Ushio to Tora – ep 36 – A chama mais quente
A guerra contra Hakumen no Mono ainda não atingiu seu ápice mas todas as tropas já estão em campo. Bom, quase todas: o Tora ainda não se recuperou, mas creio que isso ocorrerá no próximo episódio. A Lança da Besta já se restaurou – sozinha – e Ushio a empunhou e removeu dela o seu limitador. Ele está disposto a ir até as últimas consequências. Os youkais estão lutando a boa luta e oferecendo o apoio necessário. Os monges se posicionaram estrategicamente e eles, junto com as guardiãs (a mãe do Ushio e a Mayuko) estão mantendo o Hakumen preso na mais poderosa barreira que jamais foram capazes de conjurar. Outra que deu sua contribuição para a barreira foi a antiga líder da Seita Kouhamei, falecida mas cuja alma pôde voltar para o mundo dos vivos uma vez mais graças à um portal aberto pela Saya. Os mortos nas ilhas japonesas devem se contar aos milhões ou no mínimo centenas de milhares (para comparação: contam-se em cerca de 30 mil os mortos e desaparecidos na morte que veio do mar no Grande Terremoto de Tohoku em 2011, que atingiu apenas a linha costeira de uma região do Japão medianamente povoada). Entre tantas mortes trágicas, as forças que se opõe ao Hakumen no Mono não temem a sua própria morte. Heroica.
Hyou nunca temeu a própria morte. Não desde que a tragédia o acometeu e ele partiu em missão inegociável de vingança. Estudou tudo o que pôde sobre exorcismo para caçar o monstro em forma de tigre que matou sua esposa e filha e que, para não deixar que esquecesse jamais disso, deixou-lhe uma cicatriz enorme no rosto. Por muitos anos sua busca foi infrutífera. Ele sempre foi uma pessoa amargurada e solitária, um cadáver que foi proibido de morrer naquele dia fatídico. Sim, porque o ódio dele não era apenas por sua família ter sido morta, mas por ele ter sido poupado: preferiria ter morrido junto com elas. Se não fosse para morrer, sem dúvida preferiria pelo menos não ter sido zombado com uma marca para que jamais se esquecesse de que chegou tarde demais em casa naquela noite amaldiçoada. Por tudo isso ele odiava aquela criatura.
E por muitos anos ódio era tudo o que Hyou foi. Procurou pela criatura na China e depois foi até o Japão, ouvindo rumores de que estaria lá. Eventualmente ele encontrou Tora, e a semelhança o fez acreditar que tinha enfim encontrado seu arqui-inimigo. Os dois batalharam e ter descoberto que Tora não poderia ser quem procurava foi sem dúvida muito mais frustrante do que teria sido ser derrotado. Ele se preparou por anos por aquele encontro e no final foi apenas um alarme falso. Hyou continuava sem pistas do paradeiro do monstro que matou sua família. Enquanto isso uma crise muito maior estava sendo gestada nas sombras.
É de certa forma curioso como a Seita Kouhamei e o governo japonês não tentaram buscar a ajuda de outros exorcistas e especialistas em momento algum, não é? Ok, o governo buscou o Instituto Hammr, mas foi só isso. Tenho certeza que há dezenas, centenas, talvez milhares de exorcistas talentosos no mundo e que poderiam ajudar em uma crise que sem dúvida é de escala planetária. O departamento de relações públicas da Seita Kouhamei é bem ruinzinho. Talvez por não existir, suponho. Até dada altura da série poder-se-ia perdoá-los porque ainda não era certeza que o Hakumen despertaria, afinal ele já estava adormecido há muitos séculos, mas em algum momento perto do final da primeira temporada eles deveriam ter começado a desconfiar que talvez a hora havia chegado. E porque falo tudo isso? Bom, o Hyou era um exorcista poderoso que estava ali passeando pelo Japão e nunca foi abordado.
