisava de um amigo que fosse o gatilho final para ele sair de vez da bolha, assim como o Hoshino disse sobre o Kambe.
No meio dessa ação e tensão constante, um elemento bem interessante que permeou o episódio, foram alguns momentos inesperados e sutis de comédia, inseridos com precisão nas cenas, sendo esses calcados na boa e velha dinâmica de embate e desacordo entre a dupla incomum – não existe uma sobreposição de tons, eles se complementam mérito da ótima direção que o anime tem, não deixando os tons se perderem.
Agora me perguntem, no final qual é a do Shigemaru Kambe? O episódio 11 nos traz a resposta. O Kambe foi cobrar a responsabilidade do pai, apenas para ser surpreendido por uma resposta infeliz em vários sentidos.
Primeiramente, achei bem legal o fato de terem explicado toda a história do Kambe até chegar no Japão e na Crimes Modernos, porque ao menos deixaram claro que ele não foi ali em vão. Se a questão era só investigar a morte da mãe, ele poderia fazer isso de qualquer canto e em qualquer setor da polícia, mas ele foi direcionado a aquelas pessoas, por serem exatamente as que fizeram parte daquilo.
Minha única chateação é que não tivemos a oportunidade de descobrir quem o enviou para lá, nem mesmo uma pista. Por um instante achei que pudesse ter sido o próprio Shigemaru com suas razões pessoais – e talvez seja -, mas isso nós nunca vamos saber, então sigamos com o que temos.
O patriarca da poderosa família nada mais é que um homem infeliz, vítima do seu próprio dinheiro e poder. Como eu já previa o assassino era apenas uma cópia falsa sua, agindo sob ordens de alguém que eu já desconfiava, mas não sabia o quanto estava envolvida na lama.
Sinceramente aquela velha me chocou com tamanha frieza, principalmente porque tudo se tratava da família dela. É engraçado pensar que ela se coloca na condição de uma pessoa sábia e que agiu pensando no bem da humanidade, quando na verdade o que ela transmite é a visão de uma mulher gananciosa que apenas teme dividir o poder com outros.
Segundo ela o adollium pesquisado poderia servir como uma nova arma de guerra e por isso a humanidade não estaria pronta para esse poder – que deveria se concentrar na mão dos Kambe, claro -, mas isso justifica ela ter silenciado daquele jeito a própria família?
Mesmo se estivesse certa quanto a maturidade humana, o que mais a torna cruel é que ela criou muitas razões pessoais, mas em momento nenhum ela pensou no filho ou no próprio neto, ambos foram arrastados pelas escolhas dela e consequentemente prejudicados. Daisuke cresceu sem os pais, sozinho e a sombra de ser o filho de um assassino, enquanto o outro estava limpo, sem condições de provar e debilitado pelo ocorrido.
Fiquei satisfeito que ao final ela e seu serviçal pagaram pelos erros – com direito a uma cena bem legal entre o Katou e o assassino -, no que achei cínico da parte dela ainda tentar se safar da justiça, usando como escudo o sangue da família, a influência e a idade avançada. Se nada disso pesaria normalmente, porque valeria agora, quando seu único aliado teve a confiança nela completamente destruída?
Enfim, se por esse motivo saí contente, não posso dizer o mesmo do verdadeiro Shigemaru, porque mesmo depois de ter sido encontrado pelo filho, esse não teve oportunidade de encará-lo devidamente – o que eu queria, depois de tanta tristeza do lado deles.
Acredito que mesmo com os traumas físicos e psicológicos, talvez a presença dele o ajudasse de alguma forma, já que o sentimento dele para com o rapaz é genuíno, mas como não pudemos ver isso, eu gosto de pensar que no futuro dessa história, ele consiga reaver o que lhe sobrou de mais importante – assim como o próprio Daisuke.
Com a missão cumprida, o milionário e Katou voltam as suas origens junto a Crimes Modernos – que ganhou um upgrade bem legal da HEUSC – e cada figura importante nessa cruzada, saiu recompensada conforme a sua semeadura, com os minutos finais nos entregando a parte mais legal e que simplesmente fecha com chave de ouro toda a jornada.
Para quem lembra, no começo de tudo nos apresentaram dois homens que se antagonizavam, mas estavam obrigados a se engolirem e trabalhar juntos. Agora temos dois parceiros que se antagonizam, mas optam por se aceitarem e trabalhar juntos – isso debaixo de uma releitura da maravilhosa cena da ponte.
Eles mudaram e evoluíram com as experiências vividas? Com certeza e disso não há dúvida, mas a essência do que eles são juntos, não se perdeu no processo, daí esse momento ser tão emblemático.
No fim Fugou Keiji mostrou que do seu jeito era mais do que transperecia, saindo de uma comédia policial com um rico exagerado e um herói pobre, para uma história divertida que nas entrelinhas tocava na importância dos valores e da moral humana.
Talvez não seja o melhor exemplo já visto do gênero, mas certamente foi um anime especial que soube ser consistente, eficaz e mesmo surpreendente na sua proposta, do primeiro ao último segundo.
Agradeço a quem leu e nos vemos na próxima!