Não que eu ache que ele realmente se importaria. O destino aqui pregou uma peça em todos e o fantasma que Hyou perseguiu durante anos se revelou um aliado de Hakumen no Mono: Guren, o Azafuse Negro. Não acredito que Hyou fosse insensível ao sofrimento alheio, com essa história de um mal ancestral despertando e queimando a terra, despejando a morte e enchendo os corações das pessoas de desespero, mas fato inquestionável é que o que ele buscava, antes de qualquer outra coisa, era sua própria vingança pessoal. Mais ou menos como Ushio antes da lança se espatifar, o único sentimento que o movia era o ódio. Em sua primeira e inconclusiva luta contra Guren ficou claro que o azafuse era muito mais poderoso do que ele, que suas chances de vitória eram basicamente inexistentes.
Quem chegou tão longe contudo jamais desistiria por algo tão pequeno quanto o impossível. Mesmo que tudo o que ele tivesse fosse ódio, ele queria encontrar um caminho, uma forma, um meio de vencer. Me pergunto, contudo, se ele teria sido capaz de vencer se as circunstâncias tivessem sido diferentes das desse episódio. Ele finalmente derrotou Guren usando um último golpe extremamente arriscado que, dando certo ou não, era garantido que lhe tiraria a própria vida. Teria ele tamanha determinação movido apenas por ódio? Ele conseguiria correr o risco de uma morte em vão apenas para aplacar sua própria ira? A mãe e a filha que ele encontrou ali lembraram ele de algo que ele havia esquecido há muito tempo. Sentimentos humanos com os quais ele não tinha contato há anos. Hyou não pôde proteger sua família, mas se havia uma chance, pequena que fosse, de que pudesse proteger essa mãe e essa filha, essa família disfuncional, que havia acabado de perder seu pai mas que ainda estava viva, ainda sentia medo e tristeza, ainda tinha sangue pulsando nas veias, então ele deveria protegê-las.
Desde que Guren matou sua família Hyou inflamou-se e correu o mundo como fogo descontrolado. Mas sua chama, por grande e assustadora que fosse, era fria, vacilante. Incompleta. Encontrar essa família transformou sua vida e suas chamas que eram vermelhas e descontroladas ficaram azuis e serenas. Mais quente do que nunca, esse fogo alimentado pela própria vida de Hyou queimou o mal até as cinzas. Ele não poderia ter partido em paz se tivesse sido diferente, tivesse ou não conquistado sua vingança. Seu sacrifício abnegado servirá de exemplo para todos os mais que lutam pelo Bem. Com muitos anos de atraso, Hyou voltou para sua casa.
Kondou-san
Este episódio foi épico, às vezes perplexo como este anime tem personagens secundários excelentes e a suas histórias são sempre boas, é por isso que digo que só se fez bons battle shounens nos anos 90. O Hyou foi um senhor personagem, apareceu pouco na primeira temporada, mas compensou na segunda, logo agora que o Hyou estava tão próximo do Ushio, mas a sede de vingança dele falou mais alto (se bem que ele morreu para salvar as duas pessoas). As cenas finais do Hyou foram nota 10, a forma de falar sentida (o seyuu está de parabéns), a fluidez da animação estava épica e a batalha também esteve muito boa. Aquela última cena onde o Hyou depois de derrotar o monstro que lhe matou a família foi muito triste, ele a ter o flashback da sua mulher e da sua filha foi demais quase chorei, mas acho que o Hyou queria ter passado mais um pouco com o Ushio e o Tora, mas finalmente ele pôde regressar para junto da sua família (ainda não me esqueci da cena do brinquedo que ele ia dar para a sua filha foi triste demais). Ainda fico admirado como o estúdio que anima este anime épico, não tem tantos trabalhos como os outros, a qualidade técnica deles é muito boa.
Como sempre uma excelente matéria.
Fábio "Mexicano" Godoy
Acredito que o mangá desenvolva muito mais boa parte de seu enorme elenco, mas o anime tenta contar uma enorme história de forma sintética. Para você ter ideia do quão sintético o anime é, gosto de comparar com Yu Yu Hakusho, cujo mangá começou no mesmo ano, com alguns meses de diferença: YuYu teve seus 19 volumes (175 capítulos) adaptados em um anime de 112 episódios. Ushio terá seus 33 volumes (313 capítulos) adaptados em um anime de apenas 39 episódios. Ainda assim, sem dúvida o MAPPA está fazendo um trabalho excepcional mantendo a essência da obra sem deixar de desenvolver os detalhes importantes